sexta-feira, outubro 08, 2004

Nas ruas salvando a cena das forças do Mal- volume I

Eu não pude acreditar quando me deram a informação. Simplesmente não podia acreditar. Após algum tempo de alguma paz, nem mesmo o mais cético de nós poderia acreditar que eles, os homens-maus, pudessem estar de volta. E o que é pior, rastejando incólumes tão perto de nós. Minha fonte – discreta como uma senhora de meia-idade em um páreo à tarde no Jockey Club – havia me passado alguns nomes e alguns endereços. Não haveria dinheiro, nunca era pelo dinheiro, mas eu peguei da mesma forma, queria os bastardos fora dali de uma vez por todas.
O primeiro passo foi conseguir “o canal”, a Fonte tinha me avisado que, uma vez no “canal”, as coisas já estariam bem encaminhadas pro meu lado. Tudo o que eu precisava era de um disfarce, um novo nome, algo que fizesse me misturar a eles como crianças num parque em um domingo de sol. Tudo o que eu sabia era que eram brancos, de classe média, vindo do mesmo bairro e que, definitivamente, não viam com bons olhos todas essas mudanças que Os Bons haviam instaurado na cena. Escolhi para mim um nome de gangue, XAlto-LeblonX, tinha certeza de que isso atrairia os homens que eu queria encontrar.
Uma vez lá dentro e eu era o novo gostosão do pedaço, meninas e caras vinham falara comigo e pareciam simpáticos. Simpáticos até demais para um cara como eu. Vieram puxar assunto Give_me_convenience_or_give_me_death; Xmidle_classX; TFP; Patricinhadbeverllyhills; INDOLLAR; HollyFree; Vinil-collector, entre tantas outras figuras que viam em mim um igual. E eu não podia negar, eu era como eles ou, pelo menos já fui um dia. Eu estudei em bons colégios, comi boa comida e penetrei boas garotas, tive algum dinheiro e freqüentei barzinhos da moda também, assim como eles, mas A Causa havia me separado deles, e eu havia prometido que nunca mais iria voltar praquele mundo. Não é que eles me causassem asco, mas não podia deixar que as coisas voltassem àqueles anos negros, ou melhor, anos brancos. E desde então eu vivo assim, como um agente duplo, como aquele vampiro que caça vampiros naquela série de TV. Minha consciência de classe era um verdadeiro prato de merda!
Mas isso não importa, pelo menos não até essa altura dos acontecimentos, o importante é que eu estava lá para achar os fomentadores, e não precisei fazer muito esforço; quando já pensava em desistir do “canal” e abandonar o trabalho, Ele veio falar comigo:
- Gosto do seu nome gangueiro, estranho nunca ter te visto por aqui antes...
- Desculpe, o senhor está falando comigo? – perguntei, tentando parecer o mais educado e verdadeiro possível.
- E você vê outro desconhecido por aqui?! – retrucou ele, me deixando em uma verdadeira sinuca de bico.
- Não sei, acabei de voltar à cidade, não conheço muitos por aqui.
- E por onde você andou?! – perguntou Ele, deixando escapar um pouco de interesse em minha história.
- NY, Boston, Washington... Sabe como é, atrás das coisas que nos dão status permanente nesse lugar.
- Você gostaria de tomar uma água tônica e me contar sobre essa viagem?!
- Opa, você não está me cantando, está?!
- Não, isso seria inadmissível e desapropriado. Eu sou um heterossexual convicto.
Não estava interessado em o que o marmanjo fazia de noite na cama, mas era desconfiado demais para aceitar um convite assim logo de cara. E principalmente para beber água tônica.

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