terça-feira, outubro 30, 2007

Deus falou comigo ou god is dog

Eram três da tarde e eu estava sentando no sofá trocando os canais da tv a cabo sem prestar atenção a nenhum programa em especial quando um cachorro preto de três pernas abriu a porta da cozinha e caminhou em minha direção. De quem era aquele cachorro e como ele desenvolvia com graça apesar da falta de uma perna foram dúvidas sopradas na minha cachola, dúvidas que se dissiparam quando, depois de sentar e coçar a orelha, ele falou comigo. "Olá Renato, como vai?" foi o que ele disse, e sua voz soava tão sábia e pacífica que, por mais ilógico que fosse, me manteve sentado e prestando atenção em sua apresentação formal ao invés de me atirar pela janela por pensar ter enlouquecido definitivamente. O cão de três pernas continou falando de maneira pausada, eu poderia dizer até sussurada, caso cães tivessem lábios, e eu permanecia prostrado no sofá entre desacreditado e curioso, somente ouvindo o que ele dizia sem me preocupar com a verossimilhança e o fantástico da coisa toda.

"Eu sou Deus, Renato, e vim ter contigo", foi a forma que o cão achou de me explicar o porquê dele estar ali, sentado no chão frio da sala de um apartamento de classe média em São Paulo. Eu não podia acrditar, e não pelo fato de achar impossível que um cão decida falar a língua dos homens, mas porque não acreditava em deus. Era um ateísta convicto e, desse o animal de três pernas qualquer outra explicação, seria mais plausível e mais passível de minha crença que afirmar que era uma entidade imaterial que cientifica, filosófica e praticamente inexistia para mim. Decidi desafiá-lo a provar que ele era realmente quem dizia ser:
- Eu entendo que assumir a forma de uma criatura ordinária, deficiente e frágil é algo bem típico de um deus cristão, mas o negócio é que...
O cachorro-deus me interrompeu:
- Mas quem disse que sou um deus cristão, Renato? O cristianismo, assim como qualquer outra religião, é uma invenção de vocês homens que pouco tem a ver comigo. Além do mais, a razão de ter escolhido essa forma para vir falar-lhe é justamente porque eu sei que lhe causaria compaixão e amabilidade ao invés de temor paranóico. Por favor, não ofenda minhas intenções com a agenda cristã!

Nisso deus, ou quem quer que ele fosse, estava certo. Nada era mais capaz de me desarmar que a imagem de um cachorrinho cotó, mas insisti para que ele me provasse sua onisciência:
- Se você é mesmo deus, então me diga o que eu estou pensando agora! - falei em tom de bravata.
- Você está pensando em como é mais inteligente que eu - respondeu o cão sempre ponderado.
- Ok, mas se você é deus de verdade, então você pode dizer algo sobre mim que mais ninguém sabe, algo que sempre neguei, que nunca admiti para nenhuma pessoa nesse mundo.
- Você, no fundo, acredita em mim - falou o deus cotó e de pêlo brilhante com a placidez de quem traz consigo toda a verdade do universo.
Fiquei calado, procurava rememorar ocasiões em que meu ateísmo tenha vacilado, em que eu inquiri a certeza da inexistência, em que eu tenha buscado respostas além das provas do cientificismo.
- Fique tranquilo, você não tem consciência de que acredita. Você nem ao menos é capaz de, objetivamente, dizer que acredita em mim, mas eu sei - acalmou-me o cachorro.
-... Então você é mesmo deus? Você existe!
- Não, eu não existo, e nisso vocês e todos os outros ateístas do mundo, mesmo aqueles que gritam meu nome em desespero na hora mais negra de sua existência, estão certos. Existir não é comigo. Eu sou!
- Falando assim você soa bem convencido para um cachorro de três patas, sabia? Se você é, e não existe, porque assumir a forma de um animal, por que não simplesmente sussurar sua condição aos meus ouvidos?
- Bom, já havia tentado isso antes com resultados pouco frutíferos. Não deu muito certo com Nietzsche e Nijinski, os caras terminaram meio queimados, né? Achei melhor parar com essa estória e me assumir como algo em que vocês homens crêem piamente.
- Um cachorro perneta?
- Não, um ser inferior. É impressionante como vocês são capazes de acreditar em qualquer coisa desde que ela seja menor, mais frágil e menos inteligente. Essa insegurança e presunção humanas me cansam!

Eu me via diante de uma situação de absurdo tal, sentado no sofá conversando com um cachorro que dizia ser deus, que o mínimo que eu poderia fazer era acreditar em todo aquele circo fantástico transcedental que se armava para zombar da minha falta de fé e, de uma vez por todas, embarcar na verdade de tudo aquilo. Se deus decidiu por bem tomar a forma de um cão sem uma das pernas apenas para meu contento e de todos os lugares possíveis do universo, entrar na sala do meu apartamento, alguma mensagem especial ele trazia para mim.
- Ok deus, então o que te traz aqui?
- Nada... - respondeu deus enquanto lambia suas partes caninas.
- Ora, vamos lá - sorri demonstrando cumplicidade - Qual a minha missão?
- Sua missão, como assim, sua missão?
- Oh deus, numa boa, sem esse clichê de mensagens cifradas, informação truncada e parábolas que, se você é deus já deveria saber, eu não vou conseguir entender! Colé, se você veio até aqui, alguma coisa de especial eu tenho pra fazer na vida, né? Ora bolas...
- Não - e eu posso jurar que ele sorriu.
- Como não?
- Bom, quer dizer, você vai arrumar um emprego, vai casar... Não com essa sua namorada, uma outra menina que você vai conhecer no seu trabalho. Terão dois filhos, vão morar nesse apartamento que você herdará com a morte de sua mãe e vai ser medianamente contente como 98% da raça humana. Ah, e vai morrer de causas naturais aos 79 anos! - disse deus se espreguiçando sobre uma faixa de luz que entrava por uma fresta da cortina e virnado-se de costas para mim em despedida.

Enão era isso? Nenhuma epifania, nenhuma missão, nenhum segredo sagrado para carregar como um fardo especialíssimo até o fim de minha estada na Terra. A visita de deus fora exatamente isso, somente uma visita, uma curiosidade do criador para como uma de suas criaturas, escolhida ao acaso como quase tudo nessa vida. A ironia mais mordaz da confirmação da existência, ou melhor, de presenciar a divindade sendo em toda sua plenitude, tinha sido descobrir que eu não ia dar em merda nenhuma. Não que eu esperasse ser um profeta ou algo do tipo, mas depois que aquele cachorro entrou aqui... Poxa, preciso admitir que comecei a fazer planos. Quem deus pensa que é para invadir minha casa, tirar-me da letargia diária em frente à tv e restituir minha fé antes de sair pela mesma porta que entrou abanando o rabo? Ótimo, tudo o que eu ganhei com a prova da presença de deus entre nós foi a confirmação de quão insípida minha vida continuará sendo e uma poça de xixi de cachorro em cima do tapete da minha mãe. Deus é realmente inacreditável!

sexta-feira, outubro 26, 2007

Relacionamentos x Churrascarias rodízio

Não se sabe que lógica seguiu Carlos Eduardo quando ele convitou Maitê para um jantar planejando confessar-lhe sua incapacidade de comprometimento. Não que usar um restaurante como cenário para dar fim a um relacionamento fosse algo inédito ou paticularmente estúpido, a infelicidade de Carlos foi escolher logo uma churrascaria rodízio. De tantos lugares menos populares, mais discretos e menos invasivos, Carlos achou por bem ter "aquela conversa séria" num domingo de tarde no Porcão do Flamengo. Ok, a seu favor é preciso admitir que o restaurante escolhido camuflou perfeitamente a inteção para Maitê, que foi totalmente desarmada. O que fazer, o homem não vivia sem aquele corte de maminha mal-passada com gordurinha...

Sentaram-se e mal começaram a conversar quando a mesa foi entupida de cestinhas de pães, azeitonas, manteiga, geléia e ovos de cordorna. Carlos Eduardo segurou as mãos de Maitê e em tom grave lhe disse aproximando seu rosto do dela:
- Te trouxe aqui porque precisava te falar uma coisa...
- Os senhores vão beber o quê? - quis saber um garçom, não o mesmo que havia trazido o couvert.
- Ahn... Ainda não sabemos, tá? - retrucou Carlos Eduardo, voltando sua atenção para Maitê que começava a demonstrar sinais de ansiedade e desconfiança:
- Você sabe, amor, quando nos conhecemos eu estava numa fase conturbada e foi muito saudável ter engatado um romance, mas... Vem cá, o senhor vai ficar aqui ouvindo nossa conversa? - exasperou-se Carlos Eduardo ao notar que o garçom continuava ali prostrado, caderninho em mãos, pronto para anotar os pedidos de bebida.
- Perdão, senhor?
- Quero saber se o senhor vai ficar aqui escutando o que eu tenho pra falar pra minha namorada!?
- Bem, é que os senhores... vocês ainda não disseram o que vão beber.
- É porque a gente ainda não sabe, pode ir!
- São normas da casa, senhor, me desculpe. Eu só posso deixar a mesa depois que vocês escolherem suas bebidas.
- Tá bom!!! Porra... Sei lá, me traz uma água tônica com limão e o que? Um suquinho de laranja pra você, amor? ...Um suco de laranja pra ela, por favor.

O garçom finalmente pôde deixar a lateral da mesa e Carlos Eduardo pode voltar a falar para Maitê que foi uma fase difícil da vida dele, que ele estava precisando de segurança naquele momento e tê-la encontrado foi ótimo, mas que a verdade dos fatos é que era da natureza dele ser um homemem mais...
- Linguiça, senhor?
- Não, obrigado!
Enfim, ser um homem mais livre. "Não, não você me prenda, Maitê, não estou dizendo isso, por favor!", mas é que Carlos precisava se sentir um pouco mais leve e devido a isso, ele achava que o melhor seria...
- Maminha de alcatra?
- Opa, essa eu vou, hein? Maitê, meu amor, prova que essa maminha deles é divina. Pra mim pode cortar com um pouco de gordura, tá?
Era simplesmente impossível que Carlos Eduardo falasse sobre sua natureza e destrinchasse as suculentas fatias de maminha ao mesmo tempo, então, optou por se concentrar em paenas mastigar a carne, enquanto baixava à mesa aquele irritante som de garfos e facas batendo no prato e travessas de acompanhamento sendo passadas de um lado da mesa para o outro. Maitê também calada, mastigava seus pequeninos pedaços desconfiada, quase se tocar no suco.

Quando já havia limpado o prato de farofa, maminha, molho à campanha e umas três fatias de picanha que um garçom jogou-lhe no prato sem perguntar nada, se sentiu motivado novamente a explicar a situação para sua namorada:
- Então, do que a gente tava falando mesmo? Ah é, bom, o negócio é esse, sou eu mesmo. Não é clichê, é que eu sou assim, de verdade, é minha natureza. Eu não sou homem de uma mulher só, Maitê!
A frase saiu da boca de Carlos Eduardo penetrando os ouvidos de Maitê em slow motion e engasgando junto com os últimos pedaços da picanha (que o garçom também jogou-lhe no prato sem permissão) em sua garganta. Era como se para ela, naquele momento, só houvesse a boca de Carlos emporcalhada de gordura e farofa a se mover vagarosamente, vomitando aquela frase tenebrosa. Maitê desabou em um choro convulsivo.
- Que isso, amor?! Não, por favor, não faz isso, vai... Você sabe que eu não suporto ver mulher chorando - O pedido só fazia Maitê chorar ainda mais.
- Eu... eu não acredito! - soluçava a namorada, chorando sobre a travessa de bananas fritas.
- Pára Maitê, não faz assim! Olha, me ouve, vai... Você precisa entender... - Carlos implorava na tentativa de que sua namorada chamasse um pouco menos de atenção no salão da churrascaria com seu choro.
- Carlos, como você... como você me chama e fala uma coisa dessas? - Não haveria tentativa que fizesse Maitê parar de chorar. Também convenhamos, onde já se viu acabar relacionamento numa churrascaria do Flamengo?

- Cupim?
- Ahn?
- O senhor aceita Cupim? A madame?
- Não, não... sai daqui com isso! - Carlos espantou o garçom para longe da mesa.
- Amor, pára de chorar, vai!
- Chuleta na brasa?
- Não, obrigado!
- Baby beef?
- Não, porra, não quero! Eu coloquei aqui esse negócio virado pra cima, tá vendo? Esse cartãozinho vermelho com um porco dizendo "não, obrigado" não é pra isso? Não quero, não quero baby beef nenhum então, porra!
- Desculpe, senhor...

Carlos Eduardo então voltou-se para Maitê que parecia um pouco mais calma e agora só bufava, os olhos ainda marejados fustigando o namorado, odiando toda aquela situação, as famílias barulhentas,o cheiro de gordura no seu cabelo e toda a extensão do bairro do Famengo.
- Maitê... Sejamos razoáveis! Nós dois sabíamos que isso não ia dar certo, né? - Carlos buscou a concordância da namorada tentando segurar suas mãos, que ela rapidamente desvencilhou.
- Não seja assim, ora bolas! Você assim está me tolhindo, Maitê!!!
- Te tolhindo? Te tolhindo, Carlos Eduardo?
- Você entendeu o que eu quis dizer...
- Eu não entendi nada, NADA! Você me traz pra uma churrascaria rodízio no meio de um domingo dizendo que precisávamos ter uma conversa séria e tudo o que tem a me dizer é que não é da sua natureza ter uma mulher só? - Maitê começou a demonstrar um crescendo de fúria feminina que fez com que Carlos, por via das dúvidas, tirasse de perto dela as facas e demais objetos cortantes na mesa.
- Calma, amor, você entendeu tudo errado...
- Entendi errado? Entendi errado? O que tem para entender errado em "não sou homem de uma mulher só", seu canalha?
- Amor, por favor, os outros...
- Os senhores querem ver o carrinho de sobremesa?
O carrinho de sobremesas foi demais para Maitê:
- NÃO! Sai daqui agora! O senhor ainda não notou que esse crápula está aqui acabando comigo no meio de uma churrascaria?! Você não conseguiu perceber isso, seu imbecil?!!! - berrou uma desconsolada Maitê, muitos decibéis acima, cagando pratos para todas as famílias no salão.
- Tem certeza que não quer experimentar os profiteroles?
- SAAAAAAI DAQUI!!!!!
- Amor, come um doce que de repente te acalma...
- Você escute bem uma coisa, Carlos Eduardo: eu vou me levantar dessa mesa agora e estarei esperando no carro. Eu acho muito bom que você esteja lá em cinco minutos e, ou pense muito bem nessa sua conversa séria, ou me leve daqui direto para acabar comigo numa joalheria! - E levantou-se caminhando em passos firmes no piso escorregadio em direção ao estacionamento. Uma mulher que sabia se impôr.
- ...
- Sobremesa, então, nem pensar, né senhor?

quarta-feira, outubro 24, 2007

Raul Seixas numa hora dessas?!

Estava eu lá, empolgadíssimo, excitado, admirando o corpo e a risada sexy da menina enquanto a enlaçava e pressionava meu corpo contra o seu. Num canto da boate escura, quatro e meia da manhã, beijando e chupando e percorrendo o corpo com as mãos e sentido os peitos, a bunda e as coxas há horas sem cansar. Ofegante, pau duro a roçar-lhe a barriga, nem poderia imaginar que uma noite monótona de sexta-feira ainda poderia reservar surpresas como essa. E tão tarde! Elas estava bêbada, bastante embriagada, mas ora bolas, eram quase cinco da madrugada. A manhã já se desenhava tímida lá fora, um dia todo de sábado e eu só pensava em repetir a sessão com mais tempo, mais intimidade e, quem sabe, com mais sorte. Meu amigo vem e cutuca minhas costas, aponta para o relógio e diz que está indo embora naquele momento, sem chances de esperar por mais quinze minutinhos que sejam. Estou ali, entre os beijos da menina bêbada e uma providencial carona que me livre de uma espera no sol torturante pelo primeiro ônibus que me leve para casa. Até o DJ já decidiu encerrar a noite e toca aquela música feita exatamente para avisar que DJ também tem casa e também fica cansado. Olho para ela, peço o telefone, ela grogue anota algo semelhante a números nas costas da minha mão. "Eu preciso ir... Não queria, gatinha, mas tenho que ir. Tá tardão, beleza? Te ligo amanhã, pode ser? Adorei você, vamos sair mesmo amanhã, eu quero muito, mas agora eu vou..." Ela me agarra e me beija com a boca com gosto de cerveja e drinks adocicados. Me desvencilho dos seus abraços sonolentos, ela não gosta. A menina então me olha e dispara colocando a mão sobre a minha boca, como se quisesse impedir que eu falasse algo que eu não ia "Quer ir, vá... E faça o que quiseres, pois é tudo da lei, da lei!". Ela engata uma declamação claudicante de 'Viva a Sociedade Alternativa' do Raul Seixas enquanto eu me afasto pé ante pé, um pouco assustado e muito constrangido. Grande Raulzito, acabando com meus malhos incríveis desde 1991.

segunda-feira, outubro 22, 2007

A Alemanha deveria ser mais grata às suas bandas de thrash metal

Notei que mais que me entreter, a música teve um papel cabal na construção do meu caráter diplomático. É, exatamente, diplomático! Vejam vocês, se não fosse a música, eu não daria a menor pelota para países como Suécia, Finlândia, Noruega... Eu nem preciso viajar milhas de distância para citar países exóticos que são sempre lembrados, mas apenas em situações como essa: Turcomenistão, Quirguistão, Butão e todo outro terminado em ão que, para quem não sabe, é o sufixo grego para exótico, desconhecido e perigoso. Enfim, pensem em países como o Canadá. Oh, meu deus, o Canadá! Se não fosse pela boa música canadense, eu juro para vocês que poderia ignorar solenemente toda sua extensão geográfica. Vocês têm idéia do que é isso, o poder da música impedindo que todo um povo e sua cultura não sejam ignorados por mim? É, dá o que pensar...

E indo além de países, digamos, carne de vaca, eu poderia citar os Estados Unidos. Se não fossem eles o lar de metade da música mais criativa e interessante produzida no século passado, o que sobraria para gostar ali? Não, sério, e em tempos de governo Bush ainda? Filmes do Charles Bronson e cheeseburger não são capazes de salvar o destino de toda uma nação, não mesmo! E já que falamos dos EUA, por que não citar a Inglaterra, que dividiu com nossos companheiros americanos o berço do que mais influente foi feito em termos de música? Existe outro motivo além da música para se importar com esse país? O clima, a fleuma britânica, a comida???

Obviamente existem casos de países que a boa música é só um bônus, um mimo para os ouvidos dos que se importam com isso. Como a Jamaica ou a Holanda, por exemplo. Você sabe, a Holanda nem precisaria fazer boa música, aliás, eles não precisariam nem mesmo fazer música de qualquer tipo. Eles legalizaram a prostituição e as drogas, o que mais as pessoas podem querer para começar a gostar deles? É o mesmo caso da Jamaica, se você gosta de maconha, praia e espancar homossexuais, você não precisa de mais nenhuma razão para simpatizar com eles!

É claro, existem países, como a nossa republiqueta, de que você gostas APESAR da "boa música", mas são casos raros, únicos. O que realmente me chamou atenção para toda essa relação diplomático-musical foi perceber que se não fosse a música, eu não veria a menor razão para a existência da Alemanha. Não seria o simples caso de ignorar, a música e apenas ela redime a Alemanha de uma existência meio inescrupulosa, convenhamos. Vocês hão de concordar comigo nessa, a Alemanha não nos dá a chance de nos afeiçoarmos a ela quase nunca. Futebol, comida, mulheres? ...Política???? As únicas pessoas que podem ter qualquer tipo de simpatia não-musical pela Alemanha são idiotas que ligam para carros ou apóiam o nazismo, e essas pessoas, todos nós sabemos, não merecem adignidade de nossa consideração. Porra, nem mesmo o pastor alemão é um cachorro que desperta afeto! Portanto, quero que vocês examinem com mais carinho a importância de grupos como Kreator, Assassin, Violent Force, Sodom, Destruction, Exumer... Todos nomes um pouco agressivos, concordo, mas eles estão fazendo sua parte para prevenir um ataque de proporções mundiais ao seu país e criando um pouco de simpatia para com os alemães no coração dos homens de boa-vontade ao redor do mundo. E isso já é motivo bastante para que eu diga: Thrash metal alemão, muito obrigado!

Falar muito é superestimado

Algo que venho tentando com visível empenho ao longo desses anos é diminuir consideravelmente o meu vocabulário. Eu sei, a maioria dos idiotas aí fora optariam pela escolha óbvia de incrementar seu repetório de palavras. Não esse idiota aqui. Conheço detalhadamente os problemas de incompreensão e constrangimento que um vocabulário vasto pode causar, ademais, por que nós precisamos de tantas palavras hoje em dia? Um terço delas nós nem empregamos corretamente ou sabemos o significado. Ora bolas, eu digo a vocês, o meu objetivo é chegar num nível tal de hermetismo que seja possível (e eu realmente acredito que é) se comunicar com apenas cinco expressões. É isso aí, cinco expressões, nada mais que isso: "E aí?", Podes crer", "Foda", "Porra" e "Caralho". É esse meu objetivo, chegar às cinco expressões vitais e de lá nunca mais sair. Eu teria uma afirmação de crença, uma indagação bastante maleável e o resto é tudo com o meu pirú. Pronto, qualquer problema, fale diretamente com ele.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Descobri porque odeio a Cora Rónai

Da longa lista de celebridades e gente conhecida que eu odeio secretamente, um nome figura na parte dedicada às lembranças pouco recorrentes. Seção de jornalistas cretinos, área dos nomes poucos recorrentes, para ser mais exato. Mas caralho, é só porque eu ainda insisto em ler O Globo (não que fizesse muita diferença ler outro jornal... Bom, talvez o JB acabasse mais rápido, tá quase um zine!) e, mais que isso, ainda me obrigo ao exercício masoquista de ler a coluna final do Segundo Caderno! Sério, tem melhor cabide de emprego nessa terra que ser colunista do caderno de cultura d' O Globo? E nesse cabideiro, alguém tem mais boa vida enganando os outros que aquela senhora, a Cora Rónai? Deve ser ótimo viver de escrever sobre celular que bate foto, sobre não sei quantas trocentas merdas de gatos vivem no seu apartamento, sobre dar volta de bicicleta, viajar com as despesas pagas e a capivara da Lagoa. U-A-U, não sei como o resto da humanidade passa os outros seis dias de sua semana sem o especial ponto de vista de Cora sobre o mundo. Mas acho que fora minha inveja gigantesca do sucesso alheio e o fato que eu queria muito um empreguinho desses para mim, o que me faz odiar de verdade a colunista toda vez que sua existência retorna a minha mente é o fato de que não há nada mais enjoativo, chato e constrangedor que esse perfil tia-moderninha-que-manja-de-internet-e-se-indigna-com-o-governo. Eu poderia apostar que a Cora Rónai é gorda, baixinha, usa aquele corte de cabelo de mãe divorciada pós-quarenta (aquele que é bem curtinho e pintado de vermelho da Wellaton) e se veste com umas roupas "bem transadas" totalmente equivocadas.

Prontodesabaphey!

Cortez, o personagem mais chato de todos os tempos

Cortez passa os dias sentado no escuro, esperando que uma luza venha à cabeça de outro e lhe diga o que fazer. Ele foi asim batizado em homenagem a uma música do Neil Young que seu criador nunca ouviu, mas gostou do título, achou poderoso. Mas esse Cortez não é um assassino, não é nem mesmo um roqueiro folk norte-americano. Esse Cortez aqui é só um personagem sem muita profundidade criado às pressas por um autor preguiçoso e sem saco para extender-se em descrições minuciosas do perfil humano. Até aí foda-se, Cortez não liga. Na verdade, Cortez não sabe, e está mais ou menos feliz com sua vidinha de ser meio vivo esperando para acontencer. Ele fica ali sentado no escuro, anda pra lá, anda pra cá, senta, estica as pernas e cola o queixo no peito. Fica só esperando esse porra aí ter uma idéia e ele botar pra quebrar.

Apesar de não ter consciência de sua falta de profundidade literária, da ausência de um perfil mais elaborado, Cortez desconfia de que falta alguma coisa a ele, algum mote dramático que impulsione sua carreira de personagem fictício. Desconfia não, ele tem certeza! Olha para um lado, para o outro, nada de especial. Tira a camisa, tira as calças, se admira nu no espelho, nada de especial. Pensa em antigas namorados, em alguns amigos, certos acontecimentos... Nada! Puta merda, com tanto lugar para nascer, Cortez foi logo aparecer na cabeça desse autorzinho de merda?! Se ele ainda vivesse num blog mais movimentando, mais popular, quem sabe? Talvez os comentários incentivassem alguma estória, algum fato corriqueiro recheado de ironia social para ele estrelar.

Quando começa a pensar muito, Cortez fica deprimido. Se vê um fracassado completo e quer chorar a fatalidade, mas nem sabe bem como e nem vê muito porquê. Ele fica com raiva, mas uma raiva meio resignada que está mais para uma indignação conformada, e amaldiçoa sua sorte. Se descobre um merda, mas não pode deixar de pensar que se ao menos fosse um desses merdas criados pelo Rubem Fonseca, aquele tipo de perdedor que tem no sexo a redenção de sua existência, tudo seria bem mais bacana. Mas não é, é plenamente medíocre, e o que é pior, sem nenhum viés heróico e/ou poético nisso. Ah, se Cortez ainda fosse um daqueles malditos escritos por Bukowski ou John Fante, sem redenção, mas com uma aura meio santa, com um sentido meio nobre no meio de tanta sujeira e revés. Não é. Cortez não serve nem como alegoria, alter-ego ou crítica a qualquer coisa que seja. Cortez é só um personagem chato, ruim, criado por impulso sem muita razão e que agora seu autor não sabe o que fazer com ele.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Lista de exigências

Acordei tarde com a cama empapada de suor. O calor úmido e sufocante que toma as ruas e invade meu quarto me força a levantar. Ainda zonzo caminho até o banheiro tateando as paredes do corredor. Uma olhada no espelho e eu sou exatamente aquilo que a imagem reflete e os sintomas indicam: a nuca dura doída, os olhos negros e o lábio pulsante. Eu sou um saco de pancadas. Na palma da minha mão garranchos borrados são resquícios do que deve ter sido a noite anterior. Algumas decisões que tomei e não me recordo. Eu tenho uma lista de exigências escrita na palma da minha mão.

Não há muito para se lembrar das últimas horas do meu dia anterior. Mais uma surra decerto, mais uma vez refazendo solitário o caminho que leva às escadas do meu prédio. Quem se importa? Eu vasculho os bolsos da calça velha apenas parar confirmar que, novamente, meu dinheiro foi tomado. Poderia fingir que não conheço os responsáveis, mas sei o nome de cada um deles. São sempre os mesmos, sempre os mesmos. Nós estamos vivendo com o mínimo necessário para nos considerarmos vivos. Estamos "apenas vivendo", como eles preferem dizer, e conformados com isso. Olho novamente a lista de exigências escrita de caneta na palma da minha mão. O suor não apagou as decisões e isso deve significar alguma coisa.

Fico encarando o escrito sentado no vaso sanitário. Eles tomam o nosso dinheiro, nos mandam de volta para nossas casas acuados, eles sabem que a gente vive mal e eles não ligam. Eu estou machucado e tenho hematomas que nunca cicatrizam por conta do abuso, mas eu não tenho medo, sou só uma vítima do pavor que eles infligem. Todo meu dinheiro, toda minha vontade, toda minha razão, todo dia eles arrancam um pouquinho de mim. A palma da minha mão fecha e esmaga a lista de exigências escrita nela, mas não para esconder, não quero que ela desapareça. Eu tenho os punhos fechados e uma lista de exigências escrita na palma da minha mão, é hora de ir para a rua.

Desço as escadas decidido, ansioso para resolver o que eu sempre soube que deveria ser resolvido, apenas adiava. É da natureza humana sempre lembrar daquilo que escolhemos esquecer, deve ser por isso que agora, pela primeira vez, as marteladas no cérebro pareçam mais suaves. O rosto marcado esboça um sorriso e uma gargalhada raivosa e desesperada ecoa dentro de minha cabeça. Na rua, o rádio de um carro estacionado sobre a calçada bloqueando minha passagem toca uma música que diz que deus é só uma criança com a fralda suja. "Podecrê...", os tambores marcam meus passos até a porta daquele bar. Eles estão lá dentro, sentandos de costas, rindo alto, orgulhosos de sua existência. Confraternizam como porcos sobre a comida sem saber que minha vingança possui o nome de cada um deles.

A pedra estoura a vidraça e acerta o gordo provocando um barulho oco e uma explosão de sangue bem no topo de sua cabeça. Pronto, eles já sabem que eu estou ali, apesar de ainda não imaginarem exatamente o que eu quero. Eu quero o que foi tomado de mim diariamente todos esses anos, seus filhos da puta! Mas minha cobrança não é em espécie, eu estou aqui para coletar meus atrasados em forma de toda dor que vocês já provocaram. A troca me parece justa e antes que o dono do bar consiga fazer que a polícia chegue e me leve dali eu já terei acabado. Eles saem prontos a me recolocarem no meu papel, mas apenas me cercam na calçada, não possuem mais tanta certeza de que eu sou um alvo tão fácil uma vez que tomei a iniciativa da violência. Enquanto eles ainda assimilam a prepotência desse merda que esqueceu-se do seu lugar, mais uma pedrada voa rápido atingindo o careca entre o nariz e a boca com toda a força que eu seria capaz de colocar.

Com os outros dois fora, agora sou apenas eu contra o manda-chuva e não sinto medo algum, pela primeira vez. Eu estou decidido e a determinação é mais assustadora que meu próprios ataques. Um soco apenas, bem colocado, justiceiro, redentor. A porrada estilhaça seu queixo fazendo que os dentes trinquem e ele adormeça com as costas queimando na calçada e os sapatos novos afundados numa poça de sujeira no meio-fio. E agora? Cata a grana nos bolsos dele, vê se ele ainda não gastou o que é seu. Não, corre, sai fora dali antes que a polícia chegue! Lá dentro do bar o dono me encara com seus olhos arregalados e o telefone grudado à orelha. As pessoas passam na minha frente, algumas param e encaram os dois homens estirados na calçada, olham pra mim e vão embora, mais preocupadas com suas prórpias vidas. Elas mal sabem que eu tomei uma decisão na noite anterior e acordei com uma lista de exigências escrita na palma da minha mão. Uma lista de exigências que dizia já basta!


Esse conto é inspirado na música List of Demands (Reparations) do ator e cantor Saul Williams. Se você nunca ouviu, baixe-a para escutar enquanto lê isso aqui.

domingo, outubro 14, 2007

A César o que é de César


De acordo com editorial da Revista de Domingo do JB, a tchurma fashion e descolada do Rio descobriu e adotou o New Rave só com dois anos de atraso. Ao menos já dá pra respirar aliviado, finalmente o estilo equivocado e obtuso encontrou audiência à altura.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Esse mundo tá todo mudado

Ah meu Deus, eu não sei o que que eu fiz pra merecer uma coisa dessas, Cleide! Ô mulher, essa menina teve de tudo nessa vida. A gente paga o curso de Turismo na Gama Filho, bota na aula de spinning, manda pra disneilândia e é pra receber uma coisa dessas quando cresce? É certo isso, Cleide? É direito isso com um pai, com uma mãe que sempre deram do bom e do melhor?
O problema... O problema foi que essa menina sempre teve o que quis. Sempre foi criada ali, ó, a pão-de-ló. Queria livro, a gente dava, pedia pra ir no museu, a gente levava. Levava no teatro, alugava filme francês, pagou cursinho de alemão. Agora taí, né? Tá ficando falada. Não soube fazer as escolhas na vida, nunca soube. Porque aquele menino, o Marcão... Ah, como esse menino correu atrás dela, Cleide! O garoto lutava jiu-jitsu, fazia pega de moto. Tá vendendo ecstasy agora, todo ano vai pra Bali, comprou casa em Vargem Grande. E essa menina quis alguma coisa? Quis nada! Foi se amigar com esse... com esse jornalistazinho!
Mas um pai não pode ficar parado numa hora dessas. Não interessa quantos anos tenha, não interessa se nasceu feia, se tem terceiro grau completo, se usa óculos. Filha minha com jornalista não casa. Não casa! Porque jornalista eu conheço, e jornalista é tudo igual. Quando não caga na entrada, caga na saída!
Não Cleide, agora você me deixa falar porque essa menina precisa ouvir poucas e boas. Ora bolas, vamos lá! Não é certo uma coisa dessas. Ficar andando pra lá e pra cá com esse pessoal de DCE, falando de política na mesa de jantar com os avós. Você me perdoe, mas eu não criei filha, não botei essa vida no mundo pra ter um desgosto desses. Eu tô avisando, se sair de casa pra casar de papel passado com jornalista que vota no partido verde eu não respondo por mim. Não respondo por mim, ouviu bem? E tamos conversados.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Humanity is the devil

Toda vez que eu acordo mais condescentende, compreensivo e de certa forma carinhoso para com a raça humana enquanto indivíduos, eu logo lembro da existência de Lars Fredericksen fazendo peso na Terra a nível de safado, lafranhudo, ridikly, escroto, péla saco, chorume humano e tudo volta ao normal. Obrigado Lars, você continua fazendo da civilização ocidental uma vergonha para todos nós!

quarta-feira, outubro 10, 2007

Casais imperfeitos III

Luís Eduardo e Tamirez se amavam verdadeiramente. O único problema era um certo pendor pra breguice romântica por parte dele. Isso e falta de dinheiro, o que era sim um agravante nesse caso. Luís Eduardo era daquele tipo que tinha idéias e ímpetos muito além de sua capacidade de realizá-los, mas Tamirez parecia ter uma enorme compreensão com toda aquelas tentativas mal ajambradas de grandes e inesquecíveis cenas românticas. Compreensão contudo não significa paciência e um dia - na verdade quatro anos, sete meses e oito dias de espera por um anel de noivado de verdade e a garantia de que sairiam da casa de seus pais - ela decidiu terminar tudo. Foi seca, rápida, prática, indo direto ao ponto e explicando os motivos de sua decisão para o namorado. Ele segurou em suas mãos e na tentativa de uma última grande e inesquecível cena romântica disparou em tom confessional: "Eu compreendo. Você pode ir, mas sempre terei as lembranças... E sempre teremos Campos do Jordão, a Paris brasileira". Esse era Luís Eduardo, gostava de deixar bem vivos na mente os esforços que empreendera.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Sobre a superioridade e perfeição de Tiririca (e família) acima dos demais pertencentes da raça humana

Não sei nem por onde começar... Tiririca ladeado por seus irmão e seu filho, o infame Tirulipa Junior. Eu tenho plena certeza de que essa é a foto mais fuderosamente FODA que eu já vi em toda minha vida. Por favor, atentem aos detalhes das vestimentas, do cenário, das poses... E da tatuagem do irmão do Tiririca!!! O cara teve os cojones necessários para não apenas mandar um leão como, reparem no detalhe, a cara do próprio personagem do irmão logo acima! Eu não sei em qual cadeião municipal ele fez, mas estou ligando pra algum tatuador e marcando minha sessão pra ON-TEM! Esse cara é desde já meu ídolo e é preciso admitir que ele sim soube honrar a família e representar a força e a real atitude das ruas. Wordzup, y'all! Reprazentin', brotha!

Fica então oficializado em decisão irrevogável do mestre controlador do universo desse fórum (eu) que essa foto é a imagem com a qual queremos ser representados por toda eternidade. Toda vez que não houver argumento, assunto ou retórica capazes de fazer calar a turba ignorante, que essa imagem venha em nosso socorro, restabelecendo a sapiência e harmonia no coração dos homens de boa vontade. Amém Tiririca, amém!


PS - Muito provavelmente só eu me lembro da música que o filho do Tiririca cantava fantasiado igual ao pai, apesar de ter sido obrigado a mudar seu nome artístico por pressão da gravadora. Muito provavelmente eu fui o único a achar esse processo entre a gravadora do Tiririca e seu filho um evento realmente triste.

Vem cá, eu te conheço?


Alguém avisa pra Mel Lisboa que não adianta tentar ser moderna e sexy quando se é a cara da Maria Clara Gueiros do Zorra Total? Faz assim, vai pra casa e se mata, tsá?!

Away.

Casais imperfeitos II

Deborah e Marlon se conheceram numa entrevista de emprego, esticaram um chopp e combinaram de trocar telefones. Marlon disse que fazia bico como modelo de nu artístico, Deborah confessou que era naturista. Se encontraram (pelados) numa praia da zona oeste, começaram a namorar logo depois dali. Não durou muito. Apesar de não haver segredos entre os dois, nunca houvera maiores surpresas. A rotina acabou com o romance.

Casais imperfeitos

Marta e Alberto tinham tudo para serem felizes para sempre, o que atrapalhou foram as carreiras. Marta era stripper em uma boates, Alberto era ator em shows de sexo explícito. Enquanto estar completamente nu era o fim orgástico de uma intermintência sensual para Marta, para Alberto era apenas o meio para o entretenimento final da platéia. Sem nenhuma possibilidade de erotismo ou pornografia, não sobrou muito para a fantasia do casal. Quando o sexo não é o meio ou o fim, a coisa não dá nem pro começo.

sábado, outubro 06, 2007

O milagre fransciscano do novo disco de Caetano Veloso




O rock pode regojizar-se e nunca mais, repito, nunca mais, encarar o espelho com vergonha de sua própria identidade. Veio para salvar, derramando sua seiva beata e purificadora sobre o gênero maldito, um disco de Caetano Veloso. Nunca mais olhai em dúvida, nunca mais vira-latas de si mesmos. Finalmente concretizadas as palavras do profeta vaticinando há tempos imemoriais que o Super-Homem viria restituir a glória, mudando para sempre o curso de nossa história. Cantem a boa nova! O rock foi ressucitado, santificado e senta agora a direita de Deus Pai num trono de elogios e louvores pois Caetano Veloso, e quem mais?, nos brindou não só com um naco de sua genialidade, mas com sua característica benevolência para com o estilo leproso e em eterna danação. Glória Caetano! Hosana nas alturas!

Porque o roqueiro é antes de tudo um fraco, um covarde! De caráter melífluo e traidor, havia enxotado a prévia salvação traziada sob as barbas de Amarante e Rodrigo Camello. Fustigou com olhar de reprovação e dedos de ódio o que julgou não estar á sua altura e nem ser feito à sua imagem e semelhança. Ó, a pretensão e soberba desse ser abjeto e pusilânime que é o roqueiro. Negar os nazarenos da Nova Ordem que humildemente ofereceram a outra face à turba insandecida brandindo as pedras da ingorância. Perdoai-os, eles não sabem o que fazem!

Mas Caetano Veloso é justo e verdadeiro e, ao invés de merecidas pragas, nosso salvador nos estendeu o conforto da vida eterna na salvação de um novo álbum. Rios de leite e mel escorrem dos mil auto-falantes enquanto a Palavra toca os de coração puro, aqueles que, apesar do rock, ainda podem se reencontrar com a luz. Mas saibam infiéis que a graça caetânica também conhece limites, e aqueles que não banharem o corpo na dádiva de Cê talvez estejam condenados a uma vida de trevas e ranger de dentes.

- Jamari França, Livro do Eclesiastes, Cap 7, vers 7

segunda-feira, outubro 01, 2007

Ou uma coisa ou outra

Estão os dois ali, deitados, os corpos nus resfolegantes se recuperando de um orgasmo arrebatador. Você vira-se de lado e encara a mulher deitada na cama: Linda, gostosa, um sorriso genuinamente feliz nos lábios rosados. Um linha de suor escorre pelas tempôras molhando uma mecha de seus cabelos naturalmente loiros, ela dá uma risada. Uau, que mulher! Ela tem presença de espírito, é divertida, consegue fazer você rir, possui braços e coxas firmes como de uma acrobata, olhos azuis faiscantes e um par de seios que poderiam te obrigar a cometer loucuras. A pele bronzeada dela contrasta com a brancura da sua e ela parece se entreter comparado a diferença de tonalidade entre suas barrigas, "Nossa, aqui você é ainda mais branco!". Lá fora está frio, cinco e meia da tarde de um dia de semana preguiçoso. Dá tempo para um cochilo antes de saírem para jantar num restaurante em que ela te convidou e que todos atestam ser divino. Deitado ali você pensa que nada poderia ser mais perfeito que aquele momento. Talvez seja isso, talvez seja ela a mulher ideal. Você está quase completamente convencido disso e resolve arriscar, fazer alguma pergunta para que ela apenas comprove sua perfeição e superioridade sobre todo o gênero feminino. Você olha para ela, acaricia o dorso subindo da inacreditável bunda à nuca que se ouriça em sua leve penugem dourada.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro, gostoso. O que você quer saber?
- O que você pensa, sei lá, do nazismo? - Não foi das mais apropriadas, mas foi a pergunta mais ridiculamente fácil que você pensou afim de confirmar que aquela ali é sua alma gêmea. E olha que até dois dias atrás você nem acreditava numa besteira dessas.
- Hehehe, que pergunta!
- É boba, eu sei. Eu sou bobo... Mas o que você acha?
- Ah, não tenho opinião formada.
- Como assim, gatinha?
- É, não tenho. Não sei se eu acho bom, se eu acho ruim.
- Não, peraí, como assim? Nazismo, você sabe o que é?
- Sei, gato. Claro!
- Pô, então como você não tem uma opinião formada sobre um dos maiores massacres da história contemporânea?
- Ah, sei lá... Acho que cada um tem o que merece!
- O que?! Você... você tem algo contra judeus?!
- Acho que tenho.
- ACHA?!?!?!
- É, acho não, tenho sim! Sou meio rascista!
- O que... como assim?
- Ah, judeu, crioulo, china, turco... Sei lá, só não gosto!
- Você sabia que minha avó é judia? E o Seu Edevair, ele é negro. Você não gosta dele?

É tão absurdo e imprevisto que só pode ser real. Seu choque e incredulidade cavalgam numa espiral de non sense ao compasso das respostas que aquela mulher te dá com o mais angelical dos sorrisos no rosto. Impressionante como uma opinião pode mudar todo o conceito de perfeição, como certezas podem ruir diante à ignorância de quem nos impressionou até ali. Aquilo tem as consequências de um abalo císmico na sua tarde e no seu futuro, um soco nas costelas do romantismo e da imaginação. Como isso foi acontec... Ela te beija. Enfia a língua na sua boca, enquanto as mãos suaves alisam seu peitoral, a barriga, descendo, descendo. Ela se vira de lado, ficando de costas pra você e fala "Me esquenta, tô com frio!". Você obedece. O nazismo, o rascismo, toda ignorância e ódio disfarçados em ingenuidade e aquela bunda perfeita pousando suave sobre seu pau. Puta merda, não se pode querer tudo.

Headbanger Voice

Há uma certa época na vida do homem em que todo e qualquer tipo de socialização é apenas uma inegável tentativa de obter sexo. Os espécimes mais inteligentes e dotados de maior instinto de preservação buscam meios de socialização prenhes de presença feminina, o que obviamente facilita o contato, aumentando as possibilidades. Não era o caso de Leandrinho. Não obstante estudar em um colégio apenas para meninos, seus gostos e inclinações passavam longe dos esportes, da academia de musculação, da praia, das matinês em discoteca ou dos discos do Bob Marley e seus aditivos acessórios. Leandrinho era um headbanger botafoguense, o que afunilava bastante suas chances de aproximação do sexo oposto e do sexo como ato não solitário, por assim dizer. Há uma certa época na vida do homem que o cotidiano nada mais é que uma busca incessante que não mede esforços para sua realização. Não interessava quão negativos eram os prognósticos, Leandrinho era um homem com uma missão, um cruzado em busca de desvirginar seu Santo Graal.

Tendo suas opções reduzidas a arquibancadas de estádios suburbanos ou shows de speed metal em fétidos pardieiros da zona norte, locais sabidamente escassos de qualquer forma vagamente feminina, era preciso que Leandrinho apelasse para algum outro meio de travar contato. É necessário aqui abrir um parênteses para dizer que nosso odisseu sexual amargou a adolescência no início dos anos 90, isso é, antes da internet ser uma realidade e de cantoras teen executarem coreografias lúbricas bombardeando o subconsciente de meninas de 12 anos nos canais a cabo. Ok, havia a Xuxa e todas as outras apresentadoras infantis saídas do Concurso das Panteras, mas elas estavam arrependidas e deixavam isso bastante claro. Um desserviço à mentalidade do potenciais alvos de Leandrinho. Sem irmãos mais velhos ou mesada que lhe possibilitasse a extravagância de uma termas Solarium, a única saída viável era a seção de cartas de sua revista predileta, a Heavy Metal Maniacs.

Preocupado em agradar e ter imprescindíveis três minutos de conversa antes dos finalmentes, Leandrinho buscava sofregamente mês a mês uma parceira que tivesse os mesmos gostos que o seu. Nunca encontrou, o que o fez abrir concessões para qualquer mulher minimamente interessada e que vivesse em seu mesmo código postal. Arrá! não foi tão difícil, e a possibilidade mais tangível de uma relação sexual veio através do anúncio de uma menina moradora da Tijuca que ouvia Aerosmith, Metallica, Kreator, Ramones e DRI, era três anos mais velha (o que já era uma vantagem para suas intenções), gostava de jogar ovos nos passantes pela janela e se mostrava timidamente acessível ao dizer que buscava "contato com cabeludos da z/s e z/n afim de curtir muito". 'Contatos, cara!!!', 'Curtir muito!!!', Leandrinho se sentia o homem mais sortudo do planeta. Duas bandas carne de vaca, uma que ele sinceramente detestava, mas outras duas que eles poderiam realmente conversar sobre em intervalos espaçados entre suas muitas curtições. 'E além de tudo, é mais velha!', exultava. Sobre o hábito de atirar ovos da janela não formulou opinião, mas quem se importa? O universo sorria para nosso cruzado alvinegro fã de Sodom.

À troca de cartas e alguns rápidos telefonemas seguiu-se a combinação de um encontro em uma galeria na Tijuca no final de semana. Ao meio-dia de um sábado especialmente ensolarado, Leandrinho envergou uma nigérrima camisa do Exumer e, dotado de incomparável fé na foda vindoura, percorreu todas as estações da Linha 1 do metrô da cidade ao encontro de sua parceira. Ao subir as escadas rolantes da galeria, olhou diretamente para a porta da loja combinada como ponto de encontro e que já reunia uma meia dúzia de góticos, deathbangers e posers, todos sem mais o que fazer de suas vidas. No meio de um mar de cabelos ensebados e rostos oleosamente púberes não foi difícil avistar um grupo de três meninas: Uma gordinha de chinelo, calça de moletom, camisa do Guns N' Roses e boné; uma magra e bizarramente alta garota vestida com camisa do Ramones, botinas e uma camisa de flanela amarrada pouco acima da cintura; e uma morena de camisa branca, tamancos e short de lycra preto que Leandrinho, numa esperança vã, se esforçou para acreditar que era sua correspondente. Obviamente não era e, apresentações feitas, ela e sua irmã mais nova (a gordinha de moletom e chinelo) deixaram o casal a sós.

Poucas situações se comparam ao constrangimento de encontrar pela primeira vez alguém com quem você se comunicou por carta ou telefone. A falsa intimidade e o exagerado carinho que comandavam esses contatos posteriores somem no exato momento que você se depara com a pessoa e ela não corresponde nem às suas menos exigentes expectativas. Não que isso se constituísse num problema real para Leandrinho. O homem estava em busca do bem maior, não se permitiria refugar ou preocupar-se diante de miudezas. "Quer ir lá em casa?", ela perguntou com sua monocórdica voz agudo-metálica que também não era um atrativo. "Claro, vambora!", respondeu Leandrinho em nome de sua irrefreável busca.

Portaria, elevador, porta, sala, apresentar-se e fingir cordialidade com os pais, quarto. Em cinco velozes etapas lá estava ele no berço de sua presa. Nunca fora tão fácil, pois afinal, nunca havida sido. Leandrinho se pôs então a guiar a conversa meticulosamente de maneira que eles subitamente estivessem falando de sexo para que, então, ele fizesse os movimentos que o levaria para baixo daqueles lençóis de motivos florais:
- Como assim você não gosta de Aerosmith, menino? Você só pode ter um problema... - brincou a garota bizarramente alta que com seu timbre e empostação se assemelhava a uma Olívia Palito ciborgue.
- Ah é, sei lá...
- Eu adoro Metallica e Kreator.
- E de sexo você gosta? - intimou Leandrinho da forma mais meticulosa que conseguira, aproximando-se da garota sentada na cama.
- Não sei - respondeu a menina sem demonstrar alguma surpresa com a pergunta, muito porque não demonstrara reação nenhuma.
- Não sabe? Pô, que isso... - Leandrinho aninhou suas mãos entre as coxas da menina que, para sua alegria, novamente não demonstrou reação.
- Você quer ver uma fita de clipes que eu gravei? - indagou a menina com seu timbre robótico.
Dando-se conta de que aquela era a tal hora em que se dividem os homens dos garotos e, sem saber em que lado da divisão ficaria, Leandrinho tratou logo de agarrar os peitos da garota sob a camisa dos Ramones: Quero ver isso aqui, oh! - afirmou em toda sua fúria de macho desesperado.
E a menina bizarramente alta que falava como um andróide e lembrava uma versão roqueira da Olívia Palito deixou. "Ela deixou!!!", mal podia crer Leandrinho em agradecido extâse.

Sabendo que timing nessa vida é tudo, Leandrinho decidiu dar curso a sua virilidade da foma mais rápida que conseguisse. Como não encontrava resistência alguma da menina e não estava muito preocupado em analisar o quão consentido aquilo estava realmente sendo, levantou-se, abaixou-se as calças na frente da Olívia Palito do rock e mostrou todo o esplendor de sua erupção hormonal adolescente na forma de pau. Duríssimo pau. Nunca mais o desespero do descontrole de testosterona se esvaindo como constrangedoras manchas no lençol. Uma nova era se iniciava ali naquele quarto tijucano decorado por páginas de revistas de rock coladas nas paredes.

Dez centímetros separavam seu pau da boca e olhos desentusiasmados da garota. Cinco segundos separavam sua vida até ali da sua nova e promissora fase como reprodutor. Dois passos e meio e uma bandeja de sanduichinhos de mortadela no chão separavam o sonho de consumar o ato de uma mãe atônita. De uma mãe revoltada. De uma mãe histérica que partiu violentamente contra Leandrinho e seu pau que nessa altura do campeonato já não apresentava a mesma certeza, desinibição e rigidez de cinco minutos atrás. Um casal de pais super-protetores e a ameaça de chamarem a polícia separavam nosso obstinado headbanger de dar fim a um sem número de dias em ansiosa espera de uma vez por todas. Só restava bater em vergonhosa retirada e, sem dinheiro para a volta de metrô, esperar o ônibus em frente a portaria. Dois minutos, não mais que dois minutos e, após o estalo característico e uma pontada no ombro, Leandrinho percebe a baba amarela escorrendo pelo braço, manchando a nigérrima camisa do Exumer. Lá de cima, a garota magra e bizarramente alta ri com seu timbre agudo-metálico como um robô maligno a segurar uma caixa de ovos. "Disso você gosta né, sua filha da puta?". A vida pode ser muito triste quando se é um headbanger botafoguense e virgem.