segunda-feira, outubro 11, 2004

Nas ruas salvando a cena das forças do mal- volume II

Ele marcou em um Café no Lado Sul e eu achei melhor chegar com um pouco de antecedência para dar uma explorada no local. Parecia com um Café comum, dei uma olhada nas pessoas que freqüentavam, nos garçons e nas saídas mais próximas, caso a coisa ficasse feia pro meu lado. Pontualmente na hora em que combinamos Ele chegou, e não estava sozinho. Claro, ele devia desconfiar que um cara como eu fingia ser não podia ser totalmente verdade. Eu era justamente o que eles precisavam, pena que eu não era eu, ou melhor, não era o que eu dizia que era. Ele sentou-se na mesa e me apresentou seus comparsas.
- Ei, esses aqui são Gil, Água morna, Bolero e Gongôlo.
- Prazer...
Os caras fizeram um leve cumprimento com a cabeça, mostrando que estavam ali para me colocar à prova. Sim, estavam esperando que eu piscasse ou me contradissesse, daí então, pimba! Eles me pegavam. Mas não eu, não esse filho da puta aqui, eu era esperto demais para deixar a peteca cair logo agora.
Ele era o único que falava. O único que falava em todo Café. Os demais apreciavam suas bebidinhas ou liam livros de poesia alemã. Ele me fez um monte de perguntas que, graças à minha vivência no Outro Mundo eu pude responder com toda convicção e naturalidade. É, eu era realmente muito bom nisso, muito bom em ser um mentiroso. Depois de algumas latas de água tônica e mais perguntas sendo respondidas de forma inabalável, eles já estavam mais relaxados. Acredito que meu disfarce também colaborou para que eu parecesse com um deles. Usava o casaco e a marca de tênis certos, minhas tatuagens e meu corte de cabelo me faziam ser apontado por qualquer um que não me conhecesse como um igual. Foi então que Ele resolveu se abrir e me contar o porque de ter me chamado para aquela conversa no Café.
- Sabe, precisamos de um homem como você, Leblon.
- Um homem como eu? O que isso quer dizer? – perguntei desconfiado novamente.
- Os tempos estão ruins para nós, nós fomos expulsos da cena e agora toda a coisa é controlada por aqueles rapazes sem nível.
- Entendo, entendo... E no que um garoto branco e bem nascido como eu posso ser útil? – perguntei, sem conseguir conter uma ponta de sarcasmo.
- Nós da CMO estamos tentando tomar de volta o que um dia quase foi nosso – Disse Ele.
- CMO, o que diabos é a CMO? – indaguei mais perdido que um cego no meio de um tiroteio.
- É nossa organização, crew como preferimos chamar, nossa pequena máfia, a Classe Média Orgulhosa. Sim, nós somos os últimos representantes dessa classe quase extinta no nosso meio. Somos nós os únicos que resistimos, os bastiões de tempos passados. E nós precisamos de você!
Então era esse seu plano maléfico? Macacos me mordam! Eu não poderia ver isso vindo, não algo tão estapafúrdio como esse plano.
- Está na hora de dar o troco nos bastardos que se diziam defensores da justiça e que agora controlam tudo. Nada contra o controle, mas não eles, pelo amor do Santo Deus, não caras como eles, os Marrons...
Era pior do que eu pensava, esses caras eram verdadeiros loucos! Essa missão não era para mim, eu devia largar aquilo tudo naquele exato momento e ligar para o hospício o mais rápido possível. Esses caras acreditavam ainda nas palavras “daquele-que-o-nome-não-pode-ser-dito”, o maldito bastardo que tentou uma dia instaurar a “República Style Branca de Nível”, um louco com uma teoria maluca sobre raças e credos. Como poderia haver gente que ainda dá ouvidos a esse tipo de teoria eu me perguntava incessantemente. Tentei argumentar com eles, fazê-los desistir de alguma forma desse plano maluco do cacete. Ou ao menos tentar livrar meu rabo dessa enrascada em que eu havia me metido por puro amor à causa.
- Mas porque logo eu? Onde estão os outros como nós?
- Não existem outros como nós lá. Os poucos que haviam se uniram à Causa.
- E que Causa é essa?
- Punk rock. Me respondeu Ele.
- “Punk rock is just a bunch of niggaz-lovin’ hippies!” – falou pela primeira e única vez o sorumbático Gongôlo.
- Eles estão do outro lado, podiam estar aqui conosco, mas preferiram estar lá com os Marrons. Eles são ainda piores, rapazes e moças de nível, se misturando.
- São os wannabes, não é?! Eu ouvi falar deles, e posso afirmar que não são exclusividade da cena daqui. Eles estão por toda parte pelo que sei – disse eu, tentando mostrar que tinha alguma intimidade com o assunto.
- Isso mesmo! Hoje em dia nosso povo não pode mais andar a vontade pela cena. Nós não somos mais bem vistos, a Causa acabou com toda diversão que nós tínhamos e todos os valores em que acreditávamos foram banidos. O que nós queremos é mandar esses idiotas de volta para onde eles vieram e retomar a cena, entregá-la à boa gente da CMO.
- Ok, ok, mas como vocês pretendem fazer isso? Uma luta até a morte pelo poder? Veja, se nós somos os únicos que restaram isso seria suicídio e...
- Não, nós já pensamos em tudo. Não podemos lutar com eles e nem mesmo a polícia vai estar do nosso lado dessa vez, noss@ agente infiltrad@ também não vem conseguindo grandes resultados, nós vamos fazer a única coisa que nos resta, nossa última cartada, a mais arriscada e que nunca foi tentada.
- O que é homem? Vamos, diga!- Eu estava realmente impaciente com aquela porra toda.
- Nós vamos montar uma banda... Uma banda emo!!!!
Nessa hora eu senti um arrepio percorrer minha espinha, eu sabia que com uma banda emo eles poderiam conquistar novas mentes e acabar com o que foi construído por nós. Eu tinha que pensar e agir rápido, meu tempo estava se esgotando, bem como o da Causa. O que seria de nós se isso se tornasse realidade?!?!?!

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