terça-feira, setembro 25, 2007

Everybody swing to the right!

Em decisão inédita e consensual entre a União, o governo do estado e a prefeitura, o Rio de Janeiro passa a ser a primeira cidade brasileira a ter o comércio de drogas legalizado no país. A cidade servirá de laboratório para testar a legalização no estado e, posteriormente, no país. Em uma solenidade realizada ontem no Palácio do Planalto, o Presidente Lula, o governador Sérgio Cabral, o Cabralzinho e César "Beleza Pura" Maia assinaram a concessão de exploração de entorpecentes pelas redes de farmárcias Farmais e Drogarias Max, além de uma revolucionária estratégia de venda via bancas de jornal. Muito entusiasmado, César Maia declarou que a cidade sempre teve vocação para novidade. "É um salto rumo ao futuro. Seremos uma Nova Holanda", completou Cabralzinho, esquecendo-se que Nova Holanda é uma das favelas mais perigosas do estado que ele governa.

Trecho retirado de uma propaganda institucional do governo - 'Em apenas dois meses, o projeto do governo do estado baseado numa pesquisa da Fundação Getúlio Vargas que financiou a ida de uma equipe de sociólogos para Zurique, Amsterdã e Berlin com dinheiro da CPMF, concluiu que a razão de toda violência na cidade do Rio de Janeiro era a compra e venda de trouxinhas de maconha, sacolés de cocaína e pedras de crack. Sendo assim, uma divisão de inteligência da PM coordenada por nosso bravo ex-capitão do BOPE - que hoje em dia dá assessoria até pra partida de dominó - se uniu a equipe de sociólogos patrocinados pela FGV e a um conselho de notáveis cariocas, como Regina Casé, Falcão do Rappa, a rapaziada da Conspiração e o presidente da ONG Viva Rio. O grupo chegou a uma brilhante e inédita conclusão: O tráfico é a razão de todos os males do país. Portanto, com a cidade do Rio de Janeiro não poderia ser diferente. A execução foi mais complexa do que parece, mas com o apoio do Presidente Lula e da administração do Prefeito César Maia, nós tiramos as drogas das bocas de fumo e levamos para os pontos nobres da zona sul.

Com um time desses no comando, o resultado não poderia ter sido mais positivo. O fim do tráfico não só trouxe paz e harmonia para as favelas e o asfalto cariocas, como reaqueceu a indústria farmacêutica, aumentou as vendas do varejo, elevou a renda e criou duzentos milhões de empregos. O traficante B.T.V, de 12 anos, é um exemplo: "Eu ficava na boca o dia inteiro, dava tiro nos PM, pagava o arrego todo fim do dia e não lia, não estudava. Não tinha futuro, né? Com o fim do tráfico eu pude finalmente voltar a estudar de segunda a quarta no CIEP de um município próximo e agora tenho certeza que vou realizar meu sonho. Vou ser gari, tio!". Esse aí tá com a vida que pediu a Deus, não é verdade? Mas não é só ele, vejam o que disse o gerente da Farmais do Baixo Gávea: "Nossa, as vendas aqui aumentaram muito! Assim, acho que de dia o pessoal fica mais tímido, né? Mas quando anoitece, tem até fila! Coisa de louco...". Literalmente, meu amigo! Já um outro famoso roqueiro que prefere manter o anonimato elogia a iniciativa: "Cara, acho cômodo poder ir ali na farmácia da esquina e comprar. Tá certo que aqui no Leblon onde eu moro, a única diferença foi que agora eu ando dois quarteirões a mais pra achar cocaína." O Rio de Janeiro brilha. Obrigado, Cabralzinho!'

Mas nem tudo são flores nesse ousado passo rumo a legalização geral e irrestrita no país. Algumas vozes dissidentes se fazem ecoar no meio do oba-oba. Um experimentado dono de bancas de jornal reclama do novo produto: "Ah, isso foi a maior furada que eu me meti. Droga ninguém mais compra, né? Agora a garotada dá download em tudo, não quer pagar por mais nada. Eu estou vendo um jeito de vender maconha encartada em revista, tentar umas parcerias pra ver se a coisa não morre. Mas tá brabo...". Moradores da Tijuca e do Meiér reclamam de discriminação, já que ficaram de fora do programa 'Na Farmácia é um barato!', que privilegiou apenas o público da zona sul num primeiro momento. "Tijuca é praticamente zona sul, pô! Além do mais, agora eu preciso pegar dois ônibus pra voltar pra casa com 20 gramas de maconha. É muito preconceito!", diz um viciado que mora longe. A assessoria de imprensa do programa disse que é preciso calma, que todos os bairros serão beneficiados com a venda de drogas, mas que eles "não têm culpa se negozinho mora mal".

Parlamentares de oposição, caretões e corta onda protestaram tanto no Senado quanto na Alerj contra os partidos da base governista, dizendo que a iniciativa tinha caráter eleitoreiro. É de conhecimento geral que maconheiros, cheiradores e fumadores de crack formam um grupo de opinião política extremamente forte e influente. Houveram também passeatas de alguns setores dissidentes da classe artística e da UNE devido a insinuações de que eles, afinal, eram quem realmente sustentavam a violência na cidade. A galera aproveitou pra reclamar também que a maconha era amônia pura e que o pó tava malhadão. "Esse governo, né? É foda..." disse uma ex-frequentadora das casinhas da PUC, ex-frequentadora do Posto 9 e ex-frequentadora do Coqueirão de Ipanema.

Quanto ao fato de, apesar do fim da violência, do estabelecimento da paz e da harmonia na cidade e de tudo de perfeito advindo com a legalização das drogas, a PM e o BOPE continuarem existindo, subindo as favelas e fazendo blitzes, o governo preferiu não dar nenhuma declaração.




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