segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Indagações pedestres

Não tendo carro e sendo obrigado a me virar para vencer os dois túneis que me isolam nessa ilha esquecida por deus que é o bairro de São Conrado, algumas características acerca desse costume moderno de nos locomovermos motorizados não poderiam deixar de me vir à mente toda vez que ponho os pés pra fora de casa. Segue abaixo uma lista de coisas que me ajudam a matar o tempo e sempre despertam minha curiosidade enquanto cruzo essa cidade e pereço em engarrafamentos homéricos.

1 Por que a pessoa que não senta no corredor do ônibus está sempre com frio não interessando o quão fustigante esteja sol ou que horas seja, deixando então a porra da janela completamente fechada, o que impede que você, pessoa normal que sente calor no verão, não tome aquela brisa refrescante misturada com monóxido de carbono no rosto?

2 Por que motoristas e cobradores de van, esses físicos amadores, estão toda hora querendo provar a falha a lei da impenetrabilidade, aquela que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo? E por que, empiristas que só, eles tentam provar sua tese enfiando o maior número de gente possível no menor espaço cabível justamente da van em que você está? E mais, por que tem gente que aceita, sendo que devem existir facilmente cinco vans pra cada pessoa aqui nessa cidade?

3 Por que nossos amigos que possuem carro são justamente aqueles que também possuem uma política comportamental muito particular, o que inclui o ato de dar caronas aos outros? Eu nunca conheci um cara de carro que fosse gente boa e desprendido o suficiente para dirigir alguns quilômetros a mais e facilitar a vida dos camaradas mais pobres e necessitados. Acho que guerra de classes é mais ou menos isso aí, né?

4 Por que todo maldito taxista lança aquele farol alto nos seus olhos te cegando temporariamente, apenas para deixar claro que ele é um táxi e, se você tiver afim, ele te leva pra casa? Será que eles pensam que essa merda de farol é de alguma forma hipnotizante, e que bastam duas piscadelas para as pessoas paradas na calçada se convencerem a pagar caro numa corrida de táxi? Ou será que eles imaginam que nós esquecemos o que estamos fazendo ali parados, então usam a piscada como uma forma de nos trazer de volta à realidade. "Podes crer, tô esperando um táxi! Ai, se ele não joga um farol alto na minha cara, era capaz de eu ficar aqui a vida toda sem saber o por quê!"

5 E por que, não contente em deixar você cego, o taxista ainda passa mais devagar e pára na sua frente, olhando pra sua cara como se VOCÊ estivesse esquecido alguma coisa? O que é aquilo, eu sempre fico pensando "será que ele me confundiu com um amigo dele? Será que ele quer informações ou vai perguntar se eu curto Deep Purple?". Talvez eles pensem que nós estamos ali parados à toa, apenas a espera de uma boa aventura ou de um taxista confiável que apareça para você embarcar sem destino, o que pintar primeiro.

6 E, finalmente, por que o governo daqui não constrói um metrô decente e não um cujo o percurso seja quase uma linha reta? Sério, e eles ainda vem com aquele papo de "metrô na superfície". Porra, se é na superfície não é metrô! E eles acham que a gente não sabe que aquilo ali é, na verdade, um ônibus? Do jeito que a coisa vai, eles vão instalar uns rikshás em Ipanema e botar uns chinezinhos pra puxar a gente até a Barra dizendo que, agora sim, o metrô atende toda a Zona Sul!

6 comentários:

M disse...

Devo dizer que o item 5 e validississississississimo...


Alguem avisa o mundo que metro na superficie e na verdade um onibus como outro qualquer!!!!!


Mas assim, tenho que ressaltar que:
ainda acho que o metro no rio e pura lenda, que na verdade para ir pra zona norte no carnaval, houve uma lavagem cerebral em mim e nas minhas amigas, e a gente ACHOU q pegou o metro, porem...nem tanto...
E eu tenho a prova!!!!! Onde ja se viu celular pegar no metro????

ha!

Unknown disse...

tô chorando de rir! ahahahahah
mto bom Menezes!

Unknown disse...

cara, tive q voltar aqui pra dizer mais uma coisa, esse parágrafo dos amigos motorizados q negam carona é incrivelmente genial! Mesmo.
Eu q já tive carro um dia, ia às vezes, totalemnte contra o meu caminho pra deixar um amigo, uma amiga em casa, e depois q fiquei a pé e de van, nunca mais, repito, nunca mais, tive um amigo ( com exceção do nosso amigo Lins q sempre me deixa em casa quando peço eheh!) q mudasse sua rota pra me deixar em casa, o q é mto esquisito e me faz ter a certeza ABSOLUTA q sou um ser humano mto mais evoluído e desprendido q a grande maioria!E, claro, no dia q tiver um carro de novo, negarei sem dó carona a todos q um dia me negaram. ou não, darei carona pra verem o tamanho da sua pequenice. abs!

Menezes, o cretino disse...

Guga, sabe aquele momento na vida em que uma frase, um gesto nos conecta num nível mais profundo com um colega ser humano? Então, brother, senti isso agora. Eu tenho o mesmo histórico de ser um ex-motorista e, mais importante, o mesmo desejo de vingança de todos os caras que não me deram carona e a certeza de que eu sou foda e eles não, hahahahahaahah!

Toca aqui, cara.

Unknown disse...

ahahahhaahhahah!
sei exatamente, isso acontece muitas vezes q entro aqui, não por acaso o ÚNICO blog q eu venho diariamente conferir e recomendo até para as amigas!;)
e cara, ouve essa, na vida existem dois tipos de pessoas:as q dirigem e as q pegam carona. No nosso caso, pessoas desprendidas e generosas q somos, dirigimos, mesmo sem ter um carro, sacou?

o/\o
( uma ilustração frustrada pro toca aí1)

Bia Bonduki disse...

putamerda, a parte da carona. tenho amigos ótimos, não posso reclamar. mas fico louca quando neguinho fala "posso te largar em tal lugar?", onde "tal lugar" é menos de um ponto de ônibus de distância, mas o suficiente prá te irritar. já que tá levando, que que custa?