quinta-feira, outubro 18, 2007

Cortez, o personagem mais chato de todos os tempos

Cortez passa os dias sentado no escuro, esperando que uma luza venha à cabeça de outro e lhe diga o que fazer. Ele foi asim batizado em homenagem a uma música do Neil Young que seu criador nunca ouviu, mas gostou do título, achou poderoso. Mas esse Cortez não é um assassino, não é nem mesmo um roqueiro folk norte-americano. Esse Cortez aqui é só um personagem sem muita profundidade criado às pressas por um autor preguiçoso e sem saco para extender-se em descrições minuciosas do perfil humano. Até aí foda-se, Cortez não liga. Na verdade, Cortez não sabe, e está mais ou menos feliz com sua vidinha de ser meio vivo esperando para acontencer. Ele fica ali sentado no escuro, anda pra lá, anda pra cá, senta, estica as pernas e cola o queixo no peito. Fica só esperando esse porra aí ter uma idéia e ele botar pra quebrar.

Apesar de não ter consciência de sua falta de profundidade literária, da ausência de um perfil mais elaborado, Cortez desconfia de que falta alguma coisa a ele, algum mote dramático que impulsione sua carreira de personagem fictício. Desconfia não, ele tem certeza! Olha para um lado, para o outro, nada de especial. Tira a camisa, tira as calças, se admira nu no espelho, nada de especial. Pensa em antigas namorados, em alguns amigos, certos acontecimentos... Nada! Puta merda, com tanto lugar para nascer, Cortez foi logo aparecer na cabeça desse autorzinho de merda?! Se ele ainda vivesse num blog mais movimentando, mais popular, quem sabe? Talvez os comentários incentivassem alguma estória, algum fato corriqueiro recheado de ironia social para ele estrelar.

Quando começa a pensar muito, Cortez fica deprimido. Se vê um fracassado completo e quer chorar a fatalidade, mas nem sabe bem como e nem vê muito porquê. Ele fica com raiva, mas uma raiva meio resignada que está mais para uma indignação conformada, e amaldiçoa sua sorte. Se descobre um merda, mas não pode deixar de pensar que se ao menos fosse um desses merdas criados pelo Rubem Fonseca, aquele tipo de perdedor que tem no sexo a redenção de sua existência, tudo seria bem mais bacana. Mas não é, é plenamente medíocre, e o que é pior, sem nenhum viés heróico e/ou poético nisso. Ah, se Cortez ainda fosse um daqueles malditos escritos por Bukowski ou John Fante, sem redenção, mas com uma aura meio santa, com um sentido meio nobre no meio de tanta sujeira e revés. Não é. Cortez não serve nem como alegoria, alter-ego ou crítica a qualquer coisa que seja. Cortez é só um personagem chato, ruim, criado por impulso sem muita razão e que agora seu autor não sabe o que fazer com ele.

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