quarta-feira, setembro 19, 2007

Tá doido o bagulho lá na rua

Vida de merda é foda, mano! Tem jeito não, se tu nasceu fodido, vai morrer fodido. Eu nunca tive oportunidade, desde moleque sabia que ia penar. Isso sempre me deu um ódio filha da puta das coisas. Ódio de quem tem mais que eu, de quem tem o que eu não tive. Vagabundo nasce assim, eu acho. O meio só ajuda a piorar. Muita miséria, fome, muita treta. Tu sabe que não tem saída, mas tu cata ela mesmo assim.

Comecei a catar minha saída daquela porra com uns nove anos. Ia pro Centro e batia carteira dos executivos, dava um ganho nos playboyzinhos saindo do colégio e pedia dinheiro pra comer. Agora, dinheiro pra comer ninguém quer dar, né? Querem que tu se foda! Daí tu faz seus corres, né? Não dá pra morrer de fome e não dá pra só sobreviver. Tua ia querer isso pra tu? Duvido!

Como a vida não é só comer, tu cresce e teus desejos crescem junto. Chega uma hora que a lata de cola não desbaratina como deve e ficar entrando e saindo de FEBEM também é foda. Muita porrada, muita treta. Os estupros quando tu é novo no pedaço, só as covardias mesmo. Quem é que quer essa porra pra vida? Isso só aumenta o ódio da gente, mas eles tão pouco se fudendo.

Falam que o crime não compensa. Não compensa é o caralho, papo de arrombado viado! Ja fiz muita putaria, muita farinha, muita mulher. Quem dá essas chances pra um fodido é só o crime. Aposto que se fosse contigo tu ia pensar igual. Mas se depois de um tempo a gente não morre, fica fodido de novo. Malandro não tem aposentadoria, né? A farinha acaba, a mulherada vai embora e só sobra a pinga. Tô com essa perna toda estourada, aqui atrás tem um projétil, sabia? Me fudeu essa porra, não dá pra correr, dói até pra andar. Aí acabei tendo que pedir novamente. Pedir depois de velho.

O mundão roda e a gente roda o mundão, daí foi assim que eu caí aqui. Vizinhança tranquilona, uns velhos aposentados, uns casais com filho pequeno e uns nóia que ficam zanzando. Isso tem em tudo quanto é lugar agora, né? Nego faz cara feia pra tu, não importa a idade. Mas pior que os que fazem cara feia, são os que tem nojo de tu. Pagam de bonzinho, dão dinheiro, mas não olham na sua cara, acham que a gente quer a merda da esmola deles.

Aqui na rua tem um assim. Um coxinha de merda, saindo de terninho e pasta de executivo cedo todo dia, saca? O cara me olhava com nojo, isso me queimava por dentro. Passava, abanava o jornal dele na minha direção... Tá pensando que eu sou cachorro, porra? E ainda jogava moeda. Filho da puta viado do caralho. Ele passava e ia pra empresa dele, tinha cara de ser patrão. Uma moeda de dez centavos, acertou meu olho e ele riu. Aposto que riu de mim.

Ontem eu tava muito louco, tomei umas pingas... Vou fazer o que? Comida ninguém dá mesmo e quando dá é umas merdas azedas, que nem pro cachorro deles eles tem coragem de botar. Muito doido que eu tava, daí vejo o coxinha voltando. Pastinha de executivo, de terno, andando apressado pra casa. Não sei o que me deu ali naquela hora, mas me subiu um ódio dessa vida que eu quebrei a garrafa de pinga no chão e nem pensei duas vezes, cravei nas costelas dele. O cara nem teve tempo de gemer, já caiu morto. E foi isso que aconteceu, doutor. Matei o cara, fui eu sim!... Posso ir agora, tu me libera? a cabeça tá doendo muito, essas porradas, tudo sangrando. Boca, testa, os braços, as costas, devem ter quebrado umas costelas com os chutes. Deixa eu ir, doutor. Por favor, já confessei... Que isso doutor?! Deixa eu ir, o senhor prometeu... Porra doutor, faz isso comigo, não... Caralho...

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