segunda-feira, janeiro 28, 2008

Segura a marimba - eu e o carnaval II

Existem coisas que só acontecem com o Botafogo. O velho dito futebolístico é verdadeiro, apesar de que eu já cheguei a acreditar que haviam coisas que só aconteciam comigo E com o Botafogo. Percebi pouco tempo depois que as coisas que teoricamente ocorriam apenas comigo eram consequência direta da minha incapacidade de fazer boas escolhas, escolhas sensatas. Por exemplo, no início de 98, eu achei por bem pedir de aniversário uma passagem de avião para a Bahia de Todos os Santos. Sim, nesse ano também meu aniversário cairia no meio da folia momesca, o que em se tratando da festa soteropolitana não quer dizer muita coisa. Até que faz anos lá em setembro sofre do mesmo infortúnio.

Nessa época eu estava tentando "coisas diferentes". Me achava muito sem graça, não curtia porra nenhuma, almoçava todo santo dia o mesmo prato. Ir para um lugar que eu não tinha a menor vontade de conhecer, comemorar uma festa que eu nunca gostei e passar meu aniversário longe de todos com quem eu tinha intimidade, então, me parecia a solução ideal para acabar de uma vez por todas com meu casulo existencial. Pena que tem coisas que a gente só percebe a burrada que é muitos anos depois, não? Enfim, convencido por minha mãe que havia dito que "o sobrinho de uma prima tinha ido e adorado" embarquei num avião da Varig e pousei no aeroporto de Salvador.

Ah é, tenho que dizer que fui recebido e muito bem tratado por uma prima da minha mãe e seus filhos. Apesar de desconfiar que eles acharam minha dieta, meu gosto musical, minhas piadas, minhas roupas, meu comportamento e minha têz branca como um palmito um pouquinho estranhas. Mas, bem, parte da família mais distante, sem muita intimidade, acharam por bem sorrir e fingir que adoraram o hóspede. Minha prima baiana era bailarina e namorava um rapaz que tocava numa banda de axé. Oh que máximo, ela poderia me arrumar um abadá prum trio-elétrico quase de graça! Em todos meus outros 27 anos de vida eu certamente teria dito "não, obrigado!", mas como expliquei, em 98 estava tentando novas emoções. Lá fui eu, circuito Barra-Ondina bombando, a massa festeira e eu no meio pensando muito sobre minha posição no universo, sobre o processo de escolha de um indivíduo, sobre se era mesmo verdade que a racionalidade era uma característica humana.

Vocês já passaram um carnaval num trio-elétrico na Bahia? Pra quem não foi, o negócio funciona mais ou menos assim: Você vai andando dentro de um cercadinho ambulante protegido por seguranças, ao redor existe um mar de gente pulando e dançando muito mais animado que você, todo mundo menos você se pega e se beija, e a banda toca todas as músicas ruins que existem na face da Terra por horas e mais horas a fio. A banda do meu trio era o Jeremias Não Bate Córner (e o namorado da minha prima era o percussionista), mas não o Jeremias Não Bater Córner original, o clássico. Como me foi explicado lá, eram comum o líder e dono da banda criar um novo nome para aquela formação e entregar o nome antigo pra um grupo novo. De modos que, no final, ele acabava com um nome conhecido e uma formação conhecida. Great sucess, geniais os empresários do entretenimento soteropolitano!

Fiz o tal circuito da Barra-Ondina pela metade e consumido pelo tédio decidi voltar pra casa onde estávamos. Terminei minha primeira e única noite de folia baiana da mesma forma que encerrava todas as minhas noites carnavalescas aqui no Rio, na cama vendo o baile do Scalla na tv e tocando punheta ( Sobe BG - "Não dá mais pra aguentar essa vida ruim!"). E isso que me haviam dito que pelo simples fato de ter vindo do Rio eu ia me cansar de pegar mulher por lá. Mermão, nem que eu tivesse ido fantasiado de Zé Carioca eu arrumava um beijinho! O máximo de atenção que obtive por lá foi do atendente de um Subway que ficava escondido num posto de gasolina (e tenho fortes desconfianças de que eu era o único frequentador). Sem nada que me apatecesse na culinária local, ia dia sim outro também na lanchonete e fazia o mesmo pedido. Certa vez ao entrar, o cara me olhou e falou "já sei, o senhor quer um sanduíche vegetariano e uma coca". Juro, escorreu uma lágrima. Na verdade duas (uma de cada olho), pela atenção e pela constatação da mediocridade de minha existência (sobe BG novamente "Não dá mais pra aguentar..."/ lettering - FIM).

5 comentários:

M disse...

eu sei como é isso


tive qse a mesma experiencia...
mas no ano novo..
e nao no carnaval..

(na bahia nao faz diferenca que dia que é... sempre vai ta um inferno)

M. disse...

e eu tive uma parecida aí no carnaval do rio, nos malditos blocos de rua...
o ponto alto da viagem foi o ar-condicionado.

Bia Bonduki disse...

em 98, o meu sonho era passar o carnaval pegando sífilis em ouro preto. nunca fui tão grata por minha mãe ter se intrometido e proibido a viagem.
obrigada pelas gargalhadas, menezes!

Pedro Carvalho disse...

Poderia ser pior, você poderia ter se divertido.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.