segunda-feira, outubro 01, 2007

Ou uma coisa ou outra

Estão os dois ali, deitados, os corpos nus resfolegantes se recuperando de um orgasmo arrebatador. Você vira-se de lado e encara a mulher deitada na cama: Linda, gostosa, um sorriso genuinamente feliz nos lábios rosados. Um linha de suor escorre pelas tempôras molhando uma mecha de seus cabelos naturalmente loiros, ela dá uma risada. Uau, que mulher! Ela tem presença de espírito, é divertida, consegue fazer você rir, possui braços e coxas firmes como de uma acrobata, olhos azuis faiscantes e um par de seios que poderiam te obrigar a cometer loucuras. A pele bronzeada dela contrasta com a brancura da sua e ela parece se entreter comparado a diferença de tonalidade entre suas barrigas, "Nossa, aqui você é ainda mais branco!". Lá fora está frio, cinco e meia da tarde de um dia de semana preguiçoso. Dá tempo para um cochilo antes de saírem para jantar num restaurante em que ela te convidou e que todos atestam ser divino. Deitado ali você pensa que nada poderia ser mais perfeito que aquele momento. Talvez seja isso, talvez seja ela a mulher ideal. Você está quase completamente convencido disso e resolve arriscar, fazer alguma pergunta para que ela apenas comprove sua perfeição e superioridade sobre todo o gênero feminino. Você olha para ela, acaricia o dorso subindo da inacreditável bunda à nuca que se ouriça em sua leve penugem dourada.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro, gostoso. O que você quer saber?
- O que você pensa, sei lá, do nazismo? - Não foi das mais apropriadas, mas foi a pergunta mais ridiculamente fácil que você pensou afim de confirmar que aquela ali é sua alma gêmea. E olha que até dois dias atrás você nem acreditava numa besteira dessas.
- Hehehe, que pergunta!
- É boba, eu sei. Eu sou bobo... Mas o que você acha?
- Ah, não tenho opinião formada.
- Como assim, gatinha?
- É, não tenho. Não sei se eu acho bom, se eu acho ruim.
- Não, peraí, como assim? Nazismo, você sabe o que é?
- Sei, gato. Claro!
- Pô, então como você não tem uma opinião formada sobre um dos maiores massacres da história contemporânea?
- Ah, sei lá... Acho que cada um tem o que merece!
- O que?! Você... você tem algo contra judeus?!
- Acho que tenho.
- ACHA?!?!?!
- É, acho não, tenho sim! Sou meio rascista!
- O que... como assim?
- Ah, judeu, crioulo, china, turco... Sei lá, só não gosto!
- Você sabia que minha avó é judia? E o Seu Edevair, ele é negro. Você não gosta dele?

É tão absurdo e imprevisto que só pode ser real. Seu choque e incredulidade cavalgam numa espiral de non sense ao compasso das respostas que aquela mulher te dá com o mais angelical dos sorrisos no rosto. Impressionante como uma opinião pode mudar todo o conceito de perfeição, como certezas podem ruir diante à ignorância de quem nos impressionou até ali. Aquilo tem as consequências de um abalo císmico na sua tarde e no seu futuro, um soco nas costelas do romantismo e da imaginação. Como isso foi acontec... Ela te beija. Enfia a língua na sua boca, enquanto as mãos suaves alisam seu peitoral, a barriga, descendo, descendo. Ela se vira de lado, ficando de costas pra você e fala "Me esquenta, tô com frio!". Você obedece. O nazismo, o rascismo, toda ignorância e ódio disfarçados em ingenuidade e aquela bunda perfeita pousando suave sobre seu pau. Puta merda, não se pode querer tudo.

4 comentários:

Sofia Florence disse...

menezes, escreve uns contos eróticos logo! hahaah

Menezes, o cretino disse...

O sexo é totalmente acessório nesse conto, Sofia! Você tem que sacar a mensagem mais profunda sob toda essa escrita erótica, hahahaha!

Unknown disse...

acho q eu conheço essa mulher...

Sofia Florence disse...

Pô, a gente conversou já sobre o conto..eu entendi.
Tô falando que cê tinha que escrever uns contos eróticos pra ganhar uma grana.