segunda-feira, outubro 06, 2008

Estilo de vida carioca - modo de usar I

Se tem uma coisa que eu acho representativa no lifestyle carioca é essa necessidade da classe média local em mostrar que sobe o morro e se mistura à plebe ignara (mesmo que só uma vez no ano e por, no máximo, algumas horas). Pode escrever, se há algum evento acontecendo no Rio, é certeza que em dado momento algum produtor local vai ter a brilhante idéia de levar os participantes, estrangeiros ou não, para uma voltinha na favela. E, pule de dez, esse passeio culminará em um baile funk onde todo mundo vai fingir que não está tenso e se esforçar pra dançar e sair bem na foto no Segundo Caderno do dia seguinte.

Não me interpretem mal, eu acho bem legal que as classes se frequentem, mas se a idéia é mostrar o quão sadia é a relação do carioca com as diferenças sociais, porque a Alicinha Cavalcanti não convida uma rapaziada do Morro do Galo pra descer e festejar com ela e seus convivas em algum apartamentaço na Vieira Souto? Afora que o carioca é tão hipócrita que mal consegue disfarçar o sentimento de alívio da culpa por estar rebolando até o chão em algum baile funk na quadra de qualquer favela da zona sul. Aí fica aquela pegada meio programa do Luciano Huck, aquele palpável desconforto que se tenta disfarçar com um sorriso, uma bebidinha e o papo de "meu dou bem com todo tipo de pessoa!", muito comum da nossa gente.

Ondas da mais poderosa vergonha alheia percorrem meu corpo toda vez que vejo a declaração de uma aluna da PUC sobre como ela gosta de frequentar o baile funk do morro tal publicada em alguma revista dominical ou coluna social. A sensação é de que eles levaram a consciência pesada prum spa moral e saem dali levinhos, levinhos, e com aquela propriedade que só o carioca de classe média tem para discorrer sobre as mazelas de terceiros. Mas de longe, claro, na distância exata entre a segurança e o perigo, como se participassem de um Simba Safari da pobreza. São esse tipo de atitudes que justificariam um esquema de terror tipo Colômbia, que é pra neguinho deixar de ser babaca.

Um comentário:

Beatrix Kiddo! disse...

É por isso que eu não me misturo!