quarta-feira, maio 04, 2005

Não Estamos Nessa Sozinhos ou Eu também Sei Ser Sério

Existem situações em que nossas crenças são reafirmadas, ocasiões e momentos em que as palavras colidem com as ações e o resultado é a renovação daquilo que nos move e nos mantêm firmes. Ontem foi um desses dias para mim. Eu já vi tantas bandas tocarem que nem me lembro mais, já fui tocado pela mensagem e pela intensidade de diversos shows, mas nada comparável à combinação de energia, raiva e verdade do show de ontem do Confronto.

Todo show do Confronto em São Paulo me parece cercado de uma espécie de clima de expectativa e o show de ontem, em especial, transbordava esse clima. Os olhos espreitavam, à espera da queda, da comprovação da causa mortis. Mas a comprovação não veio, ou melhor, veio. Mas a morte do monopólio, da arrogância que insiste em tomar para si o que não é seu. Ali, éramos todos bem-vindos.


Ao primeiro acorde o impacto da banda já podia ser sentido. O Confronto não é um decalque de uma performance radical importada, o que esses quatro homens pobres representam é mais que uma atitude inócua. Eles são iguais à maioria de meninos e meninas pobres ou ricos, negros ou brancos, que estavam ali com eles e não por eles. Sem obsessão, sem dependência, sem ilusão e sem fraqueza. Pessoas inteligentes o bastante para saber que o veneno que nos é imposto pode apresentar-se de diversas formas. Inteligentes o bastante para sabe-lo e recusa-lo.

Quando o show terminou, a impressão reinante era de que o hardcore straight edge é mais que uma competição para mostrar quem pode mais. Nunca foi sobre ganhar ou perder, sobre comandar ou aceitar ser comandado. A essência está em tomar o palco e se sentir um igual, não importando sua história ou sua idade. Ontem eu novamente senti, de forma emocionante, o que é compartilhar algo genuíno com milhares de conhecidos e desconhecidos. A sensação de que, quando a banda fala, eu sei que ela fala para mim e por mim. A certeza de que somos fortes e, mesmos sós, carregamos conosco a chama modificadora que nos une e nos protege. Esse é o meu mosh.

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