quinta-feira, dezembro 08, 2005

Se joga bee, arrasa!

Deve ter algum significado que só eu não entendi, mas qualé o lance desse pessoal da moda com a língua portuguesa? Será que eles são um tipo de maçonaria com hábitos, uniformes e linguajar próprios, ou talvez um grupo separatista revolucionário que deseja aniquilar as hostes de nossa sociedade começando pela língua falada? Aposto que há mais muito mais por trás do gosto musical reprovável, dos hábitos estranhos e do visual de gosto duvidoso que nosso intelecto é capaz de compreender.
Ou vai me dizer que quando um moçoilo todo proza diz que: " o interessante é brincar com essa coisa da estrutura mesmo, desses tecidos molinhos que tão super em voga. Joga um preto e vai!" você entende alguma coisa? Olha rapaziada, sem querer ser chato, mas gatinha se escreve com i e não com três e. E quem é a tal de bi a quem eles se referem a cada três palavras? É uma coisa, é um lugar bacana em que a gente não pode ir? Vem cá, se me chamarem de bi, é pra agradecer?

Pode ser paranóia, mas pelo sim, pelo não, quando em alguma incursão pela noite alguém gritar em sua direção: "Luxo! Adoro! Arrasa, bi! Se jogaaaa!", jogue-se você no chão com as mãos sobre a cabeça! Pode ser uma ordem codificada para que algum fashionista irado venha cortar sua garganta.

Procrastinate, it can't wait... let's start today!

Por que toda pessoa com uma atividade moderninha trata seu passatempo como "trabalho"? Mano, trabalho é empilhar caixa no CEASA! Desenhar bonequinho, fazer camiseta, filmar seus amigos com a super-8 do seu pai e rabiscar o couro dos outros tem um nome diferente na minha terra. Isso é descupa de vagabundos que, diferentemente desse vagabundo aqui, têm vergonha de sua posição na sociedade. Vamos aceitar, a revolução já começou e ela se chama Procrastinação! Vagabundos do mundo, unite and take over. Não sintam vergonha da sua condição, não há mais necessidade de procurar subterfúgios e se esconder sob a pecha de designers, estilistas, video-makers, modelos, animadores ou jornalista free lancer. Não mais precisamos viver envergonhados em guetos pagos por nossos pais! Pau no cu desse sistema de workaholics e cidadãos responsáveis, é o que lhes digo.


Em nota paralela, a I Parada do Orgulho Vagabundo prevista para acontecer no último sábado, simplesmente não rolou. Todo mundo acordou tarde, bateu preguiça e os manifestantes preferiram passar a tarde baixando música no soulseek.

segunda-feira, julho 04, 2005

Noventa milhões em ação

Assunto bem em voga nesses tempos de conquistas em terras germânicas é o futebol. Como somos uma força da natureza quando o tema é futebol. Como nosso vizinhos são obrigados a se curvar frente à força atávica da nossa habilidade com a pelota. Ninguém segura os jogadores do Brasil!
Bacana, mas somos um país de monoculturas, sempre fomos e sempre vamos ser. E o futebol é o café dos esporte nacionais! Não adianta o Rubinho Barrichello dar sambadinha ou o Guga ser campeão de um torneio que metade das pessoas aqui nem sabe dizer o nome. O Scheidt podia até acreditar que a medalha dele ia impulsionar o popularíssimo esporte da vela no Brasil, mas eu não vi nenhum menino colocando um caixote de maçã na enseada de Botafogo e tentando vencer o mar bravio.
E afinal de contas, se nem o futebol daqui é lá essas coisas, quem é que vai se dispôr a torcer por qualquer outro esporte coletivo... Tipo assim, o vôlei?! Quer coisa mais patética que um torcedor de vôlei? Ou você conhece outro tipo mais patético que alguém que torce por um timeco fuleiro, montado às pressas e que no fim das contas ganha o nome do patrocinador? É sério, eu me recuso terminantemente a reconhecer um esporte onde o maior clássico é disputado entre uma marca de leite condensado e uma de desodorante!
E quer saber, grandes merdas ser o país de um esporte onde o melhor pode perder até pra Noruega, que é o país do bacalhau!

sexta-feira, maio 27, 2005

Você tem que se aceitar... Aceitar que você não é linda como eu!

A apresentadora super-moderna estica-se lânguida sobre o divã estilizado e tenta uma careta bem sexy, bem no clima do programa. Ela mal consegue respirar com o espartilho que esmaga seus portentosos peitos recém-comprados. O diretor faz sinal que vai entrar uma ligação e ela se prepara sorridente para resolver a dúvida do adolescente afoito. Sexo na TV, um puta avanço!

- Ooooi? Qual seu nome? - Indaga a apresentadora criando um clima bem descontraído, bem “papo de amiga”, como frisou o diretor.
Carrrla - responde a voz do outro lado com sotaque bem paulistano.
-E aí Carlinha...Posso te chamar de Carlinha, né gata? O que que tá pegando?- Quer saber a apresentadora, fazendo uso de todo seu vocabulário técnico.
-Aiiii Pê (a menina também quer ser íntima da apresentadora), o “pobrema” é o meu namorado, o Jefferson.
- O pirú dele é pequeno? Interessa-se a apresentadora.
- Não é que...
- Então é muito grande? Noossa, pára tudo! É muito grande! O namorado dela tem um pirú gi-ga-nte! – Berra a agora animadíssima apresentadora, enquanto o gerador de caracteres exibe eletronicamente abaixo do divã a frase: “Eu não agüento a jeba do meu namorado”.
- Não é nada disso - diz a adolescente problemática cortando o clima da apresentadora. - Ele me acha... Ele diz que eu sou muito gorda...


“ Sou balofa e meu namorado me odeia!”, exibe o gerador de caracteres com um sintetismo invejável.
- Pô Carlinha, mas o importante é se aceitar como a gente é!
- Eu tenho um metro e sessenta e peso 93 quilos, Pê! - choraminga a menina
- Mas isso é lindo!- responde a dublê de VJ e sexóloga. - Todo mundo é lindo do jeito que é!
- Pê, mas se todo mundo é lindo do jeito que é, por que você fez lipoaspiração, colocou silicone e mudou seu nariz? - quer saber a (cada vez mais) confusa adolescente mal-amada.
- Eu fiz isso pra mostrar que ninguém é melhor porque emagrece e posa para a capa da Playboy - conta a apresentadora que escancarou sua ideologia num pôster duplo na Playboy do mês passado.
- Mas se todo mundo é bonito do jeito que é e você quis mostrar isso para a sociedade, não seria mais simples não ter colocado silicone, Pê?
- Eu quis mostrar que posso ser contra a padronização da estética e ter silicone! Acho importante ter alguém que defenda pessoas como você, amiga! Existe aí fora um monte de gente que é rolha-de-poço, caolha, puxa de uma perna... E essas pessoas são belas! Você é linda, Carlinha!!!
- Mas por que você precisou fazer todas essas plásticas, Pê?
- Olha, é que para nós que estamos na TV é muito complicado. Eu não queria ter que ficar assim, mas a pressão é enorme, você nem imagina! Você tem sorte porque pode se aceitar balofa como é, eu não! - responde lacrimosa a VJ, uma incompreendida.


Porque o que a pobre adolescente não conseguia enxergar era que que sua VJ preferida, na verdade, era vítima de um complô cruel que obrigava as mulheres a ficarem belas contra sua vontade. Uma verdadeira tortura onde todos eram culpados, principalmente o namorado dela.
- Mas você não tava lutando justamente contra isso, Pê? - Insiste Carlinha.
- Olha só queridinha, nosso tempo tá acabando... Você não quer pedir um clipe, não?
- Eu queria resolver meu problema, Pê... Me sinto tão mal...
- Vamos ver um clipe da Britney Spears?
- Mas eu nem gosto da Britney Spears!
...

- É isso aí, problema resolvido! No próximo bloco eu vou ensinar como uma virgem pode fazer sexo anal sem doer. Não sai daí, tá? - E despede-se com um beijinho sexy a apresentadora siliconada, uma verdadeira guerreira contra o falocêntrico mundo da padronização estética feminina.

sábado, maio 21, 2005

Juro que pensei nisso antes

Por que todo esse encândalo em cima do Michael Jackson? Não estou entrando nos méritos do gosto sexual do Peter Pan da black music, mas porque essa preocupação com o fato dele ter ficado branco? Ora, do Ziraldo que nasceu branco e ficou preto depois de velho (e segue impávido em seu caminho para se transformar num preto véio mineiro), ninguém enche o saco!

(Ok, admito, essa piada não é nova. O Jô Soares, os caras do Casseta & Planeta e mais um bando de gente já falou sobre isso. Nem sei se é ainda engraçado. Mas eu pensei nela antes...)

sexta-feira, maio 20, 2005

Só entende quem é insone

É impressão minha ou toda e qualquer hora em que você sintoniza no Warner Channel está passando uma reprise de Gilmore Girls?

Eu desconfio que o canal da Warner até tenha uma programação, mas eles só exibem quando ninguém está assistindo. Às vezes eu tento enganar minha tv à cabo e coloco num canal inóspito, como aquele que vende tapetes. Daí então, como quem não quer nada, mudo para a Warner. Ágil e inesperado como um ataque de cascavel... De nada adianta, as meninas Gilmore estão sempre lá, impávidas, tomando um cafézinho e discutindo não sei o quê!

Por duas vezes tive a impressão de captar um risinho sarcástico da mais nova. Aposto que ela pensava " Há, você pensou que nós não estávamos preparadas?"

quarta-feira, maio 04, 2005

Não Estamos Nessa Sozinhos ou Eu também Sei Ser Sério

Existem situações em que nossas crenças são reafirmadas, ocasiões e momentos em que as palavras colidem com as ações e o resultado é a renovação daquilo que nos move e nos mantêm firmes. Ontem foi um desses dias para mim. Eu já vi tantas bandas tocarem que nem me lembro mais, já fui tocado pela mensagem e pela intensidade de diversos shows, mas nada comparável à combinação de energia, raiva e verdade do show de ontem do Confronto.

Todo show do Confronto em São Paulo me parece cercado de uma espécie de clima de expectativa e o show de ontem, em especial, transbordava esse clima. Os olhos espreitavam, à espera da queda, da comprovação da causa mortis. Mas a comprovação não veio, ou melhor, veio. Mas a morte do monopólio, da arrogância que insiste em tomar para si o que não é seu. Ali, éramos todos bem-vindos.


Ao primeiro acorde o impacto da banda já podia ser sentido. O Confronto não é um decalque de uma performance radical importada, o que esses quatro homens pobres representam é mais que uma atitude inócua. Eles são iguais à maioria de meninos e meninas pobres ou ricos, negros ou brancos, que estavam ali com eles e não por eles. Sem obsessão, sem dependência, sem ilusão e sem fraqueza. Pessoas inteligentes o bastante para saber que o veneno que nos é imposto pode apresentar-se de diversas formas. Inteligentes o bastante para sabe-lo e recusa-lo.

Quando o show terminou, a impressão reinante era de que o hardcore straight edge é mais que uma competição para mostrar quem pode mais. Nunca foi sobre ganhar ou perder, sobre comandar ou aceitar ser comandado. A essência está em tomar o palco e se sentir um igual, não importando sua história ou sua idade. Ontem eu novamente senti, de forma emocionante, o que é compartilhar algo genuíno com milhares de conhecidos e desconhecidos. A sensação de que, quando a banda fala, eu sei que ela fala para mim e por mim. A certeza de que somos fortes e, mesmos sós, carregamos conosco a chama modificadora que nos une e nos protege. Esse é o meu mosh.

domingo, abril 03, 2005

Interrompemos esse programa para uma palavra dos nossos patrocinadores

"Pô cara, vai ficar aí, espremendo o rosto, na frente do espelho, arrancando espinhas? Depois vai ficar com a cara toda feia, inchada... Faz um favor pra nós dois? Vá pra rua e dê um jeito nesse povinho bunda!"

Contra cravos, espinhas, gays, negros, judeus e minorias em geral- ACNAZI!

ACNAZI- porque você tem espinhas, e alguém tem que pagar por isso!

domingo, março 27, 2005

Para tamanhos grandes

A falta de opções que nos são dadas é realmente deprimente. Vejam esse menino gordo que estreou em Malhação, por exemplo. Não interessa o que faz seu personagem na trama da novelinha adolescente (provavelmente enche os cornos de comida), o importante é o seu nome... Não, eu não sei qual o nome da adiposa figura, mas posso apostar que termina em ão. Porque é isso, gordo nesse país é sempre chamado ou de Bola ou tem acrescido ao nome o sufixo ão. Tem também aqueles que ganham o apelido de Miudinho, mas aí é deboche, já é outra estória...

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Laranjinha & Acerola contra a temível inclusão social

Kátia Lundi, diretora de vídeo-clipes e assistente de direção do maior sucesso do cinema-favela, "Cidade De Deus", está empenhada em um projeto junto a Rede Globo para a inclusão de outros promissores talentos vindos do grupo Nós do Morro. A abnegada diretora pretende minar o preconceito com que esses jovens atores são encarados lhes dando oportunidade de atuar em diversas áreas do cinema e da tv, acabando, dessa forma, com a diferença social. "Estou fazendo minha parte" diz ela.

E o projeto já está dando frutos. Fulaninha de tal, a mocinha do filme, foi convidada para fazer uma ponta no seriado "A Diarista" como uma faxineira atrapalhada. Johnatan Hagëen-Daaz, o traficante Gomalina da badalada película, já tem papel de destaque garantido na próxima minissérie da Rede Globo. Ele será um escravo, filho de Neusa Borges na trama. Mas é o protagonista de "Cidade De Deus", porém, quem tem planos mais ambiciosos. Sicrano receberá ajuda de Regina Casé para dirigir uma filme sobre os traficantes de drogas do morro do Vidigal.

Regina é outra que mergulhou de cabeça no projeto de inclusão artístico-social. A paquidérmica comediante pretende aproximar a rapaziada do asfalto e a galera do morro na festa de aniversário de sua filha. O tema da festinha desse ano será "churrasco na lage" e toda a trupe do grupo de atores já foi convidada...Mas vai ter que subir pelo de serviço.


Aliás e a propósito, por que todo personagem negro de qualquer novela, seriado ou minissérie da Globo é sempre batizado com nomes referenciais e/ou étnicos? É uma quantidade de Zulus, Zumbis, Ébanos, Pretas, Pelézinhos, Núbios, Morenas, Pardim, Chocolates, Grafites, Nankim (naquim!!! Quem dá nome de tinta prum filho, porra?!), que faz você pensar que, caso um dia um negro chamado Luiz Henrique seja apresentado ao Antonio Calmon, ele vai achar que é pegadinha!

domingo, fevereiro 20, 2005

É que a televisão me deixou burro, muito burro demais- parte II

E em um programa noturno de entrevistas na tv a cabo feito pela Marília Gabriela e com cenários assinados pelo Gringo Cardia (aliás, tenho a impressão que todos os programas de entrevistas em canais a cabo são capitaneados pela Marília Gabriela e tem cenários de Gringo Cardia) não é que quem está ali, resplandecente, é nossa grande Verinha, a heroína da novela das sete?! Você quase não acredita, mas decide sentar e terminar o sanduíche entretendo-se com o dedo de prosa das duas comadres televisivas. Por pura falta de sorte você perdeu a parte mais substancial da entrevista, restando contentar-se com um “bate-bola, jogo rápido”.
O enquadramento é fechado, o rosto das duas está tão próximo que você tem a nítida impressão que, caso a pobre Verinha dê uma resposta que não agrade a entrevistadora, Marília Gabriela vai arrancar um naco de seu nariz a dentadas. Fica a dúvida se o enquadramento é uma opção estética ou, pura e simplesmente, falta de outra câmera de tv.
Marília fuzila a entrevistada:
- Vida?
- ...É bela
- Morte?
- Passagem.
- Uma passagem?
- De ida e volta, please!
- Uma volta?
- Hummm, essa é difícil. Posso pensar? Ah, de pedalinho em Paquetá!
- Uma frase?
- Abre aspas, meu pipi no seu popô, fecha aspas. É do Roger, do Ultraje.
- Um ultraje?
- Eu comia meleca, admito.
- Uma palavra.
- Paz.
- Uma sílaba...
- Bu. De bumerangue!
- Uma vogal.
- Z!
- Z não é vogal. Você comeu alho hoje, né?
- Comi, como você sabe?
- ...E não escovou os dentes!
- Nossa, você sabe tudo de mim, meu deus?! Marília, você é genial!

É que a televisão me deixou burro, muito burro demais

Você acorda, caminha tateando o corredor até chegar à sala, com os olhos ainda um pouco embaçados pelo sono ou cheios de remela. Refastela-se no sofá, as pernas abertas, uma das mãos no meio das pernas coçando o saco. Estica a mão que está livre, aperta o botão do controle remoto... Lá está! Você, ainda zonzo de sono, não consegue distinguir o programa. É o Gugu ou o Leão, o Ratinho ou o Faustão, o Raul Gil, o Sílvio Santos...Não, não, o Sílvio Santos não é! Pode ser aquele menino de São Paulo que casou com a Angélica, mas ora bolas, quem se importa?
Você levanta, pega um copo de água e quando senta novamente no sofá, o corpo já um pouco menos dormente, percebe que o programa é uma espécie de concurso. Três pobres infelizes que estão ali você não sabe se para empilhar caixotes, assobiar “brasileirinho” com uma folha de bananeira, imitar o presidente ou engolir seis ovos inteiros de uma vez, perfilados, aguardando o voto de uma banca de jurados. O interessante é que ali para julgar os feitos incríveis dessa patota estão o que, para a produção do programa, devem ser as mentes mais abalizadas no assunto, três jovens atrizes da casa.
Enquanto os três “competidores” fritam sob o sol (o programa é gravado numa arena montada ao ar livre) o comunicativo apresentador decide saber um pouco da vida profissional de Cris Jana, a Verinha da novela das sete e jurada número um.
- E aí Cris, como está sendo interpretar a Verinha, esse sucessão enorme na novela das sete?

A jovem atriz, um primor da criatividade, sorri, aperta os olhinhos e dispara:
- Nossa, a Verinha é um preseeente do Tony! diz, exultante. – Tá sendo delicioso de fazer!
- Super bacana! E como é trabalhar com um monstro sagrado como o Lula Cortês?
- Poxa, o Lula...Nossa, é uma aula contracenar com o Lulinha!!! Eu agradeço muito porque pra mim, assim...Eu tô aprendendo muito, sabe? Acho que todo ator não pode parar de estudar e eu tenho muito que aprender e também...
Você se levanta meio enjoado, caminha até a janela e cospe. Coça a bunda e decidi se masturbar e quem sabe voltar a dormir por toda à tarde. Se dirige para o seu quarto não antes de ouvir a jurada número dois, outra jovem atriz da casa recentemente no ar numa minissérie de época:

- Antes de dar meu voto, posso anunciar que eu tô com uma peça bárbara ali no shopping?

sábado, janeiro 29, 2005

Um texto antigo, nada original e meio pernóstico sobre dirigir

Me falaram que escrever é terapêutico...Mentira! Escrever não é uma terapia, não é catártico e nem ao menos analgésico. As pautas da folha em branco só aumentam minha ansiedade e eu não consigo concatenar meus pensamentos de frente para a tela sempre brilhante de um computador. O que funciona para mim é andar. Rápido. A noventa quilômetros por hora em média, os pensamentos fluem com maior facilidade, eu esquematizo idéias, elaboro frases de efeito, rearranjo minha vidinha de forma mais aprazível para mim.

Cortando a madrugada silenciosa de um meio de semana típico, apático, indo e vindo em alta velocidade sem nunca precisar respeitar coisa alguma. Cruzando a zona sul, norte, voltando até a zona oeste, indo por centro da cidade, observando ela dormir. Eu quero ser o oposto de qualquer romancista pós-revolução industrial. Pau no cu do flaneur! Não quero entrar em contato com a gente dessa (ou de qualquer outra) cidade, nem me misturar à massa. Prefiro assisti-la de longe, pela segurança confortável da janela de um carro. Mendigos, putas, bêbados, travestis, taxistas que conversam, casais de namorados que se bolinam no escuro e velhos no seu cooper solitário... Toda a sorte de tipos estranhos, alguns policiais e alguns loucos também.

Silenciosamene adentro as ruas e as vielas mais escuras trilhando trajetos desconhecidos, não me furtando a me embrenhar pelos caminhos mais assustadores e menos previsíveis. As ruas de Copacabana têm muito mais personalidade que as avenidas largas apinhadas de ícones capitalistas de neon da Barra. As vielas quase desertas do Centro convidam ao crime, enquanto as sombrias e familiares ruas da Urca parecem querer te expulsar de lá.

A estrada, a seta que aponta sempre para frente. Essa é minha única saída, minha única certeza.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

O MERCADO DE TRABALHO É UMA PRAÇA DE GUERRA

“Faz duas semanas que estou aqui, acho eu, padecendo nessa trincheira, enlouquecendo aos poucos. Não posso afirmar quantos dias se passaram ao certo, pois eu deixei de contar depois da terceira noite e algumas manhãs são tão escuras que é impossível distinguir se já é dia ou uma madrugada perene. Desde que nossos generais bateram as botas em retirada, o inimigo não aparece mais sob a linha de combate. Sobramos nós aqui, sozinhos. Então, sem ter o que fazer, decidimos lutar contra nós mesmos. Matamos uns aos outros para o tempo correr mais depressa”.

Essa filha da puta pensa que me engana! Eu posso ler o escárnio no seu sorriso de canto de boca, posso perceber o que seus olhinhos apertados estão tramando! Ela está contra mim, ela está contra mim, estão todos contra mim aqui nessa merda de escritório... Mas que se fodam todos eles! Enquanto eu estiver aqui, seguro na minha baia, de frente para o meu computador, eles não podem fazer nada comigo.


Merda, ela levantou, foi falar com a chefe. E a chefe adora ela, não adora? Óbvio, é uma besta quadrada! Burra, não vê que todos eles estão maquinando sua derrocada? Eu vi quando a recruta passou com a bandeja de café e sorrateiramente pingou duas gotas de cianureto na xícara da chefe. Eu poderia ir até lá com minha AR-15, subir na mesa, metralhar todos os conspiradores e salvá-la. Com certeza assim eu seria efetivado.

Bah... Mas o que é que eu estou querendo? Ser um capacho a vida inteira? Não, minha missão aqui é clara, conquistar vinte e quatro territórios à minha escolha. O bandejão, o almoxarifado, o arquivo e o pessoal da portaria já são meus. Essa é a melhor maneira de se iniciar uma insurreição, amealhando os mais humildes, aqueles que são tão dispensáveis para eles quanto você, mas que se encontram num patamar ainda mais inferior que o seu. É, um dia eu vou me levantar dessa cadeira, sair da minha baia e marchar vitorioso até a sala da chefia, os traidores que tentem me apunhalar pelas costas para verem o que é bom pra tosse, hehe!

Sinto dores que começam na cabeça e se espalham por todo meu corpo. É como se cada poro da minha pele estivesse berrando. E os suores e as alucinações e as palpitações noturnas. Eu devia estar mais alerta, deixei que um estilhaço de granada atingisse minha coxa direita num confronto com o inimigo. Droga, como não percebi que ela se esgueirava por entre as máquinas de xerox? Quem foi o idiota que fez o uniforme dos inimigos em tons de bege e cinza? Assim eles estão sempre camuflados entre a mobília e maquinário velho dessa redação. Talvez o mesmo idiota que tenha feito o meu uniforme em tons de bege e cinza também...
Estarei ficando paranóico? Não tenho mais aliados, perdi o pessoal do bandejão, do almoxarifado, até mesmo a brava e fiel resistência do arquivo. Ratos!!! Eu ficarei aqui, sozinho, tenho 17 balas e um fuzil, eu posso me virar sozinho, eles não vão me destruir, não, não vão...

Escutei uma explosão ao fundo, as luzes se apagaram, caiu o sistema! O CAOS!!!! Era o que eu estava esperando, minha hora de atacar! Peguei meu fuzil, tive que fazer muito esforço para rastejar em direção a sala da chefia, o estilhaço de bala infeccionou minha coxa e acabou por gangrena-la. Mas não seria uma perna gangrenada e essa febre alucinante que me impediriam de continuar minha missão. Matar meu chefe, me tornar um novo chefe. Essa é a única vitória possível nessa merda de mercado de trabalho.

Agora estou aqui, caído de costas, a bunda pra cima, tremendo, patético, com uma faca encravada nas costas. Na escuridão, a caminho do meu alvo, não notei que alguém mais rápido, mais esperto e mais dissimulado me seguia. Um golpe fundo e eu sou história, vou ficar estirado aqui, esperando todo o resto de energia ser drenada do meu corpo pouco a pouco enquanto alguém continua nesse jogo.
Game Over, até a próxima facada.