sexta-feira, abril 04, 2008

cats and dogs have all the luck

O Fun People tem uma música de seu primeiro disco, Anesthesia, chamado "Shaggy, mi querido amigo en peligro", que o Nekro fez para seu cachorro quando soube que ele estava doente. Eu sempre pensei que o dia que a Abigail (ou Biga, como ela preferia atender) ficasse doente eu ia querer ouvir essa música. Não pra sentir dor ou coisa parecida, mas porque é uma letra bonita, fala dessa relação de amizade que a gente desenvolve com animais de estimação e, ora bolas, seria uma homenagem mais que devida a labrador amarelo de mais personalidade e carisma de São Conrado.

Pois bem, o dia chegou hoje. Depois de quinze anos e um tumor estirpado que acabou voltando, a gente enterrou a Biga no jardim da casa de uma amiga da minha mãe. Bem, a gente não, eu não tive coragem de ir. Ao invés disso, sentei no chão da cozinha quando cheguei do trabalho, de madrugada, e fiquei ali algum tempo, me despedindo e comendo passas com ela. Biga adorava passas. E banana, e tudo mais que você oferecesse e fosse vagamente comestível.

Eu sempre fui contra ter animal de estimação (principalmente um do tamanho de um labrador) num apartamento pequeno, não achava legal pra ninguém. A Biga veio de uma fazenda, foi presente do meu tio a minha irmã Manoela, e conservou hábitos muito higiênicos e saudáveis até quando ainda tinha forças pra passear na rua. Sempre fez questão de só fazer suas necessidades no mato, como toda lady que se preza. Até pra sentar a Biga tinha porte e élan, juro pra vocês. Doía muito ver ela deitadinha o tempo todo na cozinha, ganindo de aflição por não conseguir levantar, o corpo já cheio de bolhas (acho que decorrência do tumor) e verruguinhas. Doía tanto que a gente até pensa que foi melhor ela ter ido embora.

A Biga era tipo prefeita aqui de casa. Entrava nos quartos quando queria, sem ser chamada, dando cabeçada nas portas. Acordava a gente quando achava que estava na hora de levantarmos da cama e darmos atenção pra ela. Gostava de parar com a cabeça no nosso peito quando estávamos deitados no sofá vendo tv e se sentia pessoalmente ofendida se a gente não dividisse o que estávamos comendo com ela. Um acinte essa gente que não lhe dava biscoito, queijo, sanduíche, chocolate, chiclete (bom, minha irmã mais velha está excluída desse item). Como eu disse, uma cachorra de personalidade. Vai deixar a casa um pouquinho mais vazia e sem graça e muitas saudades guardadas com a gente.

me levantaras como todas las mañanas, te recostaras en los pies de mi cama, desayunaré contigo en mi falda, saidremos hoy de paseo por la plaza/ se que lo harás por mi, se que lo harás por ti/ hoy no esta bien me dijo el veterinario/ la vejez e la muerte son cosas inevitables/ pero por favor shaggy no me dejes hoy/ shaggy mi querido amigo en peligro

4 comentários:

Unknown disse...

Leio esse post em lágrimas. Sou péssima com perdas.
RIP,Biguinha. Vou sentir muita falta de fazer minhas refeições sem a cabecinha dela apoiada no meu colo.

M disse...

Poxa,
meus pêsames..


Sério mesmo..

Deve ser péssimo perder uma amiga de tanto tempo.

M.

Dani disse...

Poxa Menezes, chorei lendo este post. Lembrei da minha chinchila e da minha porquinha da índia que perdemos no ano passado...é foda...sinto muito.

E essa letra da música é linda, nos faz lembrar com carinho deles.

Bia Bonduki disse...

tsc. perder um bichinho é sempre uma grande dor. por isso organizei um coral com meus bichinhos falecidos - a saber: etelvina, brenda, clementina, rosalino e uns 87234 peixes - para receber bem a biga no céu deles.