sábado, setembro 29, 2007

Um mundo melhor que não foi feito para você

Existe um mundo paralelo vivendo e respirando pelas ruas do Leblon e Ipanema. É um mundo de gente não necessariamente bela, mas que é apontada como "gente bonita" nos editoriais das revistas de moda. Um mundo paralelo convivendo mais feliz que a maioria e sob nossos olhos, sem que possamos, contudo, identificar seus habitantes, apesar de os vermos constantemente. São as pessoas contentes que caminham com sacolas de griffe saindo do shopping Leblon para comer uma saladinha e dar uma esticada num cinema do Estação para ver um "coreano novo que todo mundo diz que é bárbaro!". São as personagens constantes das colunas sociais sendo alvo de matérias comportamentais da revista de domingo d' O Globo. Os habitantes desse mundo paralelo são medianamente inteligentes, são intelectuais mais sem aquele ranço chato e apalermado. Eles são cool, usam óculos coloridos e sem eles o que seria da lista dos mais lidos na Veja? Eles gostam de frequentar a Livraria da Travessa, gostam do conforto de poder sentar numa poltrona dentro da loja e folhear livros que eles vão comprar, mas não vão ler porque não terão tempo. É preciso buscar os filhos no curso de grafitti dado por uma meninada super-legal que abriu uma lojinha ali perto da Pizzaria Guanabara. Um dos meninos é filho daquele cara, lembra? E há tantas vitrines novas para se ver, tanto para comprar. No fim do mês o Tim Festival, preços extorsivos não são um incômodo pois "a cultura não tem preço!". Oh meu deus, se eles não fossem eles, pode estar certo de que não aguentariam isso muito tempo. Três vivas por sermos quem somos, narciso!

Mas o povo do mundo paralelo está preocupado. A violência nessa cidade não dá trégua nem para aqueles que vivem uma vida à parte. O povo do mundo paralelo protesta a sua maneira, na saída das escolas e com camisetas assinadas por artistas plásticos. A arte é necessária, a pós-modernidade é um fardo que o povo do mundo paralelo carrega como destino-manifesto. Depende de nós, eles dizem. O que seria do toy art e das revistas de design se não fossem eles a compreendê-las? O que seria do cinema da PUC a produzir novas e geniais meninas que ocuparão um cargo de importância sumária em alguma produtora localizada numa casa de Botafogo? O que seria das artes visuais sem os brilhantes magos d' OEstúdio a darem uma dimensão filosófica ao consumo de supérfulos? Qual seria o destino dos cursos no exterior e de tudo o mais que só pode ser consumido e entendido plenamente por eles? "Nos deixem aqui cuidando do que fazemos melhor, vocês não gostariam de se preocupar com isso".

Existe um mundo paralelo e ele não é o seu, ele não foi feito para você. Mas não confunda as coisas. Esse mundo paralelo pouco tem a ver com as torres de marfim e os pitbulls criados como filhos pelas elites. Nenhuma semelhança com a ostentação vulgar dos ricos demais, com os acidentes e incidentes que pululam no jornal incentivando sua raiva branca e inofensiva. Não! Esse tipinho serve apenas como matéria-prima para as colunas no final do Segundo Caderno. E o povo do mundo paralelo está assinando essas colunas, está repudiando o outro e cuspindo no espelho. Está dançando ao som de minimal e neo-funk nas festas da Lapa revisitada que eles tanto amam, mas de onde preferem manter distância geográfica. Eles estão desfilando pelo blocos de carnaval do Jardim Botânico, aplaudindo um espetáculo com concepção gráfica de Gringo Cardia e Mutti Randolph, apresentando projetos na produtora de Regina Casé para serem executados por Guel Arraes, fazendo parcerias musicais com o Kassin ou Amarante, tendo o novo disco do Caetano como a trilha-sonora de uma valsa doce que os conduz diretamente para eventos no MAM ou na Marina da Glória e novamente de volta para o conforto de uma sala bem decorada. Existe um mundo paralelo vivendo e respirando e sendo mais feliz do que eu e você.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Muita vergonha alheia!

Tendo assistido ontem à décima-terceira edição do VMB a única dúvida que me resta é: O redator do show é um babuíno maconheiro ou uma lontra?

É incrível a capacidade do artista brasileiro de não ter timing, não ter graça e não ser capaz de improvisar, apesar do esforço, sempre com resultados deprimentes. É tudo apenas constrangedor na tentativa de soar engraçadinho, na repetição de maneirismos e impostações pretensamente cômicas que devem ser ensinadas num desses cursinhos do Wolf Maya. Dormi antes do fim e a memória do show me gerou um pesadelo!

PS - Qual é a droga que a família Suplicy toma? Sério, aquele senador e seus filhos não são normais. Vai ver que ao invés de drogas, é uma demência que ataca a ala masculina da família e só faz piorar com o tempo. Ou então, já sei, algum mordomo muito puto com os desmandos de madame Marta se vingou pingando muito LSD no nescau do marido e dos filhos durante anos a fio no café da manhã. Só isso explica.

terça-feira, setembro 25, 2007

Capitão Nascimento, o Chuck Norris dos pobres (literalmente)


Se Tropa de Elite fosse um filme sério e crítico de verdade, viria com a seguinte legenda logo nos créditos iniciais: Esse filme critica o tráfico de drogas abertamente, mas foi inteiramente produzido a base de muita cocaína.

E olha que eu nem vi o filme, hein?! ...Mas já estou de antemão falando mal, como é bem do meu feitio!

E a PUC? Moral nenhuma na banca!!! Já não é lá essas coisas no ENEM, agora neguinho inventa de criticar o pensamento acadêmico do seu corpo discente. Porra, os hippies e as drogas da PUC são a única coisa de sucesso a sair daquele pilotis (não necessariamente nessa ordem). Se entrarem numas de maldizer esses dois bastiões tradicionais da Pontifícia Universidade Católica, seus padres vão à falência. Cadê a arquidiocese numa hora dessas, gente?! A mídia é cruel, muito cruel...

O grande cinema brasileiro da retomada, feito por gente esclarecida e politizada, já apresentou uma obra que enfoca o "lado do tráfico", explicando porque o crime é crime, seus focos, suas causas e as razões de sua guerra diária com a polícia; Já fez também um filme defendendo o "lado da polícia", para mostrar porque a polícia invade e é obrigada a torturar, matar e as razões de sua guerra diária com os traficantes. Agora fica só faltando um filme para mostrar o lado de gente que não tem nada a ver com tráfico, invasão, foco de crime, corrupção oficial, suborno, mas que continua morrendo todo dia. Tá dada a dica, pode até ser da Conspiração.

Everybody swing to the right!

Em decisão inédita e consensual entre a União, o governo do estado e a prefeitura, o Rio de Janeiro passa a ser a primeira cidade brasileira a ter o comércio de drogas legalizado no país. A cidade servirá de laboratório para testar a legalização no estado e, posteriormente, no país. Em uma solenidade realizada ontem no Palácio do Planalto, o Presidente Lula, o governador Sérgio Cabral, o Cabralzinho e César "Beleza Pura" Maia assinaram a concessão de exploração de entorpecentes pelas redes de farmárcias Farmais e Drogarias Max, além de uma revolucionária estratégia de venda via bancas de jornal. Muito entusiasmado, César Maia declarou que a cidade sempre teve vocação para novidade. "É um salto rumo ao futuro. Seremos uma Nova Holanda", completou Cabralzinho, esquecendo-se que Nova Holanda é uma das favelas mais perigosas do estado que ele governa.

Trecho retirado de uma propaganda institucional do governo - 'Em apenas dois meses, o projeto do governo do estado baseado numa pesquisa da Fundação Getúlio Vargas que financiou a ida de uma equipe de sociólogos para Zurique, Amsterdã e Berlin com dinheiro da CPMF, concluiu que a razão de toda violência na cidade do Rio de Janeiro era a compra e venda de trouxinhas de maconha, sacolés de cocaína e pedras de crack. Sendo assim, uma divisão de inteligência da PM coordenada por nosso bravo ex-capitão do BOPE - que hoje em dia dá assessoria até pra partida de dominó - se uniu a equipe de sociólogos patrocinados pela FGV e a um conselho de notáveis cariocas, como Regina Casé, Falcão do Rappa, a rapaziada da Conspiração e o presidente da ONG Viva Rio. O grupo chegou a uma brilhante e inédita conclusão: O tráfico é a razão de todos os males do país. Portanto, com a cidade do Rio de Janeiro não poderia ser diferente. A execução foi mais complexa do que parece, mas com o apoio do Presidente Lula e da administração do Prefeito César Maia, nós tiramos as drogas das bocas de fumo e levamos para os pontos nobres da zona sul.

Com um time desses no comando, o resultado não poderia ter sido mais positivo. O fim do tráfico não só trouxe paz e harmonia para as favelas e o asfalto cariocas, como reaqueceu a indústria farmacêutica, aumentou as vendas do varejo, elevou a renda e criou duzentos milhões de empregos. O traficante B.T.V, de 12 anos, é um exemplo: "Eu ficava na boca o dia inteiro, dava tiro nos PM, pagava o arrego todo fim do dia e não lia, não estudava. Não tinha futuro, né? Com o fim do tráfico eu pude finalmente voltar a estudar de segunda a quarta no CIEP de um município próximo e agora tenho certeza que vou realizar meu sonho. Vou ser gari, tio!". Esse aí tá com a vida que pediu a Deus, não é verdade? Mas não é só ele, vejam o que disse o gerente da Farmais do Baixo Gávea: "Nossa, as vendas aqui aumentaram muito! Assim, acho que de dia o pessoal fica mais tímido, né? Mas quando anoitece, tem até fila! Coisa de louco...". Literalmente, meu amigo! Já um outro famoso roqueiro que prefere manter o anonimato elogia a iniciativa: "Cara, acho cômodo poder ir ali na farmácia da esquina e comprar. Tá certo que aqui no Leblon onde eu moro, a única diferença foi que agora eu ando dois quarteirões a mais pra achar cocaína." O Rio de Janeiro brilha. Obrigado, Cabralzinho!'

Mas nem tudo são flores nesse ousado passo rumo a legalização geral e irrestrita no país. Algumas vozes dissidentes se fazem ecoar no meio do oba-oba. Um experimentado dono de bancas de jornal reclama do novo produto: "Ah, isso foi a maior furada que eu me meti. Droga ninguém mais compra, né? Agora a garotada dá download em tudo, não quer pagar por mais nada. Eu estou vendo um jeito de vender maconha encartada em revista, tentar umas parcerias pra ver se a coisa não morre. Mas tá brabo...". Moradores da Tijuca e do Meiér reclamam de discriminação, já que ficaram de fora do programa 'Na Farmácia é um barato!', que privilegiou apenas o público da zona sul num primeiro momento. "Tijuca é praticamente zona sul, pô! Além do mais, agora eu preciso pegar dois ônibus pra voltar pra casa com 20 gramas de maconha. É muito preconceito!", diz um viciado que mora longe. A assessoria de imprensa do programa disse que é preciso calma, que todos os bairros serão beneficiados com a venda de drogas, mas que eles "não têm culpa se negozinho mora mal".

Parlamentares de oposição, caretões e corta onda protestaram tanto no Senado quanto na Alerj contra os partidos da base governista, dizendo que a iniciativa tinha caráter eleitoreiro. É de conhecimento geral que maconheiros, cheiradores e fumadores de crack formam um grupo de opinião política extremamente forte e influente. Houveram também passeatas de alguns setores dissidentes da classe artística e da UNE devido a insinuações de que eles, afinal, eram quem realmente sustentavam a violência na cidade. A galera aproveitou pra reclamar também que a maconha era amônia pura e que o pó tava malhadão. "Esse governo, né? É foda..." disse uma ex-frequentadora das casinhas da PUC, ex-frequentadora do Posto 9 e ex-frequentadora do Coqueirão de Ipanema.

Quanto ao fato de, apesar do fim da violência, do estabelecimento da paz e da harmonia na cidade e de tudo de perfeito advindo com a legalização das drogas, a PM e o BOPE continuarem existindo, subindo as favelas e fazendo blitzes, o governo preferiu não dar nenhuma declaração.




domingo, setembro 23, 2007

A poesia só estraga o amor

Quando Mariana ligou dizendo que gostaria de encontrar com Vítor, esse não poderia estar mais tranquilo. Quando ela então explicou que eles precisavam conversar, o namorado não teve com ignorar uma pontada aguda no meio do peito escorrendo fria até a boca do estômago. Namoradas precisando conversar com seus respectivos é sempre sinal de problemas. Vítor era um homem que sistematicamente fugia dos problemas, principalmente os de ordem sentimental. E o fazia de forma assumida, não se envergonhava dessa pretensa covardia. "Ora bolas, quem afinal gosta de ter problemas?". Com alguma relutância dele, acabaram marcando um encontro no calçadão do Leblon no fim da tarde, já que ele precisava terminar um projeto (mentira) e ela havia combinado um almoço com a mãe. O fato de Mariana concordar em adiar o encontro até mais ou menos às cinco e pouco deixou Vítor aliviado. Problemas sentimentais femininos costumam ser urgentes, não permitem num um copo d'água antes de resolvê-los. Se ela poderia esperar até o fim do dia, não havia de ser tão grave.

Mariana chegou antes e sentou em um banco em frente à praia esperando pelo namorado. Vinte minutos depois ele chegou e não pode deixar de notar que ela trajava um sobretudo. Por mais que de conhecimento comum fosse o fato de que o inverno naquela faixa específica do Leblon é deveras mais rigoroso que nos demais cantos da cidade, o traje ainda era extremamente exagerado. Dramaticamente exagerado seria mais acurado dizer, Mariana era uma mulher que gostava de situações melodramáticas. Vítor poderia apostar que o traje, a locação e o horário foram todos pensados previamente pela namorada. Ele sempre detestou essa característica dela, mas não poderia mentir que, já que ela precisava conversar com ele (o que ele estava, a essa altura, certo de que significava uma discussão extensa e estressante sobre a relação amorosa do casal), que fosse em um local público e aberto. Vítor era da crença que os locais intimidavam reações mais passionais e que tudo podia ser mais facilmente contornado quando se estava sob o excrutinio do olhar de desconhecidos. Prova de que ele não entendia picas da alma feminina!

- E aí?
- Oi.
- Então, você quer me falar alguma coisa?
- É, acho que a gente precisa conversar.
(A gente não, porra, quem provavelmente precisa falar - e sem interrupções - é você!)
- É.
- Senta. Senta por favor.
(Xiii, pediu pra sentar. Nunca é um bom sinal quando ela resolve começar uma conversa com esse pedido específico)
Vítor sentou.
- Então...
(Puta merda, piorou! Se ela me pede pra sentar e começa a frase com um 'então' sucedido de uma pausa dramática tudo está perdido!)
- Vítor, a verdade é que nós andamos muito afastados...
(Porra, tamos afastados porque você disse que precisava de espaço e que o meu comportamento era meio sufocante às vezes!!!)
- É, eu entendo.
- ... E eu acho que isso acaba colaborando pra que, não sei, a gente fica mais fragilizado. Como casal, eu digo.
- Hã?
- Ah Vítor, você me força a ser dura com você. Por que você faz isso comigo?!
- Hã?
- Aconteceu, Vítor! Aconteceu, tá? Essas coisas a gente não planeja e, quando vê, já foi.
- Opa, peraí, peraí... O que você tá querendo me dizer aqui, hein?!
E essa é provavelmente a pergunta mais cretina e inútil que alguém pode pensar em fazer no meio de uma discussão desse tipo. Pois geralmente quando se chega ao ponto de perguntar, você já tem certeza absoluta do que a outra pessoa está falando e só é possível ser mais explícito sendo gráfico!
- Foi com o Fábio. A gente saiu um dia depois do trabalho e... bem, e rolou.
- ...
- Acho que eu tava meio bêbada. Não sei, pode ter sido sua indiferença também... Você é muito distante, muito fechado!
(Ah tá, você sai, bebe e me trai e a culpa é minha?)
- Qual Fábio, Mariana? Qual Fábio que foi?
É que na turma de Vítor e Mariana haviam quatro Fábios. Tinha o Fábio que lutava jiu-jitsu e de quem Vítor não desconfiava porque, no fundo, achava que Mariana estava aquém das expectativas estéticas do amigo; Tinha o Fábio namorado da Patrícia de quem sempre se comentava que parecia afetado e alegre demais da conta; Tinha o Capixaba que fora batizado como Fábio, mas que a turma só chamava pelo apelido a despeito de ele viver já há 17 anos no Rio; E tinha o poeta. Caralho, de todos Vítor só não poderia admitir...
-Foi o Fábio poeta.
(Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilha de uma puta!!!!!)
- Porra Mariana, o Fábio poeta? O Fábio poeta, não! O Fábio poeta você acaba comigo!
- Vítor...
- O que? O que que foi? O que você viu nesse merda? Ele fez o que pra te conquistar, escreveu a porra de um versinho?
- Vítor, calma
- Calma é o caralho!!!
E Vítor mandou às favas suas próprias teorias de que sob o excrutinio do olhar público vexames eram inibidos.
- Vai tomar no cu! Eu admito qualquer coisa, poderia até perdoar a traição, mas ficar com o poeta é foda. Vai se fuder! Piranha!
A honra e a hombridade ferida de Vítor estavam mais ligados a uma espécie de comparação subjetiva que Mariana estaria fazendo ao escolher o poeta que ao fato de ter tido seus sentimentos magoados pela namorada.
- Vítor...
- Cala a boca! Cala a boca! Não fala meu nome. Nunca mais. Eu quero que você e o poeta se casem, tenham filhos e que eles sejam batizados de Chacal e Waly Salomão e que vocês tenham que sobreviver da venda no Baixo Gávea de livros de poema mimeografados, tá legal?!
- Vítor, me escuta!
- VAI À MERDA!

E Vítor se retirou da conversa cagando pratos pra porra do olhar público e da merda do excrutinio de estranhos no calçadão do Leblon. Na realidade, até esbarrou no carrinho de bebê de um casal que parou para observar a discussão demonstrando sua desaprovação com aquela baixaria ali na frente da boa gente do bairro. Não deu nem tempo de Mariana explicar que o poeta broxou e que ela queria mesmo uma segunda chance. 'Deitado na rede/ Uma voz grave me sussura histórias de Iemanjá'... "Puta merda, onde eu tava com a cabeça?", ela pensou sem conseguir conter o choro.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Porque papai...

Não foi o Monza, não foram meus dock siders, não foi a camisa pólo cor de rosa da Lacoste, nem mesmo os finais de semana em Búzios. A certeza da minha condição de pequeno burguês veio quando finalmente percebi que publicamente me referia ao meu pai como papai de forma estranhamente natural. A minha consciência de classe nada mais é que um tratamento bizarramente infantil dispensado ao meu progenitor.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Tá doido o bagulho lá na rua

Vida de merda é foda, mano! Tem jeito não, se tu nasceu fodido, vai morrer fodido. Eu nunca tive oportunidade, desde moleque sabia que ia penar. Isso sempre me deu um ódio filha da puta das coisas. Ódio de quem tem mais que eu, de quem tem o que eu não tive. Vagabundo nasce assim, eu acho. O meio só ajuda a piorar. Muita miséria, fome, muita treta. Tu sabe que não tem saída, mas tu cata ela mesmo assim.

Comecei a catar minha saída daquela porra com uns nove anos. Ia pro Centro e batia carteira dos executivos, dava um ganho nos playboyzinhos saindo do colégio e pedia dinheiro pra comer. Agora, dinheiro pra comer ninguém quer dar, né? Querem que tu se foda! Daí tu faz seus corres, né? Não dá pra morrer de fome e não dá pra só sobreviver. Tua ia querer isso pra tu? Duvido!

Como a vida não é só comer, tu cresce e teus desejos crescem junto. Chega uma hora que a lata de cola não desbaratina como deve e ficar entrando e saindo de FEBEM também é foda. Muita porrada, muita treta. Os estupros quando tu é novo no pedaço, só as covardias mesmo. Quem é que quer essa porra pra vida? Isso só aumenta o ódio da gente, mas eles tão pouco se fudendo.

Falam que o crime não compensa. Não compensa é o caralho, papo de arrombado viado! Ja fiz muita putaria, muita farinha, muita mulher. Quem dá essas chances pra um fodido é só o crime. Aposto que se fosse contigo tu ia pensar igual. Mas se depois de um tempo a gente não morre, fica fodido de novo. Malandro não tem aposentadoria, né? A farinha acaba, a mulherada vai embora e só sobra a pinga. Tô com essa perna toda estourada, aqui atrás tem um projétil, sabia? Me fudeu essa porra, não dá pra correr, dói até pra andar. Aí acabei tendo que pedir novamente. Pedir depois de velho.

O mundão roda e a gente roda o mundão, daí foi assim que eu caí aqui. Vizinhança tranquilona, uns velhos aposentados, uns casais com filho pequeno e uns nóia que ficam zanzando. Isso tem em tudo quanto é lugar agora, né? Nego faz cara feia pra tu, não importa a idade. Mas pior que os que fazem cara feia, são os que tem nojo de tu. Pagam de bonzinho, dão dinheiro, mas não olham na sua cara, acham que a gente quer a merda da esmola deles.

Aqui na rua tem um assim. Um coxinha de merda, saindo de terninho e pasta de executivo cedo todo dia, saca? O cara me olhava com nojo, isso me queimava por dentro. Passava, abanava o jornal dele na minha direção... Tá pensando que eu sou cachorro, porra? E ainda jogava moeda. Filho da puta viado do caralho. Ele passava e ia pra empresa dele, tinha cara de ser patrão. Uma moeda de dez centavos, acertou meu olho e ele riu. Aposto que riu de mim.

Ontem eu tava muito louco, tomei umas pingas... Vou fazer o que? Comida ninguém dá mesmo e quando dá é umas merdas azedas, que nem pro cachorro deles eles tem coragem de botar. Muito doido que eu tava, daí vejo o coxinha voltando. Pastinha de executivo, de terno, andando apressado pra casa. Não sei o que me deu ali naquela hora, mas me subiu um ódio dessa vida que eu quebrei a garrafa de pinga no chão e nem pensei duas vezes, cravei nas costelas dele. O cara nem teve tempo de gemer, já caiu morto. E foi isso que aconteceu, doutor. Matei o cara, fui eu sim!... Posso ir agora, tu me libera? a cabeça tá doendo muito, essas porradas, tudo sangrando. Boca, testa, os braços, as costas, devem ter quebrado umas costelas com os chutes. Deixa eu ir, doutor. Por favor, já confessei... Que isso doutor?! Deixa eu ir, o senhor prometeu... Porra doutor, faz isso comigo, não... Caralho...

Lá na rua o bagulho tá doido

Todo dia eu tenho que acordar cedo pra dar tempo de chegar na estação de metrô antes que os vagões fiquem insuportavelmente lotados. Geralmente quando eu acordo, minha esposa Elizabete já está de pé, o café preto e forte já na garrafa térmica e duas torradas com margarina sobre o prato. Não temos empregada, então é minha mulher quem faz o café, o almoço e a janta lá em casa. Ela não cozinha muito bem, mas é o que a gente pode fazer agora.

Acabei de ser promovido na firma onde eu trabalho. Comecei lá há sete anos atrás, era estagiário. Assim que ganhei a promoção, o meu chefe de departamento me disse que seria melhor eu comprar um terno, um sapato novo e uma pasta. Aquela bolsa preta transpassada no peito era coisa de universitário, não condizia com minha nova posição ali. Eu quis comprar uma dessas pastinhas de executivo, com segredo e detalhes em dourado nas quinas, mas só deu pra arrumar uma imitação vagabunda, com aqueles prendedores de ferro e o interior forrado de papelão. Ela tá meio capenga por dentro de tanto que a usei pra me proteger das chuvas que caem no Centro nessa época do ano, o papelão já quase se desfazendo, mas é minha pastinha de 007. Me sinto executivo de verdade com ela.

Saio do sobrado onde a gente mora e tenho que caminhar uns nove quarteirões. Pegar ônibus não vale à pena, já que a empresa não dá vale-transporte, e eu também não tenho carro. Eu e a Elizabete demos entrada num consórcio pra tirar um golzinho 94. É velho, mas vai ser nosso! Até lá vou caminhando, não me importo. O bairro onde a gente mora tem ficado mais perigoso, eu não deixo a Elizabete andar por aqui quando fica tarde, muito nóia, muito malandro, sabe? Mas de manhã é sossegado e eu até gosto da caminhada. Faz bem pra saúde, né?!

Apesar da pressa em chegar à estação de metrô, nunca deixo de cumprimentar todo o pessoal. Moramos aqui há um tempo já e conhecemos todo mundo, então é sempre "bom dia, vizinha!", "e aí, mano?" pelos nove quarteirões. E agora na esquina de casa apareceu um mendigo. Ele chegou na rua não tem muito tempo, já ouvi estórias de que é marginal, assaltante de casa, que tentou estuprar uma menina. Acho que é malediscência do povo. Sabe como é, uma gente boa, mas muito idosa, de outra época. Eles ficam mais assustados. Eu não, passo e cumprimento o mendigo também. Jogo sempre uma moeda pra ele. Outro dia mesmo, acho que foi anteontem, dobrei a esquina e tava ele lá, deitado. Me olhou e eu cumprimentei abanando a folha de esportes. Procurei no bolso com a outra mão, joguei pra ele uma moeda de dez centavos e continuei minha caminhada. Não dá pra perder tempo.

Agora, louco mesmo foi ontem. Eu acabei tendo que fazer serão e cheguei em casa já tarde, quase que eu perco o último metrô. Uns problemas lá na firma, não quiseram me dizer o que era, mas eu e mais uns cinco tivemos que passar umas quatro horas recalculando uns bagulhos. Parece que alguém lá de cima fez merda... Putz, não gosto nem de comentar. Então, cheguei ali pela rua e já era tarde, tudo escuro. Há uns cem metros de casa um cara sai e pula em cima de mim. Me cravou um negócio entre as costelas, acho que era faca, sei lá que porra que era. Nem deu tempo de nada, mano. Caí ali mesmo. Morri. Os vizinhos só se deram conta no dia seguinte e o pessoal se revoltou mesmo. Doido essas coisas que acontecem, logo agora que tava tudo dando certo, né? Acho que quando Deus quer, Deus chama a gente e já era.

terça-feira, setembro 18, 2007

Musicalle de Copacabana

A loja é um oásis no meio do inferno da Avenida Nossa Senhora de Copacabana às duas da tarde de um dia qualquer de janeiro. O calor impiedoso sufoca os transeuntes espremidos entre o corredor formado pelos camelôs e os seguranças nas portas das lojas dos chineses. Fumaça do escapamento dos circulares e evaporação de todo aquele concreto. Asfalto e cimento de um lado ao outro, a loja é um oásis no meio do inferno.

Entro apressado, agradecido pelo ar-condicionado instalado logo acima da porta de vidro. Passo pelas gôndolas de cds sem que nenhum título desperte minha atenção. Tudo cd merda. Lá no fundo, atrás do balcão, ela fica parada. Chego e apresento:
- Oi, esses quatro cds aqui. Quero vender.
A vendedora examina os quatro títulos que tirei da minha estante, quatro cds que eu gosto, mas não gosto tanto, com treinada indiferença. A gerente ensinou a eles não demonstrarem nenhuma reação aos títulos oferecidos, assim os pretensos vendedores sempre pensam que seus discos não valem porra nenhuma.
- Você aguarda que vou ver com a gerente, tá?
Ela sai e caminha para o escritório da gerente, de onde posso vê-las, já que ele fica atrás do balcão e possui uma enorme janela de vidro. Deve ser para a gerente prestar atenção no trabalho da vendedora, ver se ela está prestando atenção na loja. Muito ladrãozinho nessa área.

A gerente sabe que eu estou observando e é melhor que a vendedora na análise sem reação dos cds. Olha a capa, abre, tira o disco, examina com uma falsa expertise, torna a olhá-los, comenta algo com a vendedora e os empurra de volta. A vendedora volta para o balcão onde eu estou esperando:
- Olha só esse aqui mesmo interessa, esses aqui a gente não trabalha. - E me empurra de volta os outros três cds como se devolvesse ao dono algo que lhe causa verdadeira repulsa.
Mentirosa, só no caminho entre a porta e o balcão eu notei pelo menos dois cds do mesmo estilo. Um até da mesma banda, e olha que eu nem parei em frente às gôndolas. Burra, não sabe de nada. Aposto que foi a gerente quem ensinou ela a dizer isso.

- E quanto por esse, então? - pergunto contrariado.
- Olha, a gente não paga mais do que cinco.
Cinco reais? Porra, eu paguei trinta nessa merda há três anos atrás. Piranha, safada!
- Tudo bem... - aceito entre resignado e revoltado. Melhor algum dinheiro que nenhum dinheiro. Se eu não tivesse precisando mandava ela se fuder. A vendedora me olha e sorri. Filha da puta, deve tá pensando que eu sou pobre.

Entro apressado novamente, não gosto de ficar muito tempo nessa loja, todo mundo me encarando sempre que eu venho aqui. Dessa vez mais confiante, um cd duplo dos Beatles na mão. Duvido que ela não pague uma boa grana por ele. A vendedora deve ter me reconhecido do outro dia e acompanha meu trajeto com os olhos atentos até que eu chegue ao balcão e empurre o cd na sua direção.
- Quanto por esse?
- Ah, isso não interessa. Dessa banda aqui a gente já tem muito.
Fico encarando seus olhos vagos. Aposto que ela percebe minha raiva, aposto que ela consegue traduzir essa raiva em necessidade de dinheiro. Filha da puta, deve tá pensando que eu sou viciado.

Dou meia volta e me detenho em frente a seção de letra D. Rock internacional. Vou empurrando os cds e lendo os títulos sem esperar encontrar nada em especial, apenas matando o tempo e aproveitando o ar-condicionado. Empurro com força e os cds batem um no outro provocando um estalo ritmado. Puxo um título a esmo e volto ao balcão.
- E trocar esse por esse, pode?
A vendedora analisa os dois. Um cd duplo dos Beatles e uma reprensagem fuleira de alguma banda de thrash metal alemã da década de noventa. Ela aceita. É claro que aceita, excelente negócio eu estou propondo. Se não tivesse roubado esse cd da prateleira do meu irmão mais velho, eu nunca ousaria trocar um pelo outro. Mas foda-se, nunca gostei de Beatles mesmo.
- Agora você não se importa em ficar com o disco, né? Já saquei a coisa por aqui...


Entro na loja e paro em frente a primeira gôndola, logo à minha esquerda. A vendedora certamente me reconheceu, tanto que olhou para o segurança, um mulato parrudo vestido de preto e sentado num banco à direita da porta e esticou o olhar até mim. "Presta atenção nesse aí!". Ela acha que eu não percebi. Filha da puta, deve tá pensando que eu sou ladrão.

Resolvo perambular por entre as gôndolas, mexendo em cds, provocando o estalo ritmado ao empurrá-los com os dedos, visitando seções que não me interssam e analisando capas de disco de artistas que eu não faço idéia de quem são e nem me importo em saber. A vendedora sai da sua posição vigilante no balcão para os fundos da loja. A gerente não está hoje e o segurança, bem, o segurança está mais preocupado em fazer o tempo passar sentado num banco admirando o movimento dos pedestres que precisam desviar um dos outros enquanto são imprensados contra as lojas pelas barracas dos camelôs.

Tinha um cd ali, antepenúltimo na terceira fileira da letra N, sei lá em qual seção. Nina Simone, uma negona na capa. Ninguém olhando. Meto o cd no bolso da bermuda. "Quem mandou nunca comprar meus cds, sua escrota?". Dou mais algumas voltas por entre as gôndolas, mas agora fingindo atenção nos títulos da loja e em nada mais a minha volta, o que denota inocência. Dois minutinhos só para não dar bandeira, melhor vazar logo com o cd da negona no bolso.

A volta ao inferno me é impedida pela mão do segurança apertando meu ombro.
- Que que tem aí na tua bermuda?
- Nada...
Olho para trás e percebo a vendedora me encarando do balcão. Estava de olho em mim o tempo todo e avisou ao segurança que me interpelasse somente quando eu estivesse saindo. Aprendeu isso com a gerente também, dar a sensação de êxito até o momento da fuga e então desmascarar o vagabundo.
- Esse cd custa dezoito reais - ela me diz em seu tom monocórdico de rotina, mas que deixa entrever um certo timbre de reprimenda.
- Tá...
- Vai levar?
- Não, não...
- Então pode ir embora. E não volta mais aqui, ouviu bem?

O segurança arranca o cd do bolso da minha bermuda e me lança um olhar que é humilhante porque é mais desprezo que desaprovação ou ódio. E ódio eu sinto dela, querendo mostrar serviço pra gerente. Porque essa área é cheia de ladrãozinho e ela é uma empregada que presta atenção na loja. Filha da puta, o que ela pensa que eu sou? Vou me vingar. Vou me vingar dela quando ela sair daí, aí eu quero ver essa marra. Só eu e ela, sem segurança, sem gerente pra ela lamber o cu. Vou ficar esperando ela aqui fora. Vou sim. Foda é esse calor, puta merda! Copacabana, que inferno.

Meu pai passa os dias sentado em frente ao computador

Meu pai tá velho. Tá velho, cansado e chato. Quase não sai mais de casa e seu quarto fede a preguiça, sonhos não concretizados e murrinha nos lençóis velhos. Meu pai usa a mesma roupa por vários dias, vai ao banheiro de porta aberta, mas continua se barbeando. Continua vaidoso. Continua egoísta. Meu pai tem reclamando menos, ou ao menos mais baixo. Já não vocifera contra o que ele crê ser uma pendenga pessoal do sistema e das pessoas em geral contra seu sucesso. Tá gritando menos, o que não significa que esteja mais sereno, só tá mais conformado. Apesar disso, meu pai diz que tá estudando pra passar em um concurso público do Banco do Brasil e que eu e minhas irmãs tínhamos que fazer o mesmo. Aos 55 anos meu pai ainda tá querendo se dar bem. Tá querendo sublimar a frustração das coisas não terem sido como ele imaginava. Agora ele diz que vai fazer igual a todo mundo... como se antes fosse diferente. E enquanto o dia não chega, mas pai mantém inabalável a fé de que na terça-feira o Casseta & Planeta vai vir pra sacanear e vingar as injustiças que ele sofre.

E eu, aos 28 anos, isso é, a idade que meu pai tinha quando eu tinha apenas um ano, já sei o que herdei dele até aqui. Só não sei o que ainda resta herdar, nem como isso vai afetar os anos que faltam até os meus 55. Meu pai passa os dias sentando em frente ao computador, esperando que dali saia alguma solução para salvá-lo. Nisso nós já somos iguais.

Admirável Rehab Novo


Então a Pitty quer pagar de Amy Winehouse agora? Tá. Bem que ela podia aproveitar e ter uma overdose de cocaína logo. Quem sabe assim ela poupa a gente desse discurso rastaqüera de como ela é alternativa a tudo isso que está aí, que não se rege pelas "regras da indústria" (expressão preferida de nove entre dez músicos que não sabem o que dizem) e não, não, não, não é apenas mais um ídolo adolescente.


Olha, se o lance é negar a condição de Xuxa emo, não era mais fácil só deixar de aparecer na Mtv um dia sim e o outro também para comentar de partida de botão à absolvição de senador?

segunda-feira, setembro 17, 2007

Pensando um pouco no que a gente anda fazendo por aí

Não, não é arte. Não é nada para ser levado à sério ou ser reconhecido em outra esfera que não a cotidiana e de nenhuma outra forma que não a ligada a sua própria esfera. Isso aqui é uma coisa cotidiana. Mas sem querer parecer pretensioso, dá pra, num âmbito mais geral, chamar de literatura. Literatura no sentido de ser o exercício da elouquência, hehehe! (mas que é uma de suas definições. Procurei no dicionário pra não parecer, além de convencido, equivocado). E se isso aqui que a gente - e eu juro que queria falar a gente e citar uma turma, uns conhecidos, mas o único cara que eu conheço que escreve em blog dessa forma é o Alejandro e nem sei mais se o blog dele tá em atividade - faz é literatura, é também um tipo bem específico, bem próprio, né?

A literatura de internet possui características que, ao contrário do que pensam os preguiçosos, não tem porra nenhuma a ver com o tamanho dos textos. Acho que só nego muito burro pra pensar que algo ser curto, feito para não cansar, é uma característica séria. A maior característica da literatura de internet é a instantaneidade da coisa. Você pensa, escreve no corpo do blog, clica em publicar e pronto. Se tem sorte, outras pessoas vão fazer o mesmo na seção de comentários (não é o caso daqui, nota-se). Eu acho que as pessoas que escrevem livros, fazem literatura de verdade, acabam burilando, reformulando os textos e, de certa forma, tem uma produção bem menos fragmentada. Eu só posso tirar por mim, mas tudo que é escrito aqui, foi muito pouco pensado, em termos de forma, em termos de conteúdo... Pois é, e vocês aí pensando que eu passava horas parindo esses riquíssimos textos sobre o cara da caverna do dragão, a morte do papagaio Alex, acordar de pau duro né?! Hã-hã.

Enfim, pensei nisso depois de ler uma entrevista que o Sávio e o Velotrol fizeram com um quadrinista chamado Gary Panter e no que o cara falou sobre a arte nos dias de hoje. Mesmo que isso não seja arte (e eu realmente não quero que seja), eu espero que a produção seja para sempre rápida, fluida e instantânea.


Pronto, já podemos voltar com a programação normal...

O Sonho

Supermercados sempre tiveram um cheiro doce pra mim. Eu gostava de passar a mão sobre a esteira dos caixas e pescar na palma os restos de açucar e farinha que escorriam dos pacotes. Lambia feliz o que ficava grudado.

Mas o que realmente me atraía dentro dos supermercados era a seção de padaria. As seções de padaria dos supermercados eram melhores que as padarias reais. Eram mais plásticas, mais coloridas e mais artificialmente doces. Não me importava com os chocolates que as empregadas compravam para os filhos de suas patroas ricas. Os biscoitos recheados vagabundos que alunos da rede pública levavam como merenda nunca despertaram minha atenção. Só a seção de padaria atraía meu olhar sempre faminto. Era no balcão refrigerado da seção de paradaria que repousava o sonho. O vidro que suava discretamente por dentro a me separar do sonho. Redondo, macio, estufado, com o recheio saindo por sua abertura como um beiço amarelo, acrílico, polvilhado de pedaços de açucar cristal que pareciam minúsculas jóias. Eu encostava as mãos e o nariz e a boca aberta, a língua tocando o vidro na esperança de sentir o sabor que o sonho emanava.

Certo dia um senhor me viu ali e me comprou um sonho. Fiquei com muito medo de dar uma dentada. E se o sonho não correspondesse às expectativas que meu cérebro e estômago criaram durante todo aquele tempo? E se o beiço acrílico fosse duro e quebrasse meus dentes? Engoli aquilo quase sem morder, levando-o da mão para o fundo da barriga em instantes. Ainda assim, o sonho que eu não degustei por medo de desapontar a mim e a ele foi a melhor refeição que fiz até hoje. Não realmente, claro, mas na minha memória afetiva ela ficou dessa forma acomodada.

Agora o sonho está ali, parado e esquecido na seção de padaria. Olhando agora ele parece murcho, sem graça, seu beiço amarelo um pouco nojento. Ele não reluz, está seco, e não há mais cristais de açucar como jóias. Ainda assim me dá vontade de saltar o balcão e experimentá-lo novamente. Uma dentada que seja, mas o filha da puta do vigia tá sangrando demais. E a piranha da caixa não pára de berrar. Se ela continuar berrando eu vou ter que atirar nela também e eu não gosto de fazer confusão nessas situações. Porra, era pá pum, pega a grana e já era. Mas tem sempre um filha da puta sonhando ser herói. Assaltar supermercado, que merda do caralho...

sábado, setembro 15, 2007

Projeto Crossover - Não pára, não pára, não pára, não...

Juro, estou impressionado com a boa vontade dessa gente que me cerca. Se eu tivesse coração diria até que ele ficou apertadinho.


Hoje acordei de pau duro
Domado pelo tesão
Logo pus o pau em minha mão
Percebi q estava enganado
Pois ao sentir o membro semi-rijo
Percebi era tesão de mijo


Bruno Pavio é gente fina 24/7, baixista do Hitlist e do Te Voy A Quebrar, possui uma relação proustiana com o tempo e, algum dia, se formará em jornalismo pela FACHA.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Projeto Crossover - a Missão

E meus amigos seguem incrivelmente apoiando com abnegada seriedade (até onde é possível) essas merdas que eu invento de tarde:

Hoje acordei de pau duro e disposto a chocar e constranger minha tradicional família católica e seus serviçais.
Não prendi no elástico do short, nem coloquei aquela calça de moleton da aula de ginástica do Santo Agostinho de 1993.
Saí do quarto e me senti um herói. Era como queimar um sutiã em praça pública em sua versão "jovem adulto 2007 e ainda moro com os pais". Eu era um comandante de um barco viking e tinha a certeza de que a carranca na proa afastaria os maus espíritos.
"Meu filho, o que é isso?!"
"Foi mal mãe, achei que não tinha ninguém em casa."


Tiago Lins é um companheirão, trabalha numa produtora de vídeo, dirige clipe dos amigos e, ao que parece, é melhor amigo dele mesmo. Também rege a noite carioca pós-adolescente com o garbo de um Princípe Valente lebloniano.

Projeto crossover

Me levando mais à sério do que deveria, inventei um negócio aqui no blog. O negócio atende pelo título logo aí em cima e consiste na idéia de escrever junto a pessoas que eu considere inteligentes, espertas e engraçadas. Meus amigos, enfim.

A idéia que permeia o "Projeto Crossover" é simplória, básica. Eu dou uma frase pensada a esmo para um grupo de pessoas e elas devem terminá-la esse pretenso início de estória da forma que melhor lhes apetecer. Valia ser um conto, uma crônica, um haikai, um aforismo, um xingamento, um recado. Qualquer coisa, só tinha que dar um fim. Ah, e não era pra demorar muito também que eu não tenho tempo a perder!

Seguem aí os dois primeiros textos das duas primeiras cobaias, digo, amigos. (Ah, fazendo uma introduçãozinha eu coloquei meu papo com eles no MSN - como já expliquei antes, todas minhas relações passam por ela e tal...)

XMNZSX diz:
amor, tudo bem?
XMNZSX diz:
vem cá, queria te convidar para participar de um projeto meu
Tamara diz:
oi gatíssimo
Tamara diz:
o que?
XMNZSX diz:
é o seguinte: eu estou dando uma frase aleatória a diversas pessoas e pedindo para que elas a terminem do jeito que quiserem
XMNZSX diz:
mas é a mesma frase para todos
Tamara diz:
sim
XMNZSX diz:
você pode terminar ela como conto, poesia concreta, haikai, post, blog, qualquer merda. Só não pode ter mais que dois parágrafos.
XMNZSX diz:
quer participar?
Tamara diz:
claro
Tamara diz:
o q seria haikai?
XMNZSX diz:
haikai são aqueles poemas japoneses extremamente curtos
Tamara diz:
ah tá
Tamara diz:
mas qual o propósito final depois de ter todas as frases?
XMNZSX diz:
mas você termina como quiser, não interessa. Só precisa escrever
Tamara diz:
beleza...
XMNZSX diz:
eu postar no meu blog
Tamara diz:
pode mandar que eu faço... gostei!
XMNZSX diz:
"hoje eu acordei de pau duro"
Tamara diz:
hahahahahahahah... amei
Tamara diz:
vc quer que te entregue quando?
XMNZSX diz:
então quando você terminar me manda



Hoje eu acordei de pau duro, mas como sou pão-duro, não gozei!


Tamara é modelo, gatíssima, esperta, engraçada e minha namorada mais foda. Ela possui um vasto repertório de passos de dança que guarda só pra nós dois, ri de coisas que só nós entendemos e é de uma incrível paciência com esse escriba aqui.

Sainz de Vicuña diz:
fala Mena!
Sainz de Vicuña diz:
to no trampo ainda!
Sainz de Vicuña diz:
fiquei aqui estudando que é mais tranquilo, hehehee
XMNZSX diz:
saquei
XMNZSX diz:
bom, é que eu estou com um projeto em mente e gostaria de estreá-lo com você
Sainz de Vicuña diz:
qual?!
XMNZSX diz:
é algo simples. até mais que isso, é rápido e quase instantâneo.
XMNZSX diz:
assim, eu quero convidar uns caras que eu adoro a escrita e dar uma frase aleatória para que eles a peguem e terminem ela do jeito que quiser. Pode ser conto, crônica, poema, haikai, poesia concreta, post, scrap. qualquer merda. Só não pode ser maior que dois parágrafos.
Sainz de Vicuña diz:
legal!
Sainz de Vicuña diz:
e qual seria a frase aleatória?
XMNZSX diz:
"hoje eu acordei de pau duro"
Sainz de Vicuña diz:
hehehehehe
Sainz de Vicuña diz:
boa frase
Sainz de Vicuña diz:
blz!
Sainz de Vicuña diz:
vou ver o que rola de fazer!
XMNZSX diz:
qualquer coisa, só não demore!


Hoje acordei de pau duro
Como sempre.
Doido pra fuder
...Ah, bunda... que sonho!...
macia, redonda, lisa, firme, arrebitada, linda...
Puta que pariu!
Tô fodido!
E eu aqui me masturbando...
Dou conta do relógio e lógico
lá estava o futuro próximo
bem próximo
a 10 estações de metrô
puta que pariu! puta que pariu!
o futuro já está a 13 minutos no passado!
me esperando com vários trabalhos pra ontem, seu filho da puta com pau na mão!
ducha fria, roupa amassada, nada pronto pra comer, café quente, garganta queimada, rua!
e lá vou eu como sempre pra mais um dia de pau mole no meio de um monte de bunda mole.

Alejandro é escritor, tradutor e vocalista de banda sludge. É também meu amigo-inteligente. Vocês conhecem o amigo-inteligente? Pois é, Alejandro é o meu. Mas a inteligência de Alejandro é generosa, benevolente e ele até ri junto com o resto da turma.

terça-feira, setembro 11, 2007

Lo Spirito de Armação Ilimitaddi continua...



Uma parada que eu nunca entendi foi o que o Kadú Moliterno faz aí na capa desse disco do Negazione. Ele quer se matar depois de ter descido a raquete na mulher, é isso? Juba, porra, Juba, não faz isso! Você era a alma daquela dupla, o Lula é sem graça pra caralho!




(essa é velha e já repeti em dois lugares diferentes, mas achei que cabia)

Isso fez muito mal pra construção do meu caráter


Estava agorinha mesmo reclamando com um amigo via MSN (todos meus contatos, como vocês devem desconfiar, são pela internet) que eu nunca me pareci com nenhuma celebridade. Quando era mais novo eu forcei uma barra pras minhas irmãs acharem que eu era parecido com o Keanu Reeves. Até pro Alexandre Borges eu apelei depois que uma colega de sala estendeu essa nesga de atenção ao meu perfil sem referências. Ainda assim, o máximo que eu consegui nesse campo foi parecer com o caubói do Toy Story e com o escudeiro da Caverna do Dragão. E o pior é que quando eu comentava isso, entre resignado e envergonhado, todo mundo ria e dizia: "porra, igual!".



Então, olha, estou culpando todos vocês, meu amigos. Se hoje em dia eu sou assim, escroque, babaca e vacilão, é por conta da imagem em que me espelhei com seu encorajamento durante toda minha infância e adolescência. Porque, convenhamos, pior que ser parecido c0m escudeiro arregão e mau-caráter, só mesmo ser parecido com aquele unicórnio!

E eu aqui desempregado...


Sério, acabei de ler no Terra:


"Papagaio-celebridade morre aos 31 anos nos EUA

O papagaio Alex, que ganhou fama pelos EUA por sua capacidade de comunicação, morreu na última semana, aos 31 anos, segundo informou sua proprietária nesta terça ao The New York Times. O papagaio morreu no último dia 7 de setembro, em sua gaiola, aparentemente de causas naturais."


U-a-u! Parem as rotativas, o papagaio Alex morreu. É sério que o Terra paga salário a um profissional pra postar esse tipo de informação relevante no seu site? É sério que tem alguém fazendo matéria sobre o papagaio que morreu e eu tô aqui escrevendo nesse blog pra ninguém ler?

Depois dos trinta todo vagabundo vira artista

Eu tenho a impressão de que todo mundo que eu conheço virou artista. Todo cara e toda menina que eu lembro está de certa forma hoje envolvido com o mundo das artes e suas ramificações. Todo mundo colando adesivo com desenho de bicho no poste, fazendo camisa, tirando foto artística, desenhando, fazendo tatuagem, virando estilista. Pô, tenho até conhecidos que eram meio analfabetos e tão lançando livros!

Isto posto, queria dizer que achei fantástico saber que um grupo de escritores foi convidado por uma editora que deve estar limpando a bunda com notas de cem dólares para viajarem cada um prum canto do mundo e escreverem um romance lá ambientado. Melhor dizendo, prum canto do PRIMEIRO mundo, é claro. Porque Líbano, Angola, Coréia do Norte e Albânia é muito legal de se conversar sobre numa sala com ar-condicionado e exaltar a nobreza da gente pobre de lá, mas pra inspiração é foda! Não tem Starbucks, fica complicado.

E, na moral, desde quando nego precisa ir pro outro lado do mundo pra escrever um romance sobre o Japão, por exemplo? O Umberto Eco viajou no tempo pra escrever O Nome da Rosa? Tipo... já existe google, tá?! E mais, pra que ir até o outro lado do mundo pra escrever um romance que, mudando o sobrenome do protagonista e do café que ele frequenta, poderia se passar tranquilamente na esquina da casa do escritor (o outro único lugar do mundo que ele deve conhecer). Como diria meu velho, sábio, preconceituoso e paranóico pai, "isso SÓ pode ser esquenta-esfria de dinheiro sujo!!!".

Não há romance que resista ao Casseta & Planeta

Eles se conheceram nesse grande parque de sociabilidade informal que é a internet. Era uma noite modorrenta de sexta-feira para ambos e eles pensaram juntos em dar um pulinho ali numa sala virtual, conhecer alguém com um nome falso usando outro nome falso e ver se conseguiam "arrumar pra hoje".

A conversa, ou ao menos aquela sequência de onomatopéias, emoticons e pontos mal-empregados que a gente tende a chamar de conversa quando se está na internet, evoluiu rápido. Rápido como mandam as regras das relações interpessoais virtuais/reais na rede, é bom dizer. Não pensavam muito em outra coisa ele e ela e, apesar de quererem se "arrumar pra hoje", deixaram o esquema pro dia seguinte. Apartamento dele, cama dele, vinho argentino dela e apetrechos eróticos de ambos.

Esses encontros não são do tipo que fazem com que você se aprofunde na personalidade da pessoa. Vamos deixar pra nos aprofundarmos em reentrâncias mais úmidas e prazerosas, né?! Além do mais, eles sentiam que já se conheciam há séculos - talvez ele fosse o MACHO_RJ_29 com quem ela teclou febrilmente num feriado de Corpus Christi há três anos atrás. Ela teclava com o mesmo jeitinho da saudosa ruivinha carente... não, não pode ser, ela nem é ruiva!!! - e já sabiam tudo o que precisavam: ela não era casada, ele não era pervertido, ambos não tinham doenças sexualmente transmissíveis e, ao que parece, não mentiram muito nas suas descrições.

Aliás, ela tinha que admitir que ele não exagerou em nada mesmo. Tinha o corpo malhado, a barba dispicentemente mal-feita, pele bronzeada e "um caralho grande e grosso que vai te fazer gozar muito, neném!". E fez. Quatro vezes naquela noite. Ele dominava ela e ela se entregava a orgasmos intermináveis nas mais diferentes posições sobre a cama, sob a cama, ao redor da cama e com a cabeça encostada no criado-mudo e as pernas apoiadas no armário embutido. Quando ele convidou ela pra, afinal, dormirem juntos, ela aceitou sem pestanejar. Um pouco por estar exausta até mesmo para se levantar e chamar um táxi, mas muito porque realmente se afeiçoou a ele e estava adorando a companhia daquele estranho tão íntimo que começava a fazê-la acreditar que talvez aquilo pudesse dar certo. Foda-se o que sua mãe falava sobre aquele hábito de tentar conhecer homens pelo computador, era o fim de suas noites pela sala Solteiros(as) Fogosos(as) - RJ do Uol. E que ele não fosse exatamente como seu príncipe encantado do chatroom, foda-se de novo, ainda era bom o bastante e ela dormiu acalentando esse devaneio.

No dia seguinte combinaram de ir ao cinema. Filme dos Simpsons foi o que ele sugeriu, ela estranhou, mas não ligou muito. Transaram mais duas vezes na mesa do café que ele preparou pra ela com torrada, queijo minas, suco de laranja e sucrilhos e toddynho pra ele antes de ganharem a rua.

Quando chegaram no multiplex do shopping com as entradas já compradas por ele via internet e após uma providencial passada num Mc Donalds para ele ganhar um bichinho do Shrek na promoção, ela disse a ele que não estava muito certa se queria ver um desenho animado, que não era muito seu estilo e que ela achava que ia achar um saco. Ele tratou de acalmá-la e reforçou como o desenho era divertido e crítico e ácido: "eu agarantiu, hehe!". Ela sorriu, concordando sem muita convicção, e ele a chamou para a fila de entrada: "entchão vamiu que o filmiu já vai começario, hehe!". Ela pediu um minuto, disse que ia ao banheiro e, com lágrimas nos olhos, correu para bem longe dali.

Mais um sonho destruído. Os desenhos animados, os sucrilhos e os brindes do Mc Donalds eram facilmente contornáveis, mas ela nunca poderia ter um Príncipe Encantado - mesmo daqueles que você encontra no chatroom do UOL - que gostasse de imitar o Seu Creysson. De volta aos Solteiros(as) Fogosos(as), merda!

segunda-feira, setembro 10, 2007

Amor e Folia (nada a ver com Los Hermanos, mais pra death metal old school)

Pedro Roberto conheceu Mariana num bar, naquele período de férias carnavalescas em que a cidade ganha ares de praça de guerra devastada por foliões e quando os 37 cariocas que não gostam de carnaval vagam pela cidade como personagens de algum episódio de Além da Imaginação sobre sobreviventes de uma hecatombe momesca. Fosse qualquer outra época, eu seria obrigado a dizer que a empatia foi mútua e instantânea, mas o período carnavalesco permite que fiquemos despidos de eufemismos e digamos a verdade: ele ficou louco pra comer e ela louca pra dar. Não precisaria de muita explicação pra isso também, tendo em vista que Pedro Roberto seria facilmente apontado como um tipo interessante numa rodinha de meninas, Mariana era uma feliz combinação de pernas, seios e bunda com olhos hipnóticos e um sorriso que intimiva sua decifragem, ambos eram bem-humorados, medianamente inteligentes e já estavam, como diz o poeta, "prá lá de Bagdá".

Do bar pro apartamento da mãe de Pedro Roberto foi um pulo (literalmente dois pulos, sessenta passos e meia dúzia de cambaleadas). O casalzinho adentrou o quarto, o menino agradeceu às caipirinhas que a mãe bebeu na saída da Banda de Ipanema e o consequente sono de pedra, colocaram um sonzinho no mini-system, trancaram a porta e mandaram ver. Mandaram ver meeeeesmo!!! O que se seguiu ali teve muito pouco a ver com amor e se assemelhava mais ao indescritível chamado da natureza versão Kama-Sutra.

Lá pelas tantas, Pedro Roberto já sapecando o iá-iá há alguns bons minutos, atordoado com o rebolado e as coxas rijas de Mariana que davam a impressão de poder quebrar-lhe o pescoço quando seu orgasmo se aproximasse, sua performance incrivelmente atlética e aquele negócinho que... ai meu deus... ela fazia com a língua, Mariana deu sinais de que estava prestes a gozar. O garotão não teve dúvidas e, para selar a boa impressão deixada ao longo da foda, acelerou as estocadas não dando bola para o cansaço e para um princípio de câimbra na batata da perna esquerda. A técnica deu resultado e os espasmos corporais e a respiração de Mariana foram ficando mais fortes e rápidos. Os ohs e ahns deram lugar a um gemidos gutural que evoluíram rapiamente para um grunhido gutural, uma espécie de apelo grindcore a meio-tom clamando para que Pedro Roberto não parasse, que a fizesse gozar como nunca. Grunhidos guturais grindcore que lembravam aquelas coisas que o Carlos Vândalo fazia entre os versos do Dorsal Atlântica seguidos de bufadas tão fortes que pareciam um relinchar de cavalo. Carlos Vândalo e um manga-larga eram as imagens sonoras ali naquela batalha sexual. "Ouuurgh, huuuung, ooourgh, me faz...gozaaaaargh... buuuufff, buuuufff... me foooodeeerk... buuuffff!".




Não rolou. Pedro Roberto brochou fragorosamente quando a menina parecia que ou teria o orgasmo mais forte de sua vida ou gravaria os vocais do Marduk deitada na cama de pernas abertas. Mariana ficou puta, se sentiu ofendida e foi embora sem esconder a decepção com o que ela considerou algo proposital. Nunca mais se viram, ficou por isso mesmo, ficou pelo carnaval.

Poderiam ter sido um grande casal, foderiam incontáveis vezes e gozariam horrores, mas não há pau duro que resista a Carlos Vândalo e relinchos de um manga-larga. Ainda bem que mamãe não acordou.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Um ode ao AX-1 ou Tragam meus anos oitenta de volta!


Estive pensando aqui o quão falso e tristonho é esse dito revival oitentista na música. Killers, Artic Monkeys, Franz Ferdinand, Klaxons e todas essas bandas tentando soar como o Gang of Four e usando roupas flúor e cabelos esquisitos. Tudo isso é merda. M-e-r-d-a, amigos! E querem saber o por quê? Bom, eu pessoalmente não aceito um revival musical oitentista que não enalteça e reconheça a superioridade do teclado-guitarra (ou teclatarra como costumávamos chamar nos bons e velhos tempos) sobre todos os demais instrumentos.


É isso mesmo, o teclado-guitarra era o instrumento perfeito. Nada traduzia mais atitude e rebeldia do que ele. Era como se aquelas linhas aerodinâmicas e aquele som sintetizado gritassem em nossos ouvidos "I will go erudito, but I still can fucking ROCK this shit off!!!!". Sem perdão, era assim que as coisas eram com um teclado-guitarra a adicionar seu toque melodioso/furioso na banda.


Para vocês que chegaram um pouco mais tarde, podemos dizer que a importância do teclado-guitarra está para a música dos anos 80 assim como aquele violão sem corpo, apenas uma silhueta feita de espuma e com a mão embutida na escala está para o Caetano Velloso hoje em dia. Ou para o Jorge Vercilo. Ou para os dois juntos!


Portanto eu vaticino, nenhum revival estará completo enquanto eu não vir um desses garotos ingleses (ou ameircanos querendo ser ingleses ou brasileiros querendo ser americanos que querem ser ingleses) esmerilhando um solo num imponente AX-1 da Roland. For those about to rock... We salute you!