sexta-feira, março 14, 2008

Tipinhos cariocas

Antevendo tal qual um Nostradamus tatuado o final da cidade do Rio de Janeiro como a conhecemos, decidi catalogar aqui alguns espécimes tipicamente carioqueiros para que, sei lá, no futuro isso ajude alguém a entender como a gente viveu e, mais importante, porque essa merda aqui afundou! E como sou um rapaz educado, que estudou em colégio religioso e tirava dez em Moral e Cívica, iniciarei esse estudo aprofundado pelos espécimes mais antiquados, mas ainda vivos e bem característicos de nossa fauna. Senhoras e senhores, vos apresento o coronel reformado copacabanense:

O coronel reformado copacabanense (figueiredus praianus) é uma das mais típicas figuras litorâneas do Rio. Encontrado em profusão no famoso bairro da zona sul, dividindo seu espaço nas calçadas com pombos, travestis, piranhas da Help e demais aposentados, tal figura é facilmente reconhecível pela vestimenta. Uma sunga. Exatamente, abdicando da formalidade dos tempos de caserna, o coronel reformado reduziu a indumentária ao extritamente necessário, a saber: uma sunga, tênis de correr com meia e um óculos escuros estilo Figueiredo (e o mais incrível está na dicotomia de considerar a meia essencial quando todo o resto se tornou supérfulo para ele). E pra que mais, não é verdade? Assim paramentado, o coronel reformado está pronto para frequentar a rede de vôlei do Posto 6, ir a padaria de manhã, comprar o jornal e fazer suas longas caminhadas pela orla.

A caminhada pela orla é, juntamente com o jogo de peteca e os almoços no Clube dos Marimbás, uma das três atividades principais do coronel reformado copacabanense. É em meio a essas atividades, sempre na companhia de outros oficiais da velha guarda, que o coronel pode discursar sobre a atual situação do país, sobre a quantidade de mendigos infestando as esquinas do bairro e combinar uma votação coletiva no Jair Bolsonaro para as eleições vindouras. O coronel reformado copacabanense ainda sonha com a volta do regime militar pra dar um jeito nessa zona.

A preocupação com o futuro e a saudade de quando ele mandava torturar uns universitários subversivos e dar sumiço nuns mendigos povoam a mente do coronel. Ah, e a época de sua junvetude, onde a diversão era mais ingênua e sadia! Aqueles tempos onde as meninas eram curradas nas festinhas e os garotões se reuniam pra espancar viado no Arpoador. Hoje em dia o coronel se queixa muito do rumo que seus netos andam tomando na vida. A garota sai toda noite com umas roupas esquisitas e só volta de manhã, já o netinho tem umas companias estranhas e agora decidiu fazer design na PUC. Assim o coração do coronel (que é safenado) não aguenta!

Mas o coronel reformado copacabanense é antes de tudo um bravo e não esmorece. Conta com o fiel apoio de sua esposa, dona Lila - Aliás, a esposa de coronel merece um capítulo a parte. Quer dizer, um capítulo não, um sub-capítulo... Ou uma notinha de rodapé. Apesar dos pesares, o coronel reformado copacabanense vai continuar acordando cedo, vestindo sua sunga, confabulando com os aposentados da roda de buraco do Posto 6 e dando ordens no porteiro, que ele nunca viu, mas tem certeza de que bebe no serviço e dorme escondido.

6 comentários:

Unknown disse...

hahhahaha! mto bom Mena!
aguardo ansioso os próximos " tipinhos"!
e valeu pelos parabéns!;)

ps: porra, eu sou um homem de palavra e te falei q ia te entregar o vinil tem uns 10 dias..mas é pq tô brigado com a namorada e desde então não pisei ainda no São conrado rs! Mas hj fizemos as pazes, amanhã tô na área!

Pedro Carvalho disse...

Eu já pensei em fazer uma lista assim de equivalentes paulistanos. Me lembre de fazer.
De qualquer maneira, uma vez eu vi uma cena que eu concluí ser a essência dessa porra de cidade, a imagem que melhor representa São Paulo na atualidade: um japonês gordo de uns 20 anos com a pança de fora e uma camiseta do Palmeiras presa na bermuda, sentado na mesa de plástico de um carrinho de dog, com o carro estacionado ao lado tocando pagode com o porta-malas aberto.
Só faltou uma TV rolando o horário nobre do SBT, mas aí era demais.

Menezes, o cretino disse...

E fica a prova de que a beleza está nos detalhes. Da mesma forma que o cara sai de sunga pra comprar pão e ir ao banco, mas faz questão de vestir o tênis com meia, o japonês gordo não estaria completo sem a camisa do Palmeiras presa na bermuda.

Mais São Paulo que isso, só se a Hebe passasse e dissesse que estava indo encontrar Dona Lila Covas, o Maluf e o Quércia.

0.4 disse...

Melhor que sunga e tênis só sunga psicodélica e tênis.

aeaaueuhae, design na PUC, uaheuhaehae aiai.

M disse...

a...deixa meu time do coração em paz hahahahaha


vcs nao querem me ver descrevendo US CURINTIA...vejam bem

Ale et Alii disse...

Perfeito, Mena! Eu, como ex-copacabanense vi muitos desses e sei exatamente o transcurso da rotina deles: de manhã, volei na rede da tia Dinah; almoço no CLube dos Marimbás, ali do lado do Forte de COpacabana, qie pode ser um churrasco ou filé de badejo com arroz de lula. De tarde o coronel parte pro joguinho de buraco em frente ao Cassino Atlântico, no clube de cartas da terceira idade. De noite o jantar com a patroa, Jornal Nacional, novela e cama!, para no dia seguinte acordar cedo e fazer sua caminhada, porque o vôlei é só no final de semana.