sábado, fevereiro 06, 2010

Like rain on your wedding day

Não sei se vocês desconfiavam, mas quando adolescente, eu não fui uma menina histérica que achava que o mundo não a compreendia. Digo isso porque uma pessoa muito querida já falou certa vez que eu parecia a Tina Fey (e era tentando criar alguma espécie de elogio, procês verem...). Enfim, esclarecendo isso, fica melhor compreendido o fato de eu não ser e nem nunca ter sido fã de Alanis Morisette. Nunca.

Como se não bastasse sempre ter achado os trinados da cantora canadense um porre, um evento em especial me fez nunca mais querer ouvir uma única nota que ela gravou. Lembrar desse feito me leva diretamente ao longínquo ano de 2009. Nessa período distante da minha vida, eu tinha o péssimo hábito de ficar invadindo o país dos outros a bordo de uma van caindo aos pedaços acompanhando bandas de metal brazuca tentando faturar um troco no Velho Continente. É, pois é. "Faturar um" define muita coisa.

Como todo idiota que se acha malandro, eu achava que todos os outros malandros eram mais idiotas que eu. O que me fez ser bem estúpido, ou corajoso, dependendo do ponto de vista. Enfim, tanta idiotice não pode acabar bem e existe uma razão para aquele ditado "o crime não compensa" ser válido até hoje. Descobri isso da pior maneira em um supermercado no centro de Amsterdã com uma meia dúzia de comidas malocadas comigo.

Encurtando a história e poupando vocês de qualquer drama desnecessário, fui levado por policiais pruma delegacia e lá conduzido pruma cela. Não sem anter ter sido obrigado a entregar os cardarços dos meus tênis, "pra evitar que você se mate", como me explicou calmamente o policial que me acompanhou. Fiquei umas boas horas nessa cela até que, no meio da madrugada, dois guardas vieram atrás de mim. Eu achava que tinha chegado ao fim ali a minha experiência Oz e que iria, felizmente, sobreviver ao episódio com o traseiro intacto. Bom, metade disso era verdade. Graças a Jah, a metade de baixo, que concerne a minha bunda!

É aqui, caros colegas, que a história fica boa de verdade. Se eu tive a certeza que deus existe e ele é um gozador de mão cheia, foi nesse dia. A dupla me algemou, me conduziu pra fora da DP e pra dentro de um camburão!!! Ok, nessa hora eu respirei fundo e me arrependi por não ter feito uso da boa educação que me deram e comecei a pensar seriamente em como aguentar as horas vindouras. Nisso estou eu, rodando pelo centro de uma cidade européia completamente desconhecida, sem nenhum contato com meus companheiros, sem um único documento, quando no sistema de som do carro (sim, camburão holandês tem rádio!) começa a tocar um som.

Pensem bem, não dá pra inventar uma coisa dessas, estou sendo completamente verdadeiro com vocês. Começou a tocar A-la-nis Mo-ri-set-te! E o que é pior, IRONIC era a música!!! Sim senhores, não bastasse ser preso por causa de um sanduíche e um punhado de chocolates numa cidade onde virtualmente tudo é permitido, o universo conspirou de uma tal forma que até as FMs locais me lembravam do meu retardamento. É foda, como diria aquele filósofo "perdi, perdi, chefia... só não esculacha!". Convenhamos, até condenados à morte tem direito a um pouco mais de compreensão dos deuses, né? Prisão + Alanis Morisette era duro demais. Covardia demais com um serumanu. E é por isso, que até hoje, a jagged little pill just makes me wanna puke (tu dum piiiish!).

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Ah sim, caso vocês se interessem, a cela era individual, continuei virgem depois das 24 horas. E, visto os locais onde deitei minha cabeça nos 40 dias de viagem, devo dizer que foi uma das camas mais limpas em que dormi. Se você não ligasse pra câmera dentro do cubículo, dava até pra fazer cocô numa boa. Ainda perdi a chance de fazer duas boas amizades: Um traficante polaco na hora do banho que elogiou minhas tatuagens e um fulano meio cigano que era os cornos do Vic Di Cara do 108 e que ficava puxando papo sobre o tempo na fila do cigarro, antes de entrarmos no camburão novamente e sermos deixados nas respectivas DPs. Quem sabe não acho eles no facebook?

A única coisa que eu não consigo entender até hoje é, porque de todos os itens roubados, eu inventei de levar uma merda de uma pastinha pra cabelo? Acho que tem coisas que nem sua própria estupidez galopante explica.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Grandes Merdas da História Contemporânea: O vocalista do Korn

Houve um tempo em que camisas listradas da Gap eram sinônimo de bom gosto, Friends era um seriado relevante para a juventude ocidental e a Playboy apenas começava a descobrir como alterar drasticamente suas modelos com o auxílio do computador. Essa época tenebrosa, também conhecida como "anos 90", viu nascer um estilo híbrido capaz de reunir tudo o que era condenável, brega e negativo na década: O new metal (ou nü metal, caso você seja um pau no cu).

Dentro da excrecência que era o new metal - por mais que Rodrigo Smile tente dizer o contrário - uma banda em especial se destacava por ser a mais notavelmente forçada, a mais exageradamente atormentada, a mais falsamente pesada, a mais ridícula, enfim. Essa banda era o Korn. O Korn, para quem não lembra ou simplesmente tinha mais o que fazer há quinze anos atrás, era aquele grupo de brancos que queriam ser negros e tocavam músicas afinadas em Dó curvados pro chão. A banda era liderada por Jonathan Davis, um rapaz que tinha as manhas de misturar berros agonizantes, levadas de rap, letras sobre ser um coitado e gaita de foles. Como dá pra notar, um camarada que primava pelo bom gosto.

Se musicalmente o Korn só temperou com afinações baixas e grunhidos caninos a já existente e condenável mistura de rap e metal pesado, esteticamente é preciso reconhecer que eles, e principalmente seu líder, se esforçavam no crossover. Além de se vestir 24/7 como se estivesse indo fazer cooper no inverno, Jonathan Davis ainda achava espaço para combinar dreadlocks com um vergonhoso bigodinho de pré-adolescente. Era mais ou menos como se o seu porteiro virasse fã de Bob Marley e descobrisse uma ponta de estoque da Adidas na esquina de casa.

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Ou tipo isso aqui

Aliás, a relação do Korn com o mundo dos fornecedores de material esportivo é algo que precisa ser analisado com cuidado. Sem-vergonhice ou estratégia de marketing, é fato que a banda ajudou num primeiro momento a levar a marca das três listras (e suas imitações mas descaradas) para o guarda-roupa de todo jovem revoltado da época. Mostrando que ter atitude é outra cousa, eles chegaram mesmo a gravar um som chamado A.D.I.D.A.S., pelo qual devem ter ganho um estoque vitalício de moletons e tênis horríveis! Logo depois, fecharam um contrato de exclusividade com a Puma, e finalmente com a Fila, já quando ninguém mais ligava pro que eles faziam.

Enquanto ligavam, no entanto, Jonathan Davis fez com que ninguém no mundo esquecesse que ele era um cara sensível e perturbado. Daí dá-lhe letras e mais letras sobre ter sido motivo de chacota durante toda adolescência, sobre ter apanhado do pai, da mãe, do vizinho, da professora, dos colegas de classe, da namorada... Pra mostrar o quão conturbada era sua alma de artistinha, Jonathan tatuou HIV num dos braços. Uuuuuu, Aids!!! Olhem como ele é estranho e perigoso, gentem! E se tatuagens de mau gosto e um passado nerd não eram suficientes, o rapaz ainda fazia questão de inventar uma descendência escocesa (OI?) e exibi-la no formato de constrangedores kilts toda vez que se apresentava ao vivo.

Contudo, como tudo nessa vida, os anos 90 também viram seu fim e, com eles, tudo o que era característico dessa época. O new metal não foi exceção e tão rápido quanto apareceram, milhares de músicos usando dreads, maquiagem gótica e guitarras no joelho sumiram sem deixar rastros. O Korn, porém, foi acabando aos poucos. Primeiro foi um dos guitarristas que se converteu, foi para a Índia, adotou 300 crianças e escreveu um livro; Depois foi o baterista que, muito provavelmente, viu mais futuro na sua carreira paralela de entregador de pizza ou algo que o valha e pediu o boné. Sobraram Jonathan Davis, seu bigodinho, seu stand de microfone feito pelo HR Giger e seus scats monstruosos. Nada que ele se arrependa mais do que a tatuagem escrito HIV, aposto. Mas até inventarem um modo rápido, prático e barato para remoção de tatoos, pode ser que já tenha acontecido o revival do new metal. Ele vai ficar torcendo pro que aparecer primeiro.