quinta-feira, novembro 11, 2004

Um ensaio sobre um ensaio- segundo ato

G1- Aí gente boa, agora que todo mundo comeu, todo mundo bebeu, me veio um negócio à cabeça.
B- Diga lá.
G1- Qual vai ser nosso rótulo agora? Não podemos ser mais o Hammer of Justice- VeganStraightEdge band. E as letras, o que a gente faz com elas?
V- O que tem as letras?
G1- Pô, como a gente vai cantar coisas como : “Kill the carnivorous”, “ Straight edge written on my coffin”, “If you drink you should die right now” se aqui todo mundo come carne e bebe?
Bt- Putz, o cara tá certo! Nem tinha me tocado disso.
V- Calma gente, calma! Enquanto nós comíamos eu pensei, de agora em diante nós vamos ser Hammer of Justice- Political metal hardcore band.
G2- Banda política é uma boa, banda política todo mundo gosta, dá mó ibope. Quem sabe a Evolution até lance a gente?! Ninguém liga pro que você faz se tuas letras são políticas...
G1- É, eu sempre quis cantar umas coisas diferentes dessa ladainha chata de vegan e sxe. Fazer umas letras de esquerda, a favor da reforma agrária...
B- Ih, letra de esquerda? Lá em casa todo mundo é PFL!
G1- E daí, se todo mundo na sua casa passar a comer merda tu vai comer também?
B- Não, idiota! Mas se eu começar a fazer essas letras aí, ainda mais com o Lula na jogada, sei não... Meu pai já tá todo puto, aí que ele não me dá mais mesada. Nem deixam mais a gente ensaiar na garagem lá de casa.
V- Pô, então a gente podia fazer umas letras de briga, bem gangueiras, bem “tuff guy” mesmo! Saca só, Hammer of Justice- tuff guy hardcore from the streets band!
Bt- hahaha! Orra mano, tu não mata nem mosquito, vai fazer letra sobre briga com esse físico aí?
V- Oh, não esculacha não, valeu?!
B-... A gente podia fazer umas letras de amor então, que tal?
G2- Mas letra de amor e metal não combina.
Bt- Não combina mesmo. Pra falar de amor tem que ser emo.
G1- Ah, ninguém mais escuta emo, cara! Duvido que a Evolution lance a gente se a banda virar emo. É virar emo e não tocar mais em lugar nenhum.
V- Pelo menos ia começar a aparecer umas menininhas no show, além de uns metaleiros toscos.
G2- E o que a gente faz com as músicas? Vai ter que compôr tudo de novo.
V- Vai nada, é tudo igual! É só diminuir um pouco a velocidade e eu cantar mais chorado.
G1- Pô, de repente é a boa mesmo, se a gente tocar emo dá até pra faturar uma grana. Tu num vê essas bandas aí, tão tudo assinando com majors, tocando direto na Mtv.
V- Já tô até vendo, Hammer of Justice- emotional lovin’ band.
Bt- Ah mano, emo é uma bosta! Se for pra tocar emo eu tô fora, não quero nem saber!
G1- Oh, se ele sai eu também saio. Além do mais essas paradas aí de virar banda grande, sei não... Eu sou punk!
G2- Ah, punk de cu é rola! A única coisa que tu ouve é Sex Pistols! Se não fossemos nós a te mostrar as bandas tu ia continuar tocando com aqueles bêbados fudidos pra sempre. Quando tu entrou na banda tu não sabia diferenciar Scholastic Deth de Septic Death! Um absurdo!!!!
G1- Pô, deixa o cara... Por acaso o hardcore é alguma porra de competição pra ver quem conhece mais bandas?
G2- Tu só fala isso porque não tem dinheiro pra comprar cd!
G1- Vou te falar uma coisa, antes ser um tosco sem dinheiro que ser um playboyzinho que quer pagar de gringo.
B- Ih, peraí… Qual o problema de ter grana, cara? Você sempre falou isso como se ter dinheiro fosse um defeito, como se o fato do cara ter mais grana não deixasse ele entrar na merda do teu “clubinho do hardcore verdadeiro” !
V- Gente, gente... Vamos pensar na banda!
Todos- Ah, vai tomar no teu cu, porra!!!!
V- Se vai começar a ser assim, vão se foder, tá legal!?!?! Eu bebi e comi carne pra que não falassem da gente!Logo eu! Eu! O cara que fala com quase todos os outros caras das outras cidades que realmente interessam.
G1- Tu é um péla saco, isso sim!
V- Ah, vão a merda, eu nunca precisei de vocês, eu vou montar uma banda sozinho!

G1- Eu também quero que se foda, eu sempre odiei tocar esse som, eu vou é voltar a tocar cover de Exploited no Cérebros Atômicos!
G2- Ah, eu já tô velho pra isso mesmo, já tá na hora de eu largar essas coisas de show, de banda... Vou arrumar um emprego, seguir carreira, esquecer dessa estória de hardcore...
B- Eu acho até bom que a banda acabe, lá em casa ninguém nunca gostou desse papo de eu ter banda mesmo, essas coisas agressivas que a gente cantava.

Bt- Agora que a banda acabou eu vou é voltar pra igreja!

Fim do segundo ato

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