segunda-feira, janeiro 14, 2008

Fashion Rio: Eu fui!

"Num esforço antroposociológico me despedi da sociedade como a conhecemos para me embrenhar na savana moderna do mundo da moda há 12 dias atrás. Foi, sem dúvida alguma, uma jornada árdua, de horas embaixo de sol abrasador, sofrendo os efeitos do calor inclemente e do hype obtuso. O objetivo desse repórter era se misturar a fauna local o quanto seu senso de ridículo permitisse; não sei ao certo se minhas metas foram atingidas a contento, mas posso afirmar desde já que não sou o mesmo homem que partiu de casa no dia 4 de janeiro do corrente ano. A inocência de minh'alma foi dilacerada pelas garras do mundinho e o que meus olhos testemunharam queimarão para sempre em minha retina. O horror, o horror..."
- trecho retirado de documento apócrifo encontrado nos escombros de um blog pouco conhecido, 2007.

Para início de conversa escapa da minha mente a lógica de vestir um bando de meninas de 15 anos visivelmente desnutridas com pesados casacos, botas, camadas e mais camadas de tecido e fazer com que elas desfilem a luz do dia, numa temperatura de 40 graus. Ok, algum idiota da obviedade pode afirmar que é necessário essa inversão entre as estações e suas vestimentas apropriadas para que se consiga entender e produzir o que a plebe ignara usará e consumirá chamando de tendência na segunda metade do ano. Beleza, mas na boa, verão ou inverno, primavera ou outono, quem é que usa essas roupas sem ter comido meio quilo de cocô e batido a cabeça na parede três vezes?

Outro coisa que me impressionou foi a quantidade vagabundos de todas os tipos, idades e sexos que existe por aqui. Duas da tarde de uma terça-feira e haviam, molinho, umas quatrocentas pessoas vagando de lá pra cá na Marina da Glória. Você já foi a Marina da Glória? Bom, não é o tipo de lugar que você pode dar um pulinho ali do Centro na hora do almoço assim como quem não quer nada. Ou seja, quem foi não trabalha, é desocupado. Ou então é estudante de moda, o que não muda muito, é só alguém que está estudando pra se tornar um desocupado profissional. Some-se às desocupadas/madames e aos estudantes de moda/vagabundos alguns modelos, alguns jornalistas (não falei que tinha vagabundo de tudo quanto era tipo por lá?) e uma raça denominada stylists (pronuncia-se xtáilixtchi ou fresco) e você tem aí toda a fauna reinante do evento de moda. Na tentativa de ajudá-los no reconhecimento de fauna tão peculiar, reproduzo aqui mais um trecho do documento apócrifo recentemente encontrado por uma equipe de paleontólogos virtuais:

A Modelo, gênero feminino: Os animais dessa espécie são altas, magras e burras. Notoriamente conseguem caminhar com garbo e elegância, mas apenas para a frente, o que pode provocar acidentes fatais caso o desfile aconteça em um penhasco. Se comunicam em um dialeto próprio que mistura poucas palavras a um sotaque piracicabano/porto alegrense e expressões de língua inglesa. Podem ser encontraras nas cores branca, muito branca e cadavéricamente branca, o que leva a acusações de preconceito por parte de integrantes do movimento negro e dos fabricantes de Urucum-Bronze.

O Modelo, gênero masculino: Assim como suas companheiras de espécie, os modelos machos também são altos, magros e burros. Sua prsença é um tanto quanto rara, o que leva alguns estudiosos e zoologistas a tratarem-nos como uma raça ameaçada de extinção (eu propriamente considero esse tipo de conclusão bastante precipitada, já que alguns espécimes parecem gostar de procriarem entre si). O modelo é um animal angustiado pois sofre do mesmo preconceito de um Lulu da Pomerânia, por mais que ele seja macho, todo mundo pensa que ele é viado.

A Jornalista de moda: As jornalistas de moda são uma espécie sem graça, sem vergonha e sem um homem de verdade pra chamar de seu, por isso ficam criticando a roupa e a bunda de gente mais rica, mais nova e mais bonita que elas. Os animais dessa espécie podem ser divididos em duas classes: Os lilianpacces e as erikapalominos. Indentificá-los é muito fácil, quem não for lilianpacce, com certeza é a Érika Palomino. Tome cuidado com essa espécie, suas presas possuem peçonha e recalque suficiente para matar de raiva um elefante adulto (que - baaafo! - estava e-nor-me de gordo e cheio de celulites no desfile da colcci).

O Estudante de moda: O estudante de moda está no nível mais baixo da cadeia animal do mundo da moda. Todo mundo caga na cabeça e trata mal o estudante de moda. Existem duas classes dentro da espécie: As filhas de rico, que estudam moda por iniciativa dos pais para ver se entendem quanto custa aquele Oscar de La Renta que elas compraram com o cartão de crédito anteontem meio de impulso, e os Fashion Pobres. O estudante de moda fashion pobre decidiu fazer um curso técnico porque queria customizar as roupas que ele comprava no crediário da C&A e não sabia como. A mãe incentivou o estudante de moda fashion pobre porque trancado numa sala costurando ele se livrava da surra diária dos seus colegas de rua. Ambos os tipinhos vieram ao mundo da moda a passeio e só querem penetrar nos desfiles.

O Stylist: O stylist é um animal (!). Esse espécime, tal qual o pavão, é um bicho misterioso, vaidoso e cheio de nove horas. É também um adepto da camuflagem e dos truques (que eles chamam de trucagem) que visam confundir os demais bichos da fauna fashion. Você nunca sabe se ele apareceu vestido daquele jeito a sério, para zoar com a sua cara ou se apenas saiu de um baile à fantasia direto pro desfile. Os stylists são também conhecidos por seu temperamento irrascível, suas referências modernas e sua capacidade de se dar bem sem fazer esforço.

3 comentários:

Unknown disse...

ahhaahahah!
excelente Menezes!!

V.S. disse...

eu não entendo muito de moda mas vejo direto o gnt féxio por causa da patroa (ela que comanda o controle, lamentável...)

você assistiu que eu corro com a camisa do Rivets na praia. que beleeeeza!

Háaaaaaaaaaa!

Menezes, o cretino disse...

Porra, mas eu achei isso lindo! Como diz um amigo meu que toca no B.U.S.H., "se aqui fosse a América, o Rio seria LA!". E eu completo dizendo "e ver o Vitão correndo na praia seria tipo esbarrar com o Lee Ving fazendo cooper". Foi a coisa mais maneira que eu vi hoje em todo meu dia.