sexta-feira, março 07, 2008

Vá ao teatro, mas não me chame

Ator de novela brasileiro é algo que invariavelmente provoca todo um manancial de vergonha alheia. Mesmo calado, parado, fazendo alguma pose imitada de um astro de Hollywood pro Ego, já é um lance extremamente constrangedor. Depois que essa onda de 'celebs' virou uma febre mundial então, a coisa só piorou! Sério, pior do que ver uma foto de uma gêmea Olsen vestida como uma mistura de grunge, mendigo e fantasminha Pluft de festa de aniversário, só mesmo ver a Deborah Secco tentando ser uma versão pixulé disso aí. Agora, onde o ator de meia-tigela realmente se supera na capacidade de criar um train wreck da cara de pau é quando ele decide se aventurar no teatro.

Puta que me pariu, deveriam reanimar o Nelson Rodrigues somente para que ele saísse das tumbas e cuspisse em cima de todos esses clichês teatrais que atores obtusos da Globo adoram repetir macacamente como se fosse algo genial. Começando pelo fato dessas montagens serem uma puta armação, um lance feito para arrecadar grana, sem a menor interação entre os atores e a realização do texto. Chama a gostosinha que tá fazendo um papel de época na novela das seis, aquele galã meio esquecido, arruma um texto bacana e chama o João Falcão pra dirigir com cenografia da Bia Lessa. Pronto, taí o espetáculo montado e com fila na porta.

Assim, nada contra armações. Caguei pra essência e a pureza do teatro, mas já que o lance é todo um grande engodo, não rola de poupar a gente do discurso de atriz/ator realizado pela experiência transcendente? Ou ao menos inventar uns novos, porque eu juro que eu vou sangrar pelas orelhas a próxima vez que ler a fulaninha recém-saída do posto de Rainha de Bateria da escola de samba tal dizendo que "o teatro é onde eu me encontro nesse ofício lindo que é a profissão de ator". Dói, dor física, aguda e lancinante na parte frontal do cérebro, ouvir mais um merda que não deu certo como abdomen sarado dizendo "No teatro não há vaidades, aqui somos todos palhaços divinos!". Como diria um amigo meu "Páááára, por favor! Eu tenho doença, isso dói em mim!".

Outro dia no carderno de cultura uma atriz dava a seguinte declaração "Antes de pisar no palco, peço a permissão aos deuses do teatro". Alô minha filha, então, te disseram que você tá apresentando uma peça em TEATRO DE SHOPPING-PING-PING?! Vai por mim, muito provavelmente não tem nenhum deus escondido pelos corredores do Shopping da Gávea, viu? Pede permissão só a sua falta de vergonha na cara e cai matando. O que falar também de outra recente declaração de um ator que do alto de seu bom gosto afirmava que gostava de se concentrar ao som de Edith Piaf, de quem ele virou fã depois de ver o filme? Sério é tanto lugar-comum que ver o diretor da peça em questão falando que para ele "teatro é ritual" passa batido.

Eu queria ver mesmo era essa galera que gosta de brincar de teatrinho para produzir algum tipo de profundidade artística e aparecer em coluna social vomitando frases como "fulana é uma personagem mágica", "a aura do teatro é grandiosa" ou "fazer Nelson é um desafio, mas também uma bênção" caindo nas mãos de um porra louca tipo Cleso Martinez Corrêa. Vai fazer sexo grupal, ensaio de oito horas, se esfregar na lama, apresentar peça no sertão e depois vem me contar o que os deuses do teatro acharam da sua experiência, ok?

2 comentários:

Bia Bonduki disse...

assino embaixo.

uma vez, eu nem tava conversando com gente do teatro, mas ouvi a seguinte elocubração:
- não temos tempo para nada, acabamos desenvolvendo "personas" - máscaras do teatro grego. somos todos atores sociais.

sendo que, de fato, houve esse pequeno parênteses explicativo. cadê o meteoro, me diz?

Menezes, o cretino disse...

Aquele típico comentário que, dado o nível de constrangimento, a gente só consegue concordar, com o sorriso meio congelado e sem olhar no rosto do interlocutor pela vergonha tamanha.

"somos máscaras de teatro grego"





"podicrê..."