domingo, junho 01, 2008

Rock Brigade e a arte de resenhar discos

Militando na ingrata seara do jornalismo, com uma infeliz quedinha para o ramo musical da profissão, sempre tive uma relação visceral com a Rock brigade. Nos primeiros anos de minha adolescência roqueira, era uma clara e apaixonada admiração pela revista, da qual cheguei a ser assinante por um ano, acalentando o sonho de dividir a readação com Vitão Bonesso e Fernando Souza Filho. Com o passar do tempo e o aumento do conhecimento musical, a admiração se transformou em revolta, para hoje, já no crepúsculo da minha seriedade, se transmutar novamente em admiração. Só que agora por motivos menos deslumbrados e mais, digamos, "estilísitcos".

Porque, meus camaradas, é preciso ser muito trouxa como já fui para não exaltar as qualidades daquelas resenhas da Rock Brigade. Qual outra revista foi capaz de aliar poesia e crítica musical abalizada àquele dialeto típico do metal da década de 80. Nas resenhas da Brigade tudo era magnânimo, soberbo, poderoso e dilacerante, tal qual a piroca de cristal da encarnação de alguma divindade nórdica. Nada podia ser simples, direto, corriqueiro. Tinha que ter garra, afetação viril mal disfarçada, quadriloquência, tinha que ter tenacidade, ductibilidade, condutibilidade e elasticidade. Ou seja, tinha ser METAL na essência!

Para aqueles que não tiveram a chance de se inebriar com o néctar de uma resenha de disco do Accept, Savatage, Crimson Glory ou Judas Priest, separo para vocês trechos de algumas das melhores, retirados da comunidade Pérolas do Metal. Regojizem-se, oh, servos de Odin:

“Paice mostra uma feroz seqüência de hipnotizantes estrondos tirados de sua Ludwig rústica, mas resistente aos seus golpes certeiros. O baterista trata seus pratos como um escravo fugitivo enquanto Gillan solta um verdejante grito como um LEÃO em seu mais duradouro período de cio.”

“Ronnie James Dio encarou o demônio de frente, galopou no cavalo da morte e dançou na propriedade do sobrenatural. A amarga gota de fel que é nódoa nos corações humanos e o desespero pela poder da força que arrasta todos às profundezas do inferno, foram por ele galhardamente cantadas, num Heavy Metal que Satanás não ensinaria nas escolas do inferno."

"Joey de Maio lança maldições em cada nota executada, despedaça seu baixo em agonia mutiladora. Ross the Boss arrepia os reconditos mais profanos do corpo. Eric Adams vocifera tão afiado que choca-se em contato com a nossa era.A bateria parece ser tocada pelo próprio Lúcifer em extase, Scott Columbus detona a estrutura espaço-tempo com suas porradas sônicas..."

E a minha preferida,
"Misericórdia não existe! Não cabe na filosofia Heavy, por isso que Dave Lombardo pulveriza as moléculas do ar com suas patadas letais na mesma medida em que o terremoto provocado pelo baixo de Tom Araya invoca Satanás para a destruição! Não tem música melosa! A mais lenta faz qualquer um sair por aí chamando urubu de 'Meu Loro' e Jesus de "Jenésio."

14 comentários:

Mundo Tá Doido disse...

caraca, ri muito com os trechos das resenhas, eu também já fui leitor assíduo da Brigade, acho que todo zineiro que se preze dever ter lido a RB, mas e hoje qual revista de rock vc ler e recomenda para o pessoal?

Dahora

Menezes, o cretino disse...

Leio a Rolling Stone, mas não sei se é o caso de recomendar. Quer dizer, cada um lê o que gosta, né?

Serbão disse...

heheheheh. sensacional! eu deixei de ler a Rock Brigade quando ela virou fanzine do Franga, ops, quero dizer, Angra. e perdi estes textos, que parecem ter sido escritos pelo pessoal do Massacration.
(em falsete)"DEATH TO FALSE MEEEEETAAAAL!"

Menezes, o cretino disse...

É que esses textos são ainda mais antigos, de 83, mais ou menos.

lucao disse...

Li muito a Rock Brigade,a Roll,a Bizz,a Som Três etc e realmente as resenhas naquela época eram realmente para impressionar,pois era uma época pré popularização da internet,celular e principalmente mercado aberto aos grandes e também pequenos shows de rock,que só se abriu após o Rock in Rio I.Equivale a comparar às transmissões de futebol antes da popularização da TV,em que qualquer jogador mediano poderia virar um super craque na voz do locutor...Mas que o Ian Paice batia,batia.

Unknown disse...

fala Menezes! deixei hj na tua portaria o Judge,q tardou mas não falhou!;)

abração!

Rodrigo Soares disse...

Falou tudo. Rock Brigade é divina, tenho tudo num arquivo, pra quando a humanidade se esquecer como é que se escreve uma resenha de metal, eu lembrar.
(é papo sério o arquivo)

E a revista acabou depois do RF. Cuzão modorrento.

Vou achar minhas denuncias-crimes na seção de cartas e postar ao mundo.

Menezes, o cretino disse...

RF quem era, Rodrigo? Eu lembro do Fernando Souza Filho e do Vitão Bonesso só.

E Luiz, acho que a forma impressionante como eles resenhavam as bandas estava mais ligada à estética vigente do metal na época do que à falta de informação. Nos anos 80 o metal era muito auto-referente, você pega discos do Exciter, Raven, Accept, Judas Priest, Atomkraft, Dorsal Atlânitca, Taurus, Azul Limão e todas elas faziam músicas falando sobre como o metal era foda, poderoso e destruidor. A Rock Brinquedo só seguiu esse caminho.

lucao disse...

É olhando por esse prisma talvez você tenha um pouco de razão.Mas como você citou o Accept e o judas,amanhã vou tirar o dia para ouvir Balls to the wall do Accept e Rocka Rolla e Point of entry do Judas em volume um pouco exagerado.

Rodrigo Soares disse...

RF é o Ricardo Franzin, nos ultimos 10 anos, o cara que dava as cartas por lá em matérias, resenhas etc. Cuzão forgado.

O FSF é gente fina, tranquilão, trocava email com ele no passado.

Pedro Carvalho disse...

Menezes, é necessário que você volte.

Unknown disse...

ATUALIZA!!!!!!!!!!!!!!!!!
não tem nada de interessante pra ler e rir na internet, vc é nossa salvação Menezes!

abrá

Menezes, o cretino disse...

Amigos, estou trabalhando no Fashion Rio, sempre um manancial de boas críticas e a chance de faturar algum dando esporro nos outros. Mas está bacana, conheci os caras do Te Dou um Dado?, vi a xoxota de uma modela na passarela e sinto que Erika Palomino quer ficar minha amiga. Lilian Pacce, por sua vez, continua me desprezando...

Desobediência Vegana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.